XIII

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Seis meses depois tudo caminhava de igual modo. 

Juliette mergulhou nos estudos e apenas saía de casa para a faculdade ou para se reunir na empresa com o pai.

Comprou um carro e assim evitava a longa espera pelos ónibus. 

O pai estava sempre a alertá-la.  Cuidado, filha.  Precisas de descansar.  Esta noite nem te deitaste que eu vi.

- Tenho muito para estudar.  Depois eu descanso.

Mas nunca descansava.  Perdeu alguns kgs e o seu semblante era de uma pessoa triste.

O pouco contacto com Bernardo era porque ele sempre telefonava.  Nunca mais se encontraram pessoalmente e também nunca mais viu Rodolffo.

Rodolffo tentava saber dela através do pai.  Após a última conversa decidiu esperar que ela tomasse a iniciativa de se aproximar o que não aconteceu.
Deixou rolar e foi aceitando que ela não queria ter nada com ele.  Durante estes seis meses teve uns afaires mas após a primeira saída descartava logo a moça.

Por muito que não quisesse, ele sempre fazia comparações delas com Juliette e apesar dela não querer nada com ele, ele continuava apaixonado.

Juliette deitou-se tarde.  Era mais uma noite de estudo e foi dormir quando sentiu os olhos arderam de tanto fixar letras.
Já era madrugada.   Tinha 3 horas até se levantar para a faculdade.

Adormeceu rapidamente e sonhou com ele o tempo todo.
No sonho, ela estendia o braço e chamava, mas ele começou a afastar-se até desaparecer por completo.  Sentiu-se a cair num precipício e entretanto acordou assustada.

A cabeça parecia querer estalar.  Levantou-se e foi em direcção ao banheiro.  Sentou-se no chão e deixou a àgua cair sobre a cabeça e as lágrimas rolar pela face.

Terminou de se arrumar, tomou um café e pegou numa maçã.
Entrou no carro e dirigiu até à faculdade.

No momento em que estacionava, um carro desgovernado descia a rua e veio embater directamente contra a porta do lado dela, fazendo o carro capotar.

Juliette sentiu o embate e não sentiu mais nada.

Uns alunos que acabavam de chegar, tentaram socorrê-la mas ela estava encarcerada na carroçaria do carro.  Não era possível movê-la e também estava desacordada.

O pronto socorro chegou rápido.  Tiveram que usar uma máquina para cortar o metal que a prendia no interior do veículo.   Depois de retirada e estabilizada, apenas era visível uma fractura exposta num dos braços e um grande ferimento na cabeça.

Rodolffo estava de plantão quando foi avisado de um sinistrado resultante de acidente rodoviário, com fracturas.

Seguiu rapidamente para a urgência e após ver Juliette naquela maca entrou em desespero.

A equipe viu a reação dele e perguntou se queria ser substituído.

- Não.   Eu consigo fazer isso.

Respirando fundo, foi retomando a serenidade normal e começou a assistir Juliette, encaminhando-a depois para o centro cirúrgico.

Foram longas horas.  O raio X não mostrava outras fracturas além de braço.  O que o preocupava era o ferimento na cabeça.

Depois de cortarem o cabelo dela, - foi como uma facada no coração dele, pois ele adorava o cabelo,-  ele inspeccionou a àrea e começou  a cirurgia.  Precisava desobstruir uma àrea afectada pela fractura do crânio.
Depois de terminado o procedimento ele respirou de alívio.   Parecia pior do que era, mas ainda precisava esperar que ela acordasse para perceber as sequelas. 
Depois de engessarem o braço, levaram-a para um quarto isolado.

Rodolffo cuidou que nada lhe faltasse.

O pai da Juliette foi avisado, assim como Bernardo.  Só por causa de Rodolffo eles puderam vê-la por 10 minutos.  Estava sedada por precaução,  logo não havia necessidade de estarem ali.

Rodolffo terminou o seu turno e manteve-se junto dela.  Queria acompanhá-la em tudo.  Pediu dispensa do trabalho durante dois dias para poder estar à sua cabeceira.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora