XVIII

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Um ano depois.

O meu relacionamento com Rodolffo  seguia tranquilo.  Por vezes tínhamos uns perrengues por causa de ciúmes, mas logo passavam e tudo ficava bem.

Ele vivia pedindo um filho, mas eu queria terminar a faculdade.  Um filho requer muita dedicação e eu tinha receio de que viesse atrapalhar os meus estudos.  Estou a terminar o último ano e ainda não sei qual vai ser o meu futuro.

Era nas aulas práticas que tínhamos que fazer no hospital que eu via as sirigaitas dando em cima do meu marido.  Ficava morta de ciúmes se por acaso ele retribuisse com um sorriso.
Evitava estar no mesmo espaço que ele, mas por vezes não tinha jeito.  

Nem eu nem ele interagimos como casal porque eu não gosto de misturar as coisas.  Pouca gente sabia da nossa relação.

A vida de meu pai também melhorou bastante o que é menos uma preocupação para mim.  Ele e a esposa são dois compinchas legais.  Às vezes eu digo que ela o mima demais, mas ela responde que é feliz assim.

Quando Rodolffo ouve eu dizer isto,  logo rebate.

- Ela mima demais e tu de menos.

Eu para o ver furioso,  amarro o burro e não lhe respondo.  Logo ele vem todo dengoso desdizer o que disse.  Parte das nossas arengas são assim.  Tudo serve para apimentar a relação,  porque tudo termina num sexo gostoso.

O meu sogro apesar de viver connosco sente-se só.  Há dias conversei com ele e insentivei-o a procurar uma parceira.  Mesmo que não seja para partilhar a vida que seja para fazer uns quaisquer programas.  Um baile dançante, uma excursões em comunidade, qualquer coisa que o tire de casa e o faça ser mais activo.

Ele disse que no seu tempo de jovem era um óptimo dançarino, então porque não inscrever-se numa academia de dança.  Ficou de pensar.

Rodolffo achava que eu estava doida ao dar estes conselhos ao pai.

- Nunca ele vai alinhar nisso.  Desde que o conheço era de casa para o banco e vice versa.  Principalmente depois que a minha mãe faleceu.

- Quem sabe.  Ele está muito tempo em casa e parado.

- Se já tivesses feito a minha vontade e lhe desses um neto, ele já estava entretido.

- Não desconverses.  Então eu tenho uma proposta.  Eu tenho um filho, sigo com a minha vida exactamente como ela é hoje e tu abdicas de parte do teu dia para seres pai presente.

- Mas eu serei sempre pai presente.

- Presente no final do teu expediente, quando eu já tiver feito a maior parte das tarefas dele.  Eu digo pai, 24 horas por dia até pelo menos ele ir para o infantário.   Queres abdicar da tua profissão em prol de um filho?

- Sabes que isso não é possível.

- Só para nós mulheres, tudo tem que ser possível.  A divisão da responsabilidade ainda recai muito sobre nós.  Por isso eu só quero um filho quando me sentir disposta totalmente para a maternidade.  Agora ainda não.

- Eu entendo o teu ponto de vista, mas que eu queria, queria!

- Ainda somos novos.  Teremos muito tempo para ter filhos.

- Eu já passei dos trinta.

- Ui!  Meu velhote adorado.
Juliette aproveitou para sentar no colo dele e deu-lhe um beijo nos lábios.

- Podemos ao menos ir fazer um treininho?  Quero que os meus filhos venham perfeitos e saudáveis.

- Treino é sempre bom e recomendo.

- Vai que um dia destes o treino dá certo e o filho vem.

- Rodolffo do céu?  Não me venhas com essas surpresas.  É protecção da cabeça aos pés.

Rodolffo gargalhou alto.  Aquela gargalhada que só ele tem, mas não perdeu oportunidade para se fazer de safado.  Felizmente já estávamos sózinho pois o meu sogro tinha saído e Maria já tinha regressado a sua casa.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora