XIV

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. Aos poucos Rodolffo foi retirando a medicação que mantinha Juliette a dormir.

Hoje ia ver os estragos que o acidente causou.  Embora ele estivesse confiante, só poderia ter a certeza quando ela acordasse.

Sentado a seu lado, fazia festinhas no seu rosto e segurava a sua mão.  Esgotado psicológica e fisicamente, deitou a cabeça ao lado dela.

Cochilou, mas logo despertou com uma mão afagando os seus cabelos.

- Ju!  Finalmente.

- O que aconteceu?

- Não te lembras?

- Lembro-me que estava a chegar à faculdade.

- Sofreste um acidente.   Alguém foi contra ti.

Ela sentiu um ligeiro desconforto na cabeça e levou a mão.

- O que tenho na cabeça?

- Tiveste uma fractura e também não braço.  Tens dores?

- Não.  Só um aperto.  Quem me operou?

- Fui eu.

- Estás com ar cansado. 

- Estive sempre contigo.

- Vai descansar.   Eu fico bem.

- Não te quero deixar.   Dormi aqui no sofá.

Nos dias seguintes ele fez questão de estar sempre com ela em todas as horas livres.

Hoje ia dar-lhe alta.  Juliette regressava a casa e ele estava triste.

- Porquê essa cara?

- Vais para casa.  Quem vai cuidar de ti?

- Eu mesma.  Ainda tenho uma mão livre.

- Há  coisas difíceis de fazer só com uma mão.

- Tenho o meu pai, Rodolffo, mas aceito se quiseres ir lá ajudar.

- Posso? 

- Sempre que quiseres.

Rodolffo deu-lhe um beijo na  testa e esperou com ela que o pai dela chegasse para a levar.

- Assim que sair, passo lá em casa.

- Se for tarde não vás.   Vai descansar que bem precisas.

- Vou descansar depois de te ver.

Juliette chegou a casa e encontrou Beatriz, uma jovem da idade dela, que o pai contratou para a ajudar nas tarefas básicas.

- Olá Beatriz.   Esta é a Juliette,  minha filha.

- Olá dona Juliette.   Prazer em conhecê-la.

- Muito gosto Beatriz.  Trata-me só por Juliette.

- Está bem.  As suas rápidas melhoras.

- Obrigada.

Beatriz ajudou  Juliette com o banho e a vestir-se.  As duas tinham simpatizado uma com a outra e conversavam alegremente.

No final do dia Rodolffo chegou e Beatriz  foi dispensada.

- Podes ir Beatriz.   Obrigada.   Chegou o meu médico preferido.

Beatriz sorriu e depois de cumprimentar Rodolffo saiu.

- Vês? Tenho a Beatriz, não precisas de te preocupar.

- E se eu quiser preocupar-me?

Terminado o jantar, Orlando recolheu-se ao seu quarto.  Porque já lhe custava subir as escadas, adaptaram uma pequena sala no piso inferior para ser o seu quarto.

- Anda.  Vem para o meu quarto para  não fazermos barulho.   O meu pai já vai dormir aqui mesmo ao lado.

Subiram as escadas e entraram no quarto da Ju.

- Ju.  Eu preciso ir embora.  Já está tarde e precisas descansar.

- Fica comigo.

- O quê?  Dormir aqui?

- Sim. 

- Tens a certeza?

- Tenho.  Há uns meses tive medo, mas hoje não tenho mais. Eu quero-te e se tu ainda me quiseres então vamos tentar.

- Eu quero tanto como lá atrás.   Todo este tempo sonhei com este dia.
Queria ter planeado algo bonito mas contigo tudo se torna bonito.

Queres ser minha namorada?

- Eu quero muito.

Rodolffo debruçou-se sobre ela e beijou-a apaixonadamente.

- Vou dormir contigo, apenas.  Quero que a nossa primeira vez juntos seja especial.  Vou esperar que estejas recuperada.

- Obrigada por seres esse ser tão paciente.  Amo-te. 
Amanhã sais a que horas?

- Tenho que estar no hospital às 8 horas da manhã.   Vai ser o dia todo.

- Mas vens dormir cá?

- Se der eu venho.  Preciso ir a casa. Aqui não tenho roupa.

- Traz alguma para deixar cá.

Juliette dormiu muito bem nessa noite aconchegada no seu peito.

Rodolffo acordou cedo.  Beatriz fazia o café quando ele desceu e Orlando já estava sentado à mesa.

- Bom dia doutor.

- Bom dia.   Só Rodolffo por favor.
Orlando desculpe ter dormido cá.  Eu e Ju estamos namorando.  Espero que nos dê a sua bênção.

- Toda.  Finalmente.   Já não podia ver a tristeza no olhar da minha filha e eu sabia que que era por sua causa.
Sente-se e tome café comigo.

- Obrigado. 
Beatriz, pode preparar uma bandeja para a Ju.  A seguir eu levo.

Conversaram um pouco, Orlando saiu para o trabalho e Rodolffo subiu com o café da Ju.

- Dorminhoca.   Aqui tem o seu café.
É favor comer tudo porque o seu pai confidenciou-me que a menina não come direito.

- O meu pai sabe que dormiste cá?

- Claro que sabe.  E já sabe que namoramos.  Tivemos a sua bênção.

- Preciso ir, Ju.  Acho que vou passar em casa primeiro.   Preciso de um banho e trocar de roupa.
A Beatriz já está lá em baixo, qualquer coisa, chama.

- Tá bom.  Obrigada amor.

- Juízo que esse braço e essa cabecinha ainda não estão curados.
Eu volto assim que puder.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora