IV

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Na véspera do dia combinado, Álvaro voltou a casa de Orlando para indicar qual o cartório onde se iria realizar o casamento.

- Por favor, liberta a minha filha desse compromisso.

- Tens como pagar as promissórias?  É um acordo válido, o dinheiro em troca da liberdade dela.

- Espero até às 11 horas a vossa presença.   Não  pensem em não aparecer.

Juliette sentiu um baque no coração.   Numa tentativa desesperada ligou novamente para Bernardo.   A mesma voz feminina e a mesma resposta.  Nada de chamadas e nada de visitas.

- A senhora, por favor, podia só dar-lhe um recado.  Por favor, é a minha vida em jogo.  Diga ao senhor Doutor que eu caso-me amanhã às 11 horas.  Só isso, eu sou Juliette.

- Pode ficar descansada.  Eu dou esse recado.

No entanto Juliette não ficou descansada.  Chorou o resto do dia e não conseguiu pregar olho em toda a noite.

De manhã, conformada com o seu destino,  tomou um banho e vestiu um vestido qualquer do seu guarda roupa.  Colocou uns sapatos rasos e prendeu o cabelo num rabo de cavalo.

Com as olheiras muito acentuadas, passou apenas um correctivo e deixou de lado qualquer maquilhagem.

O seu pai já a esperava no exterior da casa.  Estava com o semblante carregado e também não conteve as lágrimas ao pensar onde ia entregar a sua menina.

Sentiu-se a pior pessoa do mundo por ter permitido que as consequências dos seus actos caíssem sobre a sua única filha.

Ia dizer alguma coisa, mas Juliette colocou a sua mão na frente dos seus lábios.

- Não digas nada, pai.  Nada do que dissermos vai alterar qualquer coisa.
Vamos enfrentar isto e seguir em frente.

Álvaro e um outro homem de aspecto duvidoso estavam à porta do cartório e sorriu quando Juliette e o pai desceram do carro.

- Bom dia minha noiva e meu sogro.
Vamos despachar logo este assunto.

- Onde é que eu vou morar, depois de casada?  Eu quero ficar com o meu pai.

- Na minha casa, princesa.  Não é como a do teu pai, Mas depois de lhe dares uma boa limpeza ela ficará aceitável.
E o teu pai pode ir lá quando quiser.

Cada vez que olhava para aquele homem,  Juliette sentia náuseas.  Meu Deus como vou viver diáriamente com este homem?

- Quero ver as promissórias do meu pai.

- Aqui estão minha linda.  Não confias em mim?  Álvaro retirou-as do bolso da camisa.

- Não confio em quem usa truques sujos para atingir os objectivos.

- Fala aí com o teu pai que não controla o impulso do jogo.  Quando ele passava as tardes e noites nos casinos aqui do meu amigo, ele não protestou.

- Esse aí é que é o causador disto tudo?  Casas clandestinas para extorquir os mais fracos.  Bandido.

- Vê lá como falas do meu sócio.   Quando chegares a casa eu ensino-te o que é  respeitar as pessoas.

- Ai de ti se tocares num fio de cabelo da minha filha.

- Fazes o quê?  Já a vendeste.  Há  lá pior coisa que isso?

O escrivão veio  chamá-los.  Estava na hora deles.

Depois de conferidos todos os dados, identificadas as testemunhas que no caso eram o pai da Ju e o dono das casas clandestinas, o escrivão passou a ler as condições do matrimónio.

Mediante um sorriso debochado, Álvaro assinou o documento e passou a caneta a Juliette para que ela fizesse o mesmo.

Quando ele se inclinou sobre a mesa para proceder à assinatura ouviu chamar.

Juliette!!!!!

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora