19 A garota

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Minha dignidade agradece por Claudia ter aparecido e me
salvado dessa conversa dolorosa, mas meu coração está
louco para saber o que Ares ia dizer antes que ela o
interrompesse.
Ele ia partir meu coração de novo? Ou ia dizer outra
coisa? Nunca vou saber.
— Não está interrompendo nada — responde Ares
bruscamente, me entregando o colar e saindo do cômodo.
Eu dou um sorriso para Claudia antes de deixar a sala de
jogos.
Estremeço e culpo meu vestido, que está molhado. Chego
à sala e vejo Ares encostado na parede, com os braços
cruzados. Seus olhos encontram os meus e luto inutilmente
para decifrar sua expressão glacial. Meu olhar recai sobre
Apolo, que está sentado no sofá, no telefone.
Mas então a linda garota que estava com Ares na piscina
sai da cozinha com o que talvez seja um sanduíche. Seu
cabelo parece preto, mas está molhado, os olhos são
escuros como a noite e ela tem um rosto muito delicado e
bonito. O corpo dela é todo proporcional; está de saída de
praia transparente por cima do biquíni e caminha confiante.
Ela é gostosa e sabe disso. Olha para Ares ao falar: — Eu fiz
para você um de frango e outro de presunto.
Ares sorri, e justo quando penso que meu coração não
pode ficar mais partido, ele se quebra mais um pouquinho.
Os dois parecem muito à vontade um com o outro. Ares
pega o prato.
— Obrigado, estou morrendo de fome e ainda estamos
sem a churrasqueira.
A menina vira o rosto e nos vê, franzindo as pequenas
sobrancelhas quando me nota.
— Ah, oi. Não sabia que vocês estavam aqui.
Apolo nos apresenta.
— Samy, essa é a Raquel, nossa vizinha.
Samy me oferece a mão cordialmente e eu a
cumprimento.
— Prazer em conhecê-la, Raquel.
— Igualmente — digo, soltando a mão dela.
— Pronta para a piscina?
— Na verdade, não. Eu já estou de saída.
— Não, fica! Quero muito saber mais sobre a vizinha
desses idiotas de longa data. — Ela se aproxima e coloca o
braço por cima do meu ombro, me dando um meio abraço.
— Não acredito que não te conhecia até hoje.
Todos aguardam minha resposta. Eu não posso ficar aqui,
não de novo. Apolo espera ansiosamente pela resposta, ele
parece vulnerável e, pela segunda vez esta noite, decido
ficar por ele.
— Ok, só mais um pouquinho.
Voltamos para a piscina e meus olhos vão para o grupo
dos amigos de Ares.
Ele para ao meu lado para sussurrar algo.
— Fique longe dele.
Eu sei que Ares está falando do Marco.
— Você não manda em mim.
Samy tira o vestido transparente, sorrindo.
— Hora da piscina!
Ela se joga na água, que espirra em todos nós. Dou um
passo para trás. Apolo segue seus passos, tira a camisa e se
lança atrás dela. Samy emerge da água.
— Vamos, Ares! O que está esperando?
Fico encarando Ares como uma boba, aqueles lábios que
me beijaram tão deliciosamente, aquele abdômen que
toquei durante minha primeira vez, aquelas costas que
agarrei sentindo-o dentro de mim.
Pelo amor de Deus, Raquel! O sangue flui pelo meu rosto,
sinto as bochechas queimarem e desvio o olhar. Ares ri.
— Você está vermelha. No que estava pensando?
— Em nada — respondo rapidamente.
Posso sentir a arrogância em seu tom de voz.
— Estava se lembrando de algo?
— Raquel! — chama Gregory da mesa, acenando para que
eu me aproxime.
— Já vou! — Eu só consigo dar um passo, porque Ares
agarra meu braço.
— Eu disse para você ficar longe dele.
— E eu falei que você não manda em mim.
— Eu te avisei. — Antes que eu possa processar o que ele
acabou de dizer, Ares me puxa com ele até a piscina.
— Não, não, Ares! Não! — Estou lutando
desesperadamente para me desvencilhar dele, mas é muito
mais forte que eu. — Por favor! Não, Ares, não!
Mas é tarde demais, um grito desesperado sai da minha
boca quando Ares pula, me puxando com ele. A água me
recebe me cobrindo por inteira. Bolhas saem da minha boca
enquanto luto para emergir. Estou ofegante ao chegar na
superfície e instintivamente ponho meus braços ao redor do
pescoço de Ares, me agarrando a ele com força. Ele me
segura pela cintura, nossos corpos grudados, os rostos a
apenas alguns centímetros, os olhos azuis derretendo minha
alma.
— Já está me agarrando?
Apesar da pergunta arrogante, eu não o solto. Meu cabelo
gruda em ambos os lados do rosto.
— Natação não é minha praia.
Ele ergue a sobrancelha, surpreso.
— Você não sabe nadar?
— Sei, mas não muito bem — admito, envergonhada.
Ok, estamos bem próximos e os lábios de Ares são muito
provocantes.
— Só me leva para a parte rasa da piscina.
— E perder a oportunidade de ter você assim, grudada em
mim? — Ele sorri, mostrando seus dentes retos e perfeitos.
— Não, acho que vou aproveitar um pouco mais.
— Você é um pervertido.
— Eu que sou o pervertido?
— Sim.
O corpo de Ares exala calor, sua pele é tão macia.
— Quem é que tem a trilogia Cinquenta tons de cinza no
computador?
Meus olhos se arregalam em choque e a vergonha não
cabe em mim. Ah, pelo amor de Deus. O que eu fiz para
passar tanta vergonha? As mãos de Ares se mantêm firmes
na minha cintura.
— Eu não estou te julgando, só dizendo que você não é
tão inocente quanto parece, bruxa.
— Ler não faz de mim uma pervertida.
— Quer dizer que quando você lê cenas de sexo não fica
excitada?
Desvio o olhar.
— Eu…
As mãos dele descem até a parte de fora das minhas
coxas e ele levanta minhas pernas, fazendo com que eu as
coloque ao redor de sua cintura.
— Tenho certeza que mais de uma vez você desejou que
alguém te pegasse desse jeito, com força e sem medo.
Meu Deus, preciso urgentemente fugir de Ares.
Minha respiração fica rápida e instável, a água se move
em pequenas ondas ao nosso redor.
— Você é louco.
Ele usa as mãos agora livres para tirar o cabelo molhado
do meu rosto.
— E você é linda.
Meu mundo para, não respiro, não me movo. Apenas me
perco no infinito dos olhos dele.
— Ares! Raquel! — chama Samy da parte rasa da piscina.
— Hora do jogo!Ares pigarreia e começa a ir até lá. Quando chegamos ao
lado raso, eu me afasto dele, ainda corada. Antes que eu
possa me aproximar de Samy e Apolo, Ares se inclina para
me dizer algo no ouvido.
— Eu posso ser seu Christian Grey sempre que você
quiser, bruxinha pervertida.
Eu congelo, e ele se move em direção ao grupo como se
nada tivesse acontecido.
Esse deus grego maluco!

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