VIII

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Durante a semana Bernardo teve novamente a sua saúde debilitada e Rodolffo optou pelo seu internamento muito a contragosto.

Juliette tinha ido ao banco resolver assuntos da empresa do pai quando foi confrontada com esta notícia.

Nesse dia desistiu de ir às aulas e correu para o hospital.

Seguia atrás da auxiliar em direcção ao quarto onde estava Bernardo.

- Acho que ele deve estar a ser observado pelo Doutor.  Espere aqui um momento que vou verificar.

Logo regressou com indicação para entrar.

- Bom dia.  Como está o pai, Rodolffo?

- Bom dia.  Teimoso.  Está farto de ralhar comigo.

- Dr. Bernardo, é a sua saúde!

- Eu sei, mas não havia necessidade de me trazer para cá.

- Quem é aqui o médico,  pai?
Ficas melhor aqui do que em casa.

- Rodolffo,  eu posso ficar com ele?

- Não quero,  Juliette.   Tens a faculdade.

- Hoje não vou.  Quero ficar consigo.

- Podes ficar sim.  Obrigada.
Eu preciso continuar o trabalho.   Qualquer coisa é só mandar chamar-me.

- Não se preocupe Rodolffo.  Eu tomo conta dele.

Rodolffo dirigiu-se para a saída e olhou novamente para a cama do pai.  Juliette ajeitava as almofadas para que Bernardo ficasse mais confortável.

Como eu a julguei mal, pensou.

Juliette conversou um pouco com Bernardo que adormeceu a seguir.

Ela aproveitou para estudar um pouco as matérias para o teste da semana seguinte.

À hora do almoço vieram trazer a refeição de Bernardo.
Juliette ajudou-o a sentar direito para poder comer.  Sentou-se ao seu lado na cama para o apoiar no que fosse necessário.

Rodolffo chegou pouco depois e ficou enternecido pela visão de Juliette a cortar a carne em pedaços mais pequenos.

- Vai sair daqui mal acostumado,  não é, dr. Bernardo?

- Tadinho!  Já viu o tamanho deste bife?  Podia vir cortado.
E a fruta nem vem descascada.

- Podes tratar-me por tu, Juliette? 
Ele pode fazer isso.  Só não pode fazer grandes esforços,  mas isso pode.

- Fui eu que quis fazer.

Quando Bernardo terminou a refeição,  Juliette disse que ia à cantina comer qualquer coisa.

- Espera por mim.  Vou só ao meu gabinete e já te encontro lá.  O pai agora vai tomar a medicação e dormir um pouco, pode dar descanso à babá.

- Sei bem o que queres dizer.  A Juliette não precisa de estar aqui o tempo todo.

- Mas eu quero cuidar do senhor.

- Vês?  Ela é que quer.

- Sei. E o senhor aproveita a boa vontade dela.  Ela tem a vida dela.

- Não briguem.   Dá para fazer tudo.  É só questão de planeamento.

- Já vou ter contigo à cantina.

- Está bem.

Juliette baixou a cama para que Bernardo pudesse descansar.

- Descanse bem. - deu-lhe um beijo na face e saiu.

Rodolffo encontrou-a sentada à mesa.

- Já pediste?

- Já.   Não sabia o que querias.

Rodolffo fez o seu pedido e chegaram os dois quase ao mesmo tempo.

- Só vais comer essa sanduíche e esse sumo?

- Só.  Depois peço um café.

- Juliette,  não é necessário ficares o tempo todo com o meu pai.  Eu estou por aqui, dou-lhe o apoio necessário.

- Sabes Rodolffo?  Eu sempre fui a menina do papá, mas quando a minha mãe morreu, tudo mudou.
O meu pai ficou mais frio, não se importava comigo e então depois de voltar a casar as coisas só pioraram.  A minha madrasta e a filha manipulavam-o.  Nunca mais tive o carinho de pai.

O teu neste pouco tempo em que nos conhecemos tem sido extremamente   carinhoso comigo.  Eu só estou a retribuir. - disse já com lágrimas nos olhos.
Vou ser eternamente grata.

Rodolffo limpou as lágrimas com os dedos e fez-lhe um carinho.

- Obrigado por gostares dele.
E a faculdade,  como vai? - perguntou ele tentando desanuviar o ambiente.

- Assim, assim.  Tem umas matérias mais difíceis mas vou dar conta.

- Se precisares de ajuda, pede.  Eu sei que vais dar conta.  Já vi que és muito determinada.  Lá em casa tem muitos livros.  Se precisares de consultar é só dizer.

Ficaram ali na conversa até terminar a hora de almoço de Rodolffo.

- Preciso voltar.  Vou pagar tudo.

- Obrigada,  vamos.

Seguiram juntos até ao quarto de Bernardo que ainda dormia.  Rodolffo confirmou se estava tudo bem.

- Saio às 17 horas.  Queres  que te deixe em casa, ou vais mais cedo?

- Eu preciso ir a casa, mas eu venho passar a noite.

- Nem pensar.  Hoje faltaste às aulas mas amanhã não vais faltar.  O meu pai fica bem aqui.  De noite tem uma enfermeira de plantão e se precisar eu durmo cá.  Eu venho buscar-te quando sair e vais descansar para casa.

- Está bem, mas amanhã só tenho aulas de manhã.  Venho aqui de tarde.

Vamos ter que conversar muito sobre isso.  Não quero ter que cuidar de mais uma doente.


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