Capítulo extra

9 0 0
                                    

Bom, se foram dois anos, dois anos depois de começarmos a cuidar do Otto.

Foi idéia minha cuidar dele, e eu confesso que o propósito era adotar ele mas não conseguimos então apadrinhamos ele e todo fim de semana ele vinha para casa. Mackenzie está mal, na verdade ela ficou mal depois que uma outra família adotou o nosso garotinho e logo em seguida o Enzo teve que ser sacrificado por causa de um problema nos rins.

A imagem dela abraçando ele que estava sobre uma mesa de metal com um acesso com algo que o mataria não sai da minha cabeça. Cada uma das lagrimas que escorreram dos olhos dela estão gravadas na minha mente, ao ver os olhos escuros do cachorro se fecharem, ao sentir ele relaxar em seus braços ela tentava acordar ele mas... Ela percebeu que ele não voltaria. Ela gritava de dor, mas não dor física, dor emocional.

Nosso cachorro morreu.

Ela ainda guarda a pequena coleira azul, a qual veio com ele quando ele ainda cabia em nossos braços, ela ainda passa pela bancada da cozinha e olha pelo chão à procura da cama dele que não está mais ali. Ela ainda chora diariamente por ele mas sei que vai melhorar, pra mim também é horrível não ter mais os dois garotos que davam mais cor à essa casa, mas eu tenho que ser forte por ela.

Mesmo dormindo o rosto dela tem uma feição pesada, triste, seus cabelos estão soltos e ainda úmidos pelo banho recente, ela já não se cuida tanto quanto antes por conta das perdas que temos tido, então está por minha conta cuidar dela.

Os pais dela queriam se reconciliar mas ela tem medo de se machucar, então preferiu não se envolver com eles. Agora já é tarde, eles perderam a filha deles por causa do passado. Por causa das vezes em que deixaram de brincar com ela, pelas vezes em que a ignoraram ou até a esqueceram na escola fazendo com que ela fosse a última criança a ir embora e se sentir sem ninguém, se sentir esquecida...

Ela que costumava roubar meu cobertor à noite ou me jogar pra fora da cama mesmo que sem querer, agora dorme encolhida e sem nem se mexer, como se quisesse se proteger e dói muito em mim saber que o que eu posso fazer é somente tentar ajudá-la sem a mínima garantia de que vá funcionar. Minhas mãos passeiam pelas ondas de seu cabelo, a pouco tempo ela se virou de costas para mim ainda imersa no sono profundo, mas agora ela se virou pra mim e ainda de olhos fechados ela vem para os meus braços, posso sentir sua respiração sobre meu pescoço e seus braços apertarem minhas costelas.

—Eu te amo, sabia? —Sussurro sentindo o rosto dela se afundar em meu pescoço e deixar um beijo ali

Vou considerar isso como um eu também te amo.

—Obrigada por cuidar de mim. —Ela sussurra.

—Não faço mais do que minha obrigação, amor. —eu acaricio seus cabelos. —Hoje nós vamos fazer skin care mais tarde e eu vou preparar pipoca pra nós assistirmos filme.

—Não sei se estou muito animada.

—Eu não posso deixar você aqui vegetando nessa cama para entrar numa depressão horrível. Vai passar.

—Eu sinto falta deles...

—Nós sentimos, amor. —a lágrima dela molha minha pele. —Você não ia preferir ver o Enzo numa mesa de hemodiálise várias vezes na semana, vendo ele sofrer...

—Mas agora quando você sai, eu fico sozinha, com ele aqui nós brincávamos, saíamos pra passear...

—Eu te entendo meu amor, te entendo

—Meus pais ligaram?

—Não. Acho que eles perceberam que você não precisa mais deles, porquê agora você tem um namorado que cuida de você, e que faz o possível e o impossível pra te ver feliz.

—Obrigada, —ela se ajeita em meu pescoço. —eu acho que eu deveria ser mais recíproca com você, e eu tô tentando, tá bom?

—Você já cuida de mim

—Mas não chega aos pés do que você faz por mim.

—Eu acho que você cuida de mim melhor do que eu cuido de você.

—Sério?

—Seríssimo

—É que eu tenho um pouco de dificuldade em cuidar de outras pessoas...

—Uma pessoa que não recebeu tanto cuidado tem dificuldade em cuidar dos outros, é normal. Sabe qual foi a minha maior dificuldade? Amar uma mulher que não estava acostumada a receber amor, uma mulher que não sabia como lidar ou o que esperar de um homem.

—Com quem você aprendeu a ser assim? —ela sorri.

—Sempre depois do trabalho meu pai trazia alguma coisa pra minha mãe, podia ser flores, chocolate ou a coisa mais simples do mundo, e minha mãe sempre dizia, "nunca faça menos do que isso para a sua mulher." —eu dou uma breve risada recordando.

—Ela criou um homem de ouro.

—A sua mãe também, ela me deu a melhor mulher que eu poderia sonhar em ter.

—Mesmo essa mulher tendo a metade da sua idade, problemas psicológicos, e dificuldade em dar e receber afeto?

—Eu amo até seus defeitos. E não fale como se a sua idade fosse um problema em relação à minha.

—Eu sei que não é, quarentão.

—Da última vez que você me chamou assim, passou a noite sem sentir as pernas, já esqueceu?

—Não, senhor.

—Mackenzie... Vigia, hein. Senhor é meu p... —sou interrompido pela campainha. —Eu já volto, espera bem aí. —eu me levanto ouvindo ela resmungar pela falta de contato físico.

Eu vou até a porta da sala e pego algumas coisas que chegaram pra Mackenzie e fecho a mesma, ao caminhar até o quarto vejo Mackenzie olhar para mim atentamente e olhar para o que tem em meus braços, um buquê de rosas brancas, uma caixa de chocolates e

—Um gatinho, amor! —pela primeira vez depois da ida do Enzo vejo ela se sentar na cama por livre e espontânea vontade.

Eu coloco os chocolates na cama e entrego pra ela se flores e o filhote cinza que parece com medo.

Eu me sento ao lado dela e pego sua mão, o olhar dela chega até meu rosto, sua boca sorri nitidamente mesmo que sem mostrar os dentes e seus olhos brilham.

—Nunca aceite menos que isso vindo de mim, amor. —eu beijo a mão dela vendo seus lindos olhos brilharem.

====================

Oi leitor, tudo bem? Com muita dor no coração eu venho dizer que agora sim acabou! Não se esqueça de votar clicando na estrelinha aqui embaixo! Não seja um leitor fantasma!

Beijos!

Ass: Madd Cavell🌺

Ass: Arthur CorradiOnde histórias criam vida. Descubra agora