XIX

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Eu andava muito ansiosa e cansada.

Era a última quinzena de aulas e tinha vários exames em curso.

Estudava até altas horas o que causava muito sono e pouco descanso.

Às vezes Rodolffo chegava de um plantão nocturno, pela madrugada e eu estava de volta dos livros.  Tinha dias de largar o estudo, tomar banho e seguir para a faculdade.

Ele bem tentava dar-me suplementos vitamínicos para que o meu corpo não colapsasse.

Tínhamos algumas discussões por causa do meu descaso com a minha saúde.  Ele tinha razão,  mas eu só queria terminar o ano lectivo e passar nas provas todas.  Não queria por qualquer razão repetir o ano por uma nota menos boa.

Eu estava embrenhada nos meus livros quando ele chegou pela madrugada.   Deu-me um beijo, fez o habitual sermão, tomou banho e foi dormir.

Já estava na minha hora, levantei-me e senti uma ligeira tontura acompanhada de sensação de vómito.  Corri para o banheiro, mas tinha o estômago vazio.  Não tinha jantado nem comido nada desde o almoço anterior.

Fui até à cozinha, preparei uma torrada e um suco de maracujá e ainda um café.  Comi tudo e fiquei bem.
Preparei uma sanduíche de queijo,  uma maçã e segui para as aulas.

Hoje daria tempo de vir almoçar a casa, pois só havia aulas no período da manhã.

A má disposição da madrugada passou.  Devia ser mesmo a falta de alimentação, pensei.

Regressei a tempo de almoçar com Rodolffo.  Quando cheguei, ele já tinha preparado um risoto de cogumelos com um bife e salada.

Dei-lhe um beijo, ele resmungou o costume sobre a minha noite, coisa que eu ignorei e almoçámos em paz.

Arrumei a cozinha e fomos tomar café e descansar na varanda.  Deitei-me no sofá com a cabeça no colo dele e ele foi fazendo festinhas no meu cabelo.
Num instante adormeci.

Bastaram dois afagos no cabelo para ela cair num sono profundo.   Sei que ela anda super cansada.  Estou desejoso para que terminem as aulas e ela possa descansar e tratar da saúde.

Ainda está a ponderar se vai entrar no curso de medicina.  Eu não sei que quero ver ela de novo nesta angústia.   Ela leva as coisas muito a sério.  É muito dedicada e persistente,  mas são muitos anos.  A saúde dela não aguenta.

Vou aceitar o que ela quiser fazer mas não vou incentivar muito.

Peguei nela e fui deitá-la na cama para ficar mais confortável.   Aproveitei para tirar um cochilo abraçado a ela.

Acordei e fui preparar o jantar.  Terminaria quando ela acordasse,  mas não seria tão cedo.  Ela ainda dormia profundamente.
Saí por um momento.  Vou comprar um bolo de chocolate que sei que ela gosta.

Abri os olhos e o quarto estava todo às escuras.  Levantei-me, abri a janela e lá fora já era noite.

Olhei as horas e já eram 18 horas.

- Dormi tanto?

Lembro que estava com Rodolffo na varanda.  Foi ele que me pôs na cama.

Desci à procura dele e não o vi.  Vi que o jantar estava adiantado e subi de novo para tomar banho.

Em baixo de uma àgua quentinha comecei a refletir sobre a nossa trajectória.

"Tenho um marido que qualquer mulher sonha.  Ele só quer um filho, porque não?"

Repentinamente lembrei que já deveria ter menstruado há pelo menos 10 dias.

- Meu Deus, será que aquele mal estar, era por isso?
Preciso fazer um teste para ter a certeza.

Terminei o meu banho e desci.

- Onde tu estavas?  Acordei e tu não estavas.

- Estava lá fora.

- Lá  fora onde?  Tu foste comprar pão, foste na feira, foi?

(Lembrei-me desta cena que terminou num abraço gostoso e num  beijo no peito quentinho, pois Rod tinha estado ao sol)

- Não fui comprar pão, foi algo melhor, mas tu só vês depois.   Dormiste bem?

- Sim.  Muito bem.  E tu descansaste?

- Sim, 2 horas ali agarradinho a ti.

- Gostoso não é?  Dormir agarradinho.

- Antes eu não gostava.

- Não me tinhas.

- Pois é.  Vamos jantar.

Juliette devorou a comida para espanto de Rodolffo que há muito não a via comer assim e ficou de olhos arregalados ao ver o bolo de chocolate coberto de brigadeiro.

- Delícia!

- Quem, eu?

- Também, mas agora era para esta delícia de chocolate.

Antes que ele cortasse a fatia de bolo ela correu para o banheiro e vomitou todo o jantar.

É o que dá comer demais depois de o corpo não estar preparado, pensou ele.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora