— Raquel! Raquel! Raquel!
Nunca imaginei que a primeira aposta que faria na vida
envolveria bebida. Apolo, Samy e Gregory estão ao meu
redor na beira da piscina, me oferecendo uma dose de
tequila. Eu hesito. A verdade é que estou um pouco tonta, já
perdi a conta de quanto bebi até agora e isso não é bom.
Principalmente porque estou dentro da água.
Derrotada, pego o copinho e viro. A tequila desce pela
minha garganta incendiando tudo até chegar ao estômago.
Eu estremeço, mas Apolo me dá um high-five.
— Isso! É assim que se faz.
— Estou surpresa — admite Samy, sorrindo.
Eu queria poder dizer que ela é uma idiota que fica se
oferecendo para Ares o tempo todo, que me manda
indiretas ou diz coisas para fazer com que eu sinta que não
pertenço a esse lugar, mas não posso. Samy só foi gentil e
muito atenciosa comigo, parece ser uma garota legal.
Embora eu saiba que ela gosta de Ares, já que isso dá
para ver de longe, não sinto raiva dela. Samy não me fez
nada. Gregory toma sua bebida e bufa, respirando fundo.
— Parece mais suave a cada vez, nem queima mais minha
garganta.
— Isso é porque você já está bêbado — interrompo, dando
um tapinha nas costas dele.
Olho em direção à parte funda da piscina e vejo o
estúpido deus grego conversando com Marco, os dois
parecem bem sérios. Fico tomada pela vergonha quando me
lembro de como dancei para Marco. Será que eles estão
falando de mim? Ai, meu Deus!A água está quente e parece divina ao tocar minha pele.
Pequenas ondas se formam quando nos movemos e colidem
com a parte de trás dos meus braços.
— A gente devia jogar alguma coisa — sugere Gregory,
balançando o cabelo e espirrando água em todos nós.
Apolo segura o queixo, pensando.
— Esconde-esconde?
Samy ri.
— Não, alguma coisa mais legal! Como “Verdade ou
consequência”, ou “Eu nunca”…
Eu franzo as sobrancelhas, confusa.
— “Eu nunca”?
Samy acena com a cabeça.
— Sim, vou explicar as regras. — Ela faz uma pausa,
entrando em modo professoral. — Por exemplo, digamos
que eu comece com “Eu nunca fiquei bêbada…”, então
aqueles que já ficaram bebem.
— E se você também já ficou?
— Aí eu também bebo. É legal porque você vai ficar
sabendo das coisas que os outros fizeram quando eles
beberem. O suspense é ótimo.
— Ok, ok — diz Gregory. — Mas precisamos de mais
pessoas?
As únicas pessoas que continuaram dentro da piscina
somos nós e o grupo de amigos de Ares, bem ali. Os outros
saíram agora há pouco, e não tenho ideia de que horas são.
Gregory grita chamando o grupo e os três nadam em nossa
direção.
Saímos da piscina e o vento fresco da noite me deixa
arrepiada, meu vestido gruda no corpo, mas eu já bebi tanto
que não me importo mais. Sentamos em círculo no chão
molhado. Apolo e Gregory estão ao meu lado, ao lado deles
está Samy, depois Marco, Ares e Luis. A garrafa de tequila
está no centro. Ares está na minha frente. Samy explica as
regras mais uma vez para os recém-chegados. Todos nós
ouvimos com atenção, especialmente Marco.— Já sabem, se tiverem feito o que for dito, vocês devem
tomar um gole do copo. — Samy pega os copos e os enche
de tequila. Cada um de nós fica com o copo cheio bem à
frente. — Se são culpados, bebem um gole. Se não são, não
bebem.
Ares solta uma risada de zoação.
— Que tipo de jogo é esse?
Samy olha de cara feia para ele.
— Eu já expliquei as regras, então só joga.
— Alguém corajoso?
Ninguém. Samy suspira.
— Covardes, eu começo. — Ela pega seu copo. — Eu
nunca fugi de casa.
Ela e todos os outros bebem, menos eu. Eles me olham
surpresos.
— Que foi? Eu me comporto bem.
Apolo me encara.
— Até eu, que sou mais novo que você, já fugi.
Gregory esfrega minha cabeça.
— Own! Você é uma menina bem-comportada.
Ares não presta atenção em mim, está ocupado demais
acendendo um cigarro. A fumaça sai de sua boca enquanto
espera a vez de Marco, que mantém aquela cara séria e
inexpressiva e roça o polegar no lábio inferior, pensativo.
— Eu nunca parti o coração de alguém.
— Ahhh! — exclama Luis, rindo. — Acho que todos nós
vamos beber nessa.
Olho para Ares e o observo com tristeza enquanto ele leva
o copo à boca. Eu sei que ele partiu muitos corações, mas
de alguma forma, sinto que ele está bebendo enquanto
pensa em mim, em como despedaçou meu coração iludido
e estúpido. Novamente, todos bebem, menos eu.
Luis grunhe.
— Sério, Raquel? Você nunca partiu o coração de
ninguém?
