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Naquele dia, ao chegar em casa, peguei todas as minhas fotos e presentes que recebi do Yuji e os guardei em uma caixa com cadeado. Coloquei em cima do guarda roupa e guardei a chave em uma das gavetas da minha cômoda. Sentei na cama e me permiti chorar, retirar todos aqueles sentimentos frustrados. Do lado de fora um temporal se iniciava, como se a Deusa Afrodite pudesse sentir todo o meu amor sendo quebrado e jogado fora.

Fecho meus olhos e respiro fundo, precisava resolver minha vida. Hoje foi o fechamento de um ciclo, mas o início de um novo. Vou em direção a minha mesa de estudos e pego a carta de uma das Universidades que me candidatei e ao abri-la, não consigo deixar de sentir que talvez isso seja a resposta que tanto pedi.

Eu fui aceita para a Universidade de Kyoto, a mesma que meus amigos também se candidataram. Mordo meus lábios pegando o celular e tirando uma foto, rapidamente os três responderam com suas respectivas cartas. Noritochi foi aceito para cursar Medicina, Kokichi Engenharia junto com Miwa e eu iria para área de animação. Abro um sorriso sincero e levo o pedaço de papel até meu peito, era isso, o destino me quer longe dele. Eu irei desaprender a gostar de você, Itadori.

*Dez anos depois*

A vida na faculdade não foi como eu esperava, era uma rotina completamente puxada e exaustiva, muitas vezes pensei em desistir por não me sentir ser capaz de concluir. Porém, depois de muita persistência e puxões de orelha dos meus amigos, eu consegui me formar.

Desde aquela noite do ensino médio eu nunca mais tive notícias de Itadori Yuji, pedi para que Junpei não comentasse e ele respeitou minha decisão. Meus pais também evitaram de comentar qualquer coisa que fosse.

Durante o percurso da minha vida, me envolvi com diversos caras que não me levaram a lugar algum. Eram todos entediantes, mesquinhos, machistas, egoístas e soberbos. A cada encontro eu sentia que faltava algo com cada um deles. Tentei me relacionar com Junpei, mas ambos não conseguimos lidar com a distância e terminarmos em uma amizade.

Sou uma mulher de 27 anos que atualmente trabalha em uma empresa de animação e que saiu da casa dos pais aos 20 anos para tentar sua independência. Sou uma das pessoas que dão o sangue para animar histórias que nos prendem a atenção e nos fazem sonhar, mas que recebe uma mesquinharia.

Solto um suspiro pesado enquanto prendo meu cabelo em um coque desleixado, vejo meu almoço ser colocado na minha frente pelo garçom. Noritochi, Miwa, Kokichi e eu sempre nos reunimos no horário do almoço quando temos tempo, virou uma rotina gostosa nossa.

— Vocês ficaram sabendo que nossa ex amiga de turma esta morando na Inglaterra?

— Amiga? — Arqueio a sobrancelha

Miwa estende o celular em minha direção e me mostra uma garota acompanhada de um homem e uma criança, ela tinha uma aparência abatida, parecia cansada. Ao ver o nome, fecho meu rosto na hora.

— Parece que o tempo não fez bem para ela — Noritochi apoiou o rosto em sua mão e me encarou com um sorriso debochado — Como será que esta o outro?

— Não sei e peço por favor que troquem de assunto — Pego um pouco da salada e levo em minha boca. Os três se calaram enquanto eu tentava ignorar os pensamentos intrusos que chegavam em minha mente.

— Pelo jeito temos uma pessoa que não superou muito bem o passado — Kokichi murmurou e eu soltei os talheres enquanto respirava fundo.

Fechei os olhos me questionando do porque de nós estarmos falando sobre isso, haviam anos que não tocavamos nesse assunto e de repente me sinto exposta pelos meus amigos. Além disso, ainda tem aquela maldita caixa em cima do meu guarda roupa, pedi para meus pais jogarem fora, mas mamãe afirma que uma hora eu irei querer abri-la. Nem fodendo ! Todo dia eu sinto como se tivesse um elefante no meu quarto me observando e a cada dia ele aumenta.

— Desculpa, s/n. Não imaginávamos que ainda te machucava.

— Não machuca — Falei de imediato — Só que eu não entendo o porquê de vocês estarem revivendo o passado. Quem liga se a Emi está morando na Inglaterra? Espero que ela seja muito feliz lá. E querem saber como está o outro? Com certeza deve estar em alguma cidade do Japão sendo feito de cachorrinho por uma outra Emi e agindo igual idiota com quem se preocupa com ele!

Nos entreolhamos surpresos antes de Miwa soltar um "uau" e logo nós quatro começarmos a rir. É claro que isso era um assunto intocável, mas já haviam se passado anos... eu deveria já ter superado, né?

Terminamos nosso almoço e pedimos uma sobremesa antes de nos despedirmos. Durante o caminho até o estacionamento que estava o meu carro, não deixei de pensar quando chegaria a hora de jogar fora aquela caixa. Ao me sentar no banco do motorista, apoiei minha cabeça no volante enquanto criava coragem para ir embora.

Recapitulando, sim, eu tenho 27 anos e não, eu não sei o que estou fazendo com a minha vida desde que me formei no ensino médio. Pensei que todos os meus sonhos após se realizassem, iriam me fazer sentir uma imensa satisfação e felicidade completa, mas ao invés disso eu venho lidando com tudo através de terapia e sites de relacionamento.

Match, essa é a palavra que mais venho lendo durante os últimos meses. Converso com caras totalmente aleatórios e sem graças, o meu último encontro foi um total fiasco onde ele só sabia falar da sua ex namorada. Eu por acaso tenho cara de ser um estepe? Fala sério!

Pego meu celular disposta a pedir ajuda para aquele que sempre esteve preparado para me ouvir. Digito seu número na tela e espero que ele atenda antes de cair na chamada postal.

— Alô?

— Junpei, me ajuda — Falo manhosa com a voz arrastada. Ouço o mesmo dar uma risada anasalada do outro lado da linha antes de me responder 

— Certo, porque não vem me visitar? Acho que está na hora de você vim até mim.

Faço um bico como se ele pudesse ver, estava receosa de voltar para Shibuya. Meus pais após eu sair de casa, resolvem morar no interior, queriam uma vida calma e serena. Desde então eu não encontrei motivos para voltar para o lugar que me deixou com gosto amargo na boca, Junpei era o único que permanecia e vinha me visitar sempre que eu pedia.

— Não pode ser outro dia?

— Estarei te esperando quando se sentir pronta, S/n. Mas não espere que eu vá até aí.

— Tudo bem — Olhei para a tela do celular e logo desliguei.

Já era a terceira vez que ele fazia isso comigo, das outras vezes eu consegui fazê-lo mudar de ideia. Talvez se eu esperar alguns dias, ele irá ceder novamente e virá ao meu socorro.

 Talvez se eu esperar alguns dias, ele irá ceder novamente e virá ao meu socorro

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Vejamos... Acho que vai dar certo o que estou pensando... 

Bem, não sei, próximo capítulo temos a versão do Itadori.

Bjbj

𝙵𝚁𝙸𝙴𝙽𝙳𝚂 - 𝙸𝚃𝙰𝙳𝙾𝚁𝙸 𝚈𝚄𝙹𝙸Onde histórias criam vida. Descubra agora