Capítulo Dezesseis

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Levi Prescott:

O ar ao nosso redor parecia mais denso, como se estivesse impregnado pelas palavras sombrias de Natsuls. O choque e o temor se entrelaçavam dentro de mim, criando uma sensação desconfortável no peito.

- Esse corpo tem um irmão que ainda vive? - perguntei, minha voz carregada de incredulidade.

Natsuls assentiu indiferente, desfrutando do impacto de suas revelações.

- Sim, um irmão. Um irmão que nunca soube que existia, um irmão ligado a esse corpo. Ele é um trunfo que mantive escondido para garantir a obediência de um servo perfeito.

A raiva começou a borbulhar dentro de mim. Como ele ousava usar outra vida como barganha para controlar a minha?

- Você está disposto a sacrificar outra vida apenas para conseguir o que quer? - acusei, sentindo a fúria pulsar em minhas veias.

O sorriso de Natsuls se alargou, revelando um prazer obscuro.

- Não vejo isso como um sacrifício. É uma simples peça no tabuleiro, uma peça que pode ser sacrificada pelo bem maior. Devo usar cada método que tenho à minha disposição.

Spike interveio, sua expressão endurecida pela indignação.

- Isso é monstruoso, Natsuls. Usar outro ser, uma vida inocente, como peão em seus jogos de poder? Isso ultrapassa qualquer limite.

Natsuls deu de ombros, demonstrando uma frieza perturbadora.

- No jogo da vida e da morte, algumas peças precisam ser sacrificadas. Vocês não entendem a magnitude da ameaça que se avizinha. Essa pequena criança, que nem tem dez anos direito, é uma carta na manga que pretendo usar para assegurar nosso domínio sobre o reino espiritual, se for necessário. - Ele sorriu friamente. - Posso dizer que ele seria uma ótima moeda de troca entre outros espíritos, caso seja necessário.

A urgência da situação tornou-se evidente, e a batalha não era apenas contra a imposição do meu retorno ao reino espiritual, mas também contra a cruel manipulação de Natsuls sobre vidas inocentes. Uma escolha difícil se desenrolava diante de mim, e eu sabia que desafiar meu irmão e proteger qualquer pessoa não seria fácil. Encarei os olhos dourados em um longo silêncio; antes, tinha medo deles, mas agora não sentia mais nada por esses olhos. Abri minha boca:

- Quando partirmos - Spike disse ao meu lado, e olhei surpreso para meu namorado.

- Não vou te abandonar nessa situação, ainda mais com um cara como esse te forçando a tomar essa decisão - Spike afirmou.

- Agora.

A palavra ecoou, e até mesmo André ergueu a cabeça para me encarar com horror mudo. Mas não podia olhar para ninguém nesse momento. Virei-me para meus pais. Os olhos do pai Jacob estavam marejados, então baixei o olhar. Natsuls assobiou enquanto se afastava, caminhando lentamente, e ficou andando de um lado para outro, esperando a partida, até que Cilas e os demais começaram a correr para arrumar as coisas. Eu não queria contemplar para que meu coração doesse ainda mais, e fiquei com minha avó, olhando de soslaio para Natsuls com uma certa desconfiança.

Minha avó criou uma arma e entregou-a para mim junto com uma faca.

- Caso precise - ela disse com um sorriso.

- Vamos, Levi, temos que nos apressar. - A voz de Spike, cheia de preocupação, quebrou o silêncio tenso.

Assenti com a cabeça, forçando-me a afastar o olhar de Natsuls. Minha avó apertou minha mão, transmitindo silenciosamente seu apoio.

- Não permitiremos que ele use seu irmão contra você. - Spike reforçou, determinado.

Antes de partir, encarei mais uma vez Natsuls, cujo sorriso frio indicava que ele apreciava a confusão que instigaram. Não podia permitir que ele ganhasse essa batalha psicológica.

Elo Sagrado (MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora