Eu quero viver

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Eu não fazia ideia de que tinha outra pessoa na família deles, Nina não nos explicou a história só disse pra gente ir até lá e agora que a casa está a vazia não tinha problemas.

Descemos do carro e entramos, eu estava tremendo só de lembrar da última vez que estive aqui.. tentei ignorar meus pensamentos e seguimos até a sala daquela outra vez. Ainda estava tudo normal, claro tirando tudo que estava jogado no chão, e o sangue dos seguranças que morreram na nossa invasão.

— De qual porta é essa chave? Tem várias..

— Acho que sei de qual é, ela tem um botão vermelho escondido atrás de um quadro, bem ali.

Thomas tirou o quadro e logo vimos o botão, matando nossa curiosidade ele apertou e uma espécie de sirene tocou do lado de dentro, uma pequena janela se abriu na porta e logo um par de mãos foi estendido do lado de fora como se estivesse pedindo alguma coisa..

Aquilo era bizarro era como se tivesse um animal enjaulado pedindo comida ou algo assim.

Thomas pegou a chave e destrancou a porta, as mãos sumiram rapidamente e quando abrimos a porta a cena era horrenda.. uma mulher mais velha cerca de cinquenta anos, desnutrida, vivendo no meio do lixo... haviam moscas e ela estava nua no meio de tudo aquilo..

Eu nunca tive estômago fraco mas por causa da gravidez eu fiquei enjoada, nunca pensei em ver algo assim e até pra mim aquilo era extremamente chocante.

Acho...acho que eu vou vomitar...

Precisei correr até a lareira sem conseguir me conter o cheiro era insuportável e eu me perguntava como aquela mulher estava viva estando daquele jeito.

Eu estava tremendo Thom me ajudou a levantar e limpar a boca mas eu ainda estava enjoada. Ele também estava sem reação o que só confirmava que aquilo era demais pra nós dois. A mulher do lado de dentro nos olhava assustada, ela não nos conhecia lógico que não ia confiar em nós.

— Qual é seu nome?

Ela não me respondeu apenas se afastou ainda mais entrando no meio da escuridão do quarto. Ela mal podia andar, estava tão fraca e magra, pensei que o que eles fizeram com a Nina era ruim mas isso supera tudo.

Thomas ligou pro papai e explicou a situação, a mulher ainda não dizia nada mas estava olhando pra mim fixamente parecendo me analisar... posso estar louca mas acho que ela se parece muito com Victor principalmente a cor dos olhos é igual.

— O papai está vindo... vamos precisar esperar enquanto isso... senhora, meu nome é Thomas essa é minha irmã Freya consegue nos entender?

— Acho que ela não fala nosso idioma Thom, lembra que a Nina disse que ela era tia então deve falar russo.

— Tudo bem vamos esperar.

Eu estava inquieta, sentia que tinha alguma coisa errada algo que eu deveria saber mas toda essa situação já era muito estranha. Com certeza Ivan sabia sobre essa mulher aqui então porque não fez nada? E o pior nos fez transar aqui com algo tão bárbaro acontecendo a poucos metros de distância.

Alguns minutos depois meu pai chegou com sua equipe, ele encarou a cena também chocado com o que estava vendo e para o meu pai estar chocado realmente era algo horrível.

— Tirem ela daí com cuidado..

Meu pai deu a ordem e os seguranças seguraram ela pelos braços a ajudando a caminhar, quando saiu de lá estava atordoada, dava pra ver em seus olhos que não estava esperando sair daqui mas nos surpreendendo ela não resistiu em nenhum momento pelo contrário.

Ela tentava caminhar depressa mas mal conseguia dar dois passos sem cair, um dos seguranças a pegou no colo mesmo suja e caminhou com ela pra fora dali, quando chegamos ao lado de fora a mulher começou a gargalhar e a chorar e parecia realmente feliz...

Isso era tão triste.

— Vamos levar ela pra casa, chamem uma cuidadora especializada e não deixem que ninguém saiba. Ela precisa de banho e medicamentos consigam um médico geral.

— Pai acha que é bom levar ela pra nossa casa? Não seria melhor levar pro hospital?

— O governo já não pode nos apoiar nessas coisas, isso iria pra mídia não podemos arriscar.. quem é essa mulher afinal?

— Só sabemos que é tia da Nina mas além disso mais nada.

— Vou pedir sua mãe pra investigar e ver o que ela pode descobrir. Enquanto isso, Thomas leva sua irmã pro hospital.

— O que?! Não, pai porque?!

— Porque você não parece bem e está grávida, eu não vou permitir que seja negligente com você mesma.

— Eu não estou sendo negligente, Tadeu disse que eu estou bem e eu estou me sentindo bem pai.

— Tudo bem então não vai se importar em fazer alguns exames só pra garantir.

— Papai acabamos de encontrar uma mulher em cárcere a sabe lá quanto tempo e você quer que eu vou pro hospital?!

— Você não pode fazer nada por ela e eu já estou cuidando disso, você vai pro hospital Freya isso não é um pedido.

Ele saiu sem me deixar questionar mais, meu pai não costuma me dar ordens mas quando faz isso eu sempre me sinto uma criança. Thom me arrastou até o carro e me obrigou a ir com ele pro hospital.

Ele parecia já ter pensado nisso porque quando chegamos ele já estava com meus documentos. Preenchemos a ficha e aguardamos até a médica aparecer, Thom ficou perto de mim no utrasson, na ressonância, no exame de sangue, no exame de pressão e todo o resto até terminarmos tudo.

— Pelo que vejo é seu primeiro bebê..

— Sim, porque?

— Freya eu não tenho boas notícias, o bebê está saudável mas você não.

— Não?... como assim?

— Não sei se já teve casos na sua família mas seu corpo não é forte o suficiente pra um bebê... você pode gerar e pode fazê-lo nascer bem mas essa "síndrome" afeta seu metabolismo.

Thom apertou minha mão tendo a mesma sensação de medo que eu, essa foi a mesma síndrome que minha vó teve, porisso ela morreu quando meu pai nasceu.

— Chamamos de "bebê vampiro" o bebê cresce forte e saudável mas ao mesmo tempo isso vai desnutrindo a mãe aos poucos, em raras vezes a mãe sobrevive ao parto. Não quero te desanimar mas precisa entender a gravidade.

—...vou morrer não é...

— Não fala isso Freya!

— Você ouviu Thom! É a mesma coisa que nossa vó teve e você viu o que aconteceu com ela.

— Você precisa se cuidar mais que uma grávida normal, beber mais água, se exercitar mais, comer extremamente bem... precisa apenas se preparar para o parto e se manter forte até lá.

— Mesmo assim ainda corre o risco dela morrer doutora?

—...o risco pode ser diminuído se ela tiver esses cuidados.

Mas isso não significa que não tenho riscos, e isso me assusta porque eu não me importo de morrer se meu bebê estiver bem. Mas não sei se Victor vai se recuperar e não queria deixar Thom com a responsabilidade de criar meu bebê.

Eu quero estar viva para ver ele crescer, andar e falar... quero o pai dele vendo isso também mesmo que Victor não queira mais estar comigo quando acordar. Não quero que meu filho cresça sem mim, eu quero viver..

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora