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Ao olhar a primeira foto, eu vejo que foi tirada na primeira semana que meus pais e eu nos mudamos. Yuji não me largava, vivia o tempo todo aparecendo na porta da minha casa me chamando para brincar, ficávamos do comecinho da tarde até a noite juntos. A fotografia mostrava ele beijando a minha bochecha enquanto eu tinha uma expressão surpresa, provavelmente não esperando esse tipo de reação.

Já na foto seguinte, estávamos voltando do nosso primeiro dia de aula, ele fazia uma careta enquanto carregava minha mochila junto com a dele. Lembro que o mesmo sempre carregava seu casaco com capuz vermelho para que eu não precisasse levar o meu, ele dizia que gostava de me ver usando e que quando chegava em casa sempre abria um sorriso por ter o meu perfume.

Entretanto, dentre todas aquelas imagens, a minha foto preferida era a do baile de formatura do nono ano. Yuji usava um terno do seu irmão mais velho Choso enquanto eu vestia um vestido rosa claro que era quase da mesma cor que seu cabelo, ele me olhava nos olhos enquanto sua mão tocava minha cintura. Ele era incrível e um verdadeiro cavaleiro naquela época...

Observando foto por foto, vejo a tela do meu celular acender e eu notar que Emi pediu para que eu atendesse sua chamada em vídeo. Me olhei rapidamente no espelho e notei que não estava assim tão horrível, então se ela fizesse alguma piadinha sobre a minha aparência, eu me defenderia. Tsc, fala sério, não é como se tivéssemos aquela idade novamente.

— Oi Emi — Tentei sorrir mas soou mais falso do que eu pensava.

— S/n... Quanto tempo — Seu tom de voz estava diferente, ela parecia menos forçada que o normal e com uma aparência não muito bem cuidada.

— Sim, quanto tempo — Pensei em como abordar esse assunto, mas não conseguia bem iniciar. Olhei para todos os cantos do meu quarto enquanto coçava a minha nuca.

— Acho que você me procurou por causa de uma certa pessoa, adivinhei? — Deu uma risada sincera.

— Sim — Suspirei fraco agradecendo aos céus por ela ter tomado a atitude — Bem, sei que fazem anos desde que tudo rolou e nós não nos gostávamos, posso dizer que nem colegas éramos. Mas acho que não posso continuar seguindo a minha vida com tantas dúvidas em mente.

— Entendo — Ela virou pro lado fazendo a câmera se afastar do seu rosto, parece que ela dava um pequeno sermão em seu filho — Desculpa, crianças são tão difíceis de lidar... Onde paramos?

— Itadori...

— Ah, certo. Nós terminamos nosso relacionamente assim que terminamos o ensino médio — Emi pareceu pensar por alguns segundos antes de voltar a falar — Eu estava grávida mas não era bem dele, então acabei revelando a verdade e tivemos uma briga feia.

— Espera... Você estava grávida?

— Ele não te contou? — Neguei e a mesma suspirou como se tivesse vacilado consigo mesma em ter me contado — Olha, você se lembra do rapaz que você beijou no segundo ano? Ele era meu namorado... Nós tivemos um relacionamento bem conturbado por causa dos meus pais. Enfim, acabei descontando minhas frustrações em você e como vingança me aproximei do Itadori.

— Você o que ? — Elevei meu tom de voz sem acreditar — Porque não falou comigo? Pelo amor de Deus Emi, você destruiu minha amizade com o Yuji por causa de um mal entendido?

— Não e sim, mas lembrando que a amizade de vocês foi ele mesmo quem destruiu — Deu de ombro — Se ele fosse realmente seu melhor amigo, não teria te largado por causa de uma namorada.

— Tudo bem, mas você inventava situações que nunca aconteceram!

— Isso é verdade — Fez um estalo com a língua e revirou os olhos — Me desculpa, fui infantil.

