Acordo um tempo depois na enfermaria sentindo um incômodo na vista. Resmungo olhando meu braço ligado ao soro, retiro o fio de qualquer jeito já me levantando para ir embora. Mas fui surpreendida com um certo rosado me encarando de braços cruzados e uma expressão séria.
— Você não está se alimentando direito — Me empurrou de volta para cama — Precisa descansar, ordens da enfermeira.
— Não — Tentei me levantar já ficando sem muita força já que meu corpo ainda estava fraco — Preciso ir para casa.
— Porque você não está se alimentando ? — Ele mantinha seu olhar fixo em mim. Senti meu rosto esquentar de raiva.
— Porque está fingindo se importar ? PELO QUE EU SAIBA VOCE ESTA AMANDO FINGIR QUE NÃO EXISTO — Aumento meu tom de voz.
— Eu não estou fingindo que você não existe — Continuou a manter seu tom de voz neutro — Mas porra, quando a Emi me disse que você andou espalhando coisas terríveis sobre mim e que a empurrou por infantilidade, não aceitando nosso namoro... — pisquei algumas vezes desacreditada e tentando entender se foi aquilo mesmo que eu ouvi.
— Você está me dizendo que acreditou nas palavras medíocres da sua namoradinha sem antes me perguntar se era verdade ? É isso mesmo?
— S/n, você não demonstrou felicidade alguma quando te contei sobre nosso namoro e além disso eu.... — Novamente o cortei tentando controlar a raiva
— Saia daqui, Itadori — Tentei segurar as lágrimas — Eu sou sua melhor amiga há anos, compartilhamos de tudo e você caiu em mentirinha de quinta série de uma pessoa que acabou de entrar na sua vida? Acha que estou com ciúmes de uma namorada que chegou na sua vida não faz nem uma semana? A mesma namorada que passou os três anos ignorando sua existência e que do nada se apaixonou por você ?
Me levantei com tudo da cama e saindo irritada da enfermaria, foda-se se a qualquer momento eu desmaiasse novamente, só não queria estar no mesmo ambiente que ele. Mas ao mesmo tempo, eu só queria entender o que o fez mudar tão rapidamente, qual o feitiço que ela jogou nele para ter virado um grande babaca e irresponsável afetivamente ?
— Eu já nem sei mais quem é você — Ele falou cuspindo aquelas palavras enquanto me seguia logo atrás.
— Digo o mesmo Itadori Yuji. Isso foi a coisa mais bizarra e ridícula que você já me disse — dei uma risada irônica — Eu jamais falaria algo do meu melhor amigo ! E mesmo que eu ache uma burrada esse seu namoro, eu te apoiei !
— Burrada ? — Agora era a vez dele rir de mim — Burrada será do cara que tiver algum relacionamento com você e ter que ficar te procurando desmaiada pelos lugares e ainda por cima aturar sua extrema obsessão em ser magra.
Aquelas palavras... não era mais o Yuji que eu conheci. Antes de tocar na maçaneta da sala de aula para pegar minhas coisas e ir embora, eu o encarei com os olhos marejados e as mãos tremendo. Cruel... ele estava sendo cruel. Yuji nunca gritou ou bateu em alguém, mas ao invés disso ele usa palavras cruéis para machucar as pessoas em seus momentos de raiva, entretanto, isso nunca tinha acontecido comigo.
Ao perceber o erro que ele havia cometido, tentou se aproximar de mim com a boca entreaberta e a voz falhando, mas eu rapidamente entrei na sala e fechei a porta na sua cara. Estava vazia, apenas ouvia minha respiração ofegante e ansiosa. Olho para a sombra dele que passava por debaixo da porta e o mesmo começa a se afastar.
Ao guardar todo o meu material e me retirar da sala, vi Noritoshi me encarando com pena, pelo jeito ele havia ouvido tudo e isso estava claro em seu olhar. Ele deu alguns passos em minha direção enquanto eu segurava firme minhas coisas e tentava controlar a tristeza.
Ao ficar na minha frente, abriu os braços me chamando com uma carinha que não pude evitar de correr e envolver meus braços em sua cintura, afundando meu rosto em seu pescoço e o choro começar a sair.
Ouvi a porta da enfermaria ser aberta e logo fechada, a voz da enfermeira junto com a de Yuji só piorava a situação, eu não queria mais vê-lo e muito menos que se preocupasse comigo, ele fez sua escolha e espero que arque com as consequências. Como poderia algo que construímos com o tempo, uma amizade sólida estar se desmoronando por idiotice ? Ele estava se tornando cego, fazendo a nossa amizade se tornasse um castelo de areia que está sendo desmanchado conforme as ondas vinham.
Noritoshi escondeu meu rosto até que eu me acalmasse, e assim que o choro foi parando, resolvemos ir aos poucos caminhando para longe dali. Não olhei para trás, não havia nada com que eu tivesse que me preocupar. Ao passarmos pela porta principal do colégio, eu me solto com as bochechas vermelhas e os olhos tristes. Eu tomei a decisão de me afastar do Yuji enquanto ele estiver assim, não será saudável para nós isso tudo.
— Ele foi um completo babaca. Desculpa dizer isso, mas pelo que o pessoal da sala disse, vocês são amigos a bastante tempo, certo? — Assenti — Tsc, um completo otário por ter dito aquilo para você.
— Eu sei... - Sorrio fraco ajeitando a mochila em meu ombro — Ele está apaixonado, não tenho o que dizer.
— Acreditar em alguém que acabou de conhecer e duvidar da melhor amiga é sim babaquice. Ele poderia ter conversado com você para entender o seu lado e não tomar conclusões precipitadas.
— Por favor... Esquece isso, eu apenas quero ir embora — Noritoshi me olhou por vencido e concordando. Envolveu seus braços em meu ombro e sussurrou dizendo que me acompanharia até em casa. Me surpreendi com sua atitude, até porque não somos próximos, apenas colegas de sala.
Não procurei encontrar razões para ele ter ido comigo até minha casa, mas quando chegamos, ele me deu um último abraço e seguiu seu caminho em silêncio. Ele era bem... peculiar e misterioso.
Kokichi já havia ido para casa, me mandou mensagem combinamos de fazer o trabalho outro dia, já que eu não estava mais com cabeça. Ele pelo jeito já esta sabendo da situação já que pediu para que eu me cuidasse e não pensasse muito no dia de hoje.
Corri para o meu quarto, sem falar com minha mãe que estava na sala vendo tv de folga do trabalho. Me joguei na cama chorando até não aguentar mais e sentir meus olhos arderem. Meu celular tocava, mas eu não queria atender ninguém, abracei meu travesseiro como sempre faço e fiquei repassando aquelas palavras ditas na hora da raiva. Quem ele anda se tornando... ?
Desbloqueio o celular vendo algumas mensagens chegando. Eram de Itadori com seus pedidos de desculpa, meu peito dói ao ver seu desespero em tentar se redimir. Mas eu acho que somos responsáveis pelas nossas ações e no momento eu apenas quero ficar sozinha.
*Bloquear Itadori*
Talvez só o tempo irá ajeitar as coisas.
— Yuji idiota... — Falo em um sussurro enquanto observo alguns ursos de pelúcia que ele havia me dado em cada aniversário.
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Amo uma história de amigos que se gostam mas não sabem admitir ~ rs