Samy geme, aborrecida.— Desse jeito, vamos acabar todos bêbados e a Raquel
sóbria.
— Estou sendo honesta, juro.
Ares me encara e um sorriso arrogante surge em seus
lábios perfeitos.
— Não se preocupe, é a minha vez. Vou fazer a Raquel
beber.
Gregory lhe dá um high-five.
— Vamos, nos surpreenda.
Ares pega seu copo e o ergue na minha direção.
— Eu nunca persegui alguém.
Golpe baixo.
Todos me encaram, esperando minha reação. Aperto as
mãos e mordo meu lábio inferior. Me sentindo a esquisita do
grupo, tomo um gole. As pessoas me observam em silêncio.
Com raiva, meus olhos encontram os de Ares e o vejo sorrir.
Mas então ele faz algo que me deixa sem ar.
Ares bebe. Dizer que isso foi uma surpresa é pouco. Ele
pousa o copo de volta no chão. Apolo balança a cabeça.
— Temos dois perseguidores aqui. Não acredito.
Luis dá um tapinha nas costas de Ares.
— Nunca pensei que você seria capaz de perseguir
alguém, sempre achei que seria você o perseguido.
Ares não tira os olhos dos meus.
— Era assim, mas a vida dá muitas voltas.
Samy pigarreia.
— Tá bom, tá bom, próximo.
Luis levanta o copo.
— Vamos deixar isso mais interessante. Eu nunca fiz
alguém chegar ao orgasmo com sexo oral.
O calor invade minhas bochechas, e eu sei que todo
mundo vai beber, exceto eu e Apolo, talvez. Luis, Gregory,
Marco e uma Samy muito envergonhada bebem. Em agonia,
observo Ares, esperando que ele tome um grande gole da
bebida.
Mas isso não acontece. Seria possível…?Gregory verbaliza o que todos nós estamos pensando:
— Não acredito! Ares Hidalgo! Você nunca fez uma garota
gozar com sexo oral?
Luis balança a cabeça.
— Você está mentindo.
Ares termina o cigarro, apagando-o no chão ao lado dele.
— Eu nunca fiz sexo oral.
Ele diz isso de forma tão natural, tão calma. Todos nós o
encaramos. Apolo não consegue controlar a curiosidade.
— Por que não?
Ares dá de ombros.
— Me parece uma coisa íntima e muito pessoal.
Gregory interrompe:
— E todos sabemos que Ares não está interessado em um
contato íntimo e pessoal.
Samy baixa a cabeça, brincando com os dedos no colo.
Será que… ela… e ele…? Pelo que sei, eles são só amigos.
Mas as reações de Samy me lembram as minhas. Aconteceu
alguma coisa entre os dois? Meus olhos recaem em Marco e
sua expressão endurece, me lançando um olhar tão intenso
que eu tenho que desviar. É muito desconfortável.
É a vez de Apolo.
— Vamos todos beber! Eu nunca fiquei bêbado.
Sorrio com cumplicidade.
— Saúde!
Nossos copos tilintam e bebemos.
É a minha vez e não tenho ideia do que dizer. Todo mundo
está esperando com impaciência.
— Eu nunca beijei alguém desta roda.
Marco ergue a sobrancelha e Ares solta uma risada
sarcástica. Com muita atenção, observo Ares e Samy
beberem. Com tristeza, também bebo. Então Samy beijou
Ares. Essa confirmação me dá um aperto no peito. Algo
aconteceu entre eles. Observando Samy, me sinto em
desvantagem. Ela é tão bonita e simpática. Com certeza Ares a escolheria e não a mim; sei que ele a escolheria sem
pestanejar.
Gregory faz uma careta.
— Uau!
Depois de três rodadas, estamos todos bêbados demais
para raciocinar e jogar decentemente. Então decidimos
entrar na parte rasa da piscina. Jogo água no rosto e na
cabeça, estou tonta, mas sei que se parar de beber posso
voltar para casa. Samy me abraça por trás.
— Raquel!
Eu me solto de seu abraço e me viro.
— Samy!
— Acho que bebemos muito — diz ela, e eu concordo. —
Você é muito legal!
— Você também.
— Preciso te perguntar uma coisa.
— Tudo bem, o que quiser.
— Quando estávamos brincando de “Eu nunca”, você
bebeu quando falou sobre ter beijado alguém do grupo. Sei
que é óbvio, mas você beijou o Ares?
Ok, bêbada ou não, não estou pronta para essa pergunta.
Samy me dá um sorriso triste.
— Esse silêncio diz tudo. Você… vocês têm algo?
— Samy…
— Não, não, me desculpa, não precisa responder. Estou
sendo muito invasiva.
Passo a língua pelos lábios, me sentindo desconfortável,
mas ao mesmo tempo me identificando muito com ela.
— Você… e ele…
Ela nega, balançando a cabeça.
— Eu sou apenas o clichê, sabe? A garota que se apaixona
pelo melhor amigo.
— Se vocês tivessem algo, eu nunca iria me meter.
Estou sendo honesta. Eu nunca ficaria no meio do
relacionamento de alguém. Tenho pouca dignidade, mas ser
a outra, nunca. Samy pega minha mão.— Nós dois não temos nada, então não se sinta tão
culpada.
— Sinto muito. — Eu nem sei pelo que estou me
desculpando.
— Ares é… difícil, sabe? Ele já passou por muita coisa. —
Ela toma um gole do copo. — De alguma forma, pensei que
eu seria a pessoa que mudaria isso, já que sou a única a
quem ele deu abertura, para quem contou tantas coisas.
Mas o fato de ele confiar em mim não significa que esteja
apaixonado, e eu demorei para entender isso.
A história dela é de partir o coração, e definitivamente
Samy não é uma má pessoa. Ela é apenas uma garota que
se apaixonou por alguém que não sente a mesma coisa,
assim como eu.
— Acho que temos algo em comum: um coração partido.
— Ele gosta de você, Raquel, e muito. Provavelmente não
sabe lidar com isso porque nunca experienciou algo assim.
Meu coração acelera com as palavras dela.
— Acho que não, ele falou com muita certeza que não
está interessado em mim.
— Ares é muito complexo, assim como Ártemis. São
garotos criados por pais muito rígidos, que sempre disseram
a eles que demonstrar sentimentos é sinônimo de fraqueza,
de dar a outra pessoa poder sobre você.
— E por que Apolo é diferente?
— Quando Apolo nasceu, o avô Hidalgo veio morar aqui
por um tempo, então foi ele quem o criou com bastante
amor e paciência. Tentou incutir isso nos dois irmãos mais
velhos, mas eles já eram crescidos e passavam por coisas
que não deveriam ter acontecido quando tinham aquela
idade.
— Que tipo de coisas?
— Não sou eu quem deve contar essa parte, me desculpa.
— Tudo bem, você já me disse muitas coisas. Como você
sabe tanto?— Eu cresci com eles. Minha mãe é muito amiga da mãe
deles, e ela me deixava aqui direto quando tinha coisas
para fazer. O pessoal que trabalhou aqui por muito tempo
também conhece a história.
— Samy! O motorista chegou. Vamos!
Gregory, Luis e Marco estão se secando, cambaleando de
um lado para outro.
— Já vou! — Samy me dá um abraço rápido, se afasta e
sorri. — Você é uma garota legal, então nunca pense que
estou brava com você ou algo assim por causa de Ares, ok?
Sorrio de volta.
— Ok.
Eu os observo ir embora. Apolo está atrás deles
murmurando algo sobre abrir a porta. Percebo que é hora
de eu ir para casa também. Meus olhos correm pela piscina
e congelo quando vejo Ares do outro lado, os braços
estendidos na borda e olhando para mim. Estamos sozinhos.
E pelo jeito que ele me encara, sei que vai querer tirar
vantagem disso.
Corra, Raquel, corra! Você já tentou correr na água? É
muito difícil. Desde quando essa piscina ficou tão grande?
Nervosa, me viro para onde Ares estava alguns segundos
atrás, mas ele desapareceu.
Merda! Está vindo por debaixo d’água! Estou sendo
caçada!
Chego à borda e me ergo para sair da piscina, mas é
óbvio que estou no meio do movimento quando mãos fortes
agarram meus quadris e baixam meu corpo bruscamente.
Ares me pressiona contra a parede da piscina, seu corpo
definido colado às minhas costas, o hálito quente roçando
minha nuca.
— Fugindo, bruxa?
Engulo em seco, tentando me soltar.
— Está tarde, eu tenho que ir, eu…
Ares chupa o lóbulo da minha orelha, as mãos apertando
meus quadris suavemente.— Você o quê?
Cometo o grave erro de me virar em seus braços, meus
hormônios gritando com a imagem diante mim. O deus
grego todo molhado, seu cabelo grudado nas laterais do
rosto, a pele macia e perfeita e seus olhos azuis infinitos
que me lembram o céu ao amanhecer. Seus lábios estão
vermelhos e parecem muito provocantes.
Tento focar em todo mal que ele me causou com suas
palavras, com suas atitudes, mas é muito difícil me
concentrar com ele tão perto e com tanto álcool dominando
minha mente. Ares acaricia a lateral do meu rosto. A ação
me desconcerta, não parece algo que ele faria
normalmente.
— Fica aqui comigo esta noite.
O pedido me surpreende, mas minha dignidade reaparece
e assume o controle.
— Eu não vou ser a garota que você usa quando quer,
Ares.
— Eu não espero que você seja.
Ele parece sincero e tão diferente, como se estivesse
cansado de ser um idiota arrogante.
— Então não me peça para ficar.
Ele se aproxima, o polegar ainda acariciando minha
bochecha.
— Só fica, não precisamos fazer nada, não vou tocar em
você se não quiser, só… — Ele suspira. — Fica comigo, por
favor.
A vulnerabilidade em sua expressão me desarma. Uma
batalha interna entre meu coração e minha dignidade
começa.
O que eu faço?