— Se desculpas consertasse o passado — Falei baixo enquanto a mesma me olhava um pouco culpada — E a gravidez?

— Eu inventei que o Itadori era o pai na época do baile, por isso que ele não te buscou. Bem, o restante foi aquilo tudo que aconteceu, ele não conseguia tirar os olhos de você e do tal rapaz que te acompanhou. Estava incomodado. Depois da formatura, eu contei a verdade e nunca mais nos vimos.

— Isso tudo foi uma grande loucura. É verdade que eu não gostava de você, mas jamais seria tão baixa a esse ponto.

— Eu sei — Ela olhou pro chão antes de dar um sorriso fraco — O Yuji vivia falando o quanto você era incrível e fazia diversas coisas que ele gostava. No fundo eu sentia inveja de você ser o centro das atenções na vida dele, queria que todos olhassem para mim e me desejassem. Enfim, não podemos mudar o passado.

— Não, não podemos — Suspirei — Mas atualmente você está bem? — Perguntei despreocupadamente fazendo a mesma olhar para a câmera surpresa

— Ah... Sim — Ela chamou pelo nome de um menino e o mesmo se aproximou do celular — Esse é meu filho mais velho, ele tem nove anos. O segundo tem apenas alguns meses, está dormindo. Bem, eu consegui ter a família que tanto desejei com o Tanaka.

— Que ótimo — Mordi meus lábios inferiores — Obrigada Emi por ter revivido esse passado comigo... Mas agora preciso desligar.

— De nada, se cuida... E novamente, desculpa.

Desliguei a chamada e coloquei o aparelho ao meu lado. Voltei a dar atenção paras as coisas que estavam na caixa, toquei no chaveiro que eu ganhei do Itadori quando entramos no primeiro ano do ensino médio, nós dois usávamos em nossas mochilas e de vez em quando trocávamos por uma semana.

Talvez eu não queira jogar fora tudo o que vivemos, Yuji. Mesmo que tenhamos nos magoado, eu quero saber como você está.

Pego a caixa e resolvo tirar algumas fotos guardadas, penduro elas em um mini varal de fotos que tenho em cima da cabeceira da cama e fico olhando cada uma delas. Guardo o restante das coisas, tiro a toalha que secava meu cabelo e visto um pijama.

Me deito na cama abraçando meu travesseiro e fico pensando nas palavras da ex de Itadori. Então tudo foi um plano para nós afastar e ele como um grande idiota... caiu.

.

Itadori pov;

Tinha acabado de chegar em casa completamente exausto quando vejo uma mensagem com o meu pagamento adiantado. Esse trabalho estava me matando, minhas costas imploram por uma massagem.

Me sento na cama com o kit de primeiros socorros do lado e começo a limpar algumas feridas do meu corpo. Mãos, ombros, maxilar, nariz e boca. Solto alguns gemidos de dor ao sentir o algodão com álcool tocar minha pele sensível. Já tinha tomado banho, mas não havia esterilizado os locais com feridas abertas.

Ao terminar tudo, jogo a caixa de remédios e kit médico para debaixo da minha cama. Me permito deitar e afundar na cama, a luz do luar tocava meu rosto já que a janela estava aberta e as cortinas balançavam conforme o vento.

— Como será que ela está? — Fecho meus olhos e novamente me lembrado do seu rosto — Será que anda se alimentando bem? Será que ela encontrou alguém que a ame? Será que ela me superou?... — Sinto uma pequena lágrima escorrer e a limpo de imediato — Qualquer um será melhor do que você, Itadori, olha a merda de cara que você se tornou. 

Olha

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Olha... Eu conto ou vocês contam?

Cheiro de problema a caminho.


𝙵𝚁𝙸𝙴𝙽𝙳𝚂 - 𝙸𝚃𝙰𝙳𝙾𝚁𝙸 𝚈𝚄𝙹𝙸Onde histórias criam vida. Descubra agora