Apoio da família

658 70 9
                                    

— Posso falar com você filha?

— Mãe agora não porfavor... eu já sei o que vai dizer.

— Não você não sabe..

Ela entrou no quarto mesmo assim trancando a porta com algumas fotos nas mãos, eu nunca tinha visto aquilo e quando ela me mostrou eu não pude conter minha surpresa. Eram cerca de cinco fotos e ela estava mais jovem em todas, não que minha mãe não fosse jovem mas ela parecia ser uma adolescente.

— Eu nunca vi isso..

— Odiava tirar fotos nessa época..

Em todas ela estava usando um moletom gigante e estava perto dos meus avós com um semblante bastante triste, me lembro dela dizer que sofria com bulimia e com tudo que passou na época da escola eu não a julgo por se vestir assim naquele tempo.

— Eu tinha dezessete anos aí, foi um pouco antes do seu pai me sequestrar.

— Ainda não posso acreditar que ele fez isso..

— Ei não ri assim, na época não foi engraçado... antes de morar aqui eu tinha uma vida horrível, é claro que meus pais não sabiam.

— Porque nunca contou a eles? Tudo que o papai fazia com você na escola?

— Porque eu gostava de ser maltratada, e me odiava e odiava ele por isso.. claro que eu não admitia isso. Mas eu também não contei aos meus pais por medo da reação deles.

Ela me mostrou outra foto que tinha em sua mão mas desta vez estava com seu vestido de casamento, bem colado ao corpo marcando seu quadril avantajado. Ela estava impecável.

— Nessa foto eu estava grávida mas eu ainda não sabia, descobri nesse mesmo dia a noite depois do Pierre insistir pra eu fazer um teste.

— Estava tão bonita mãe... o papai também mas você estava deslumbrante..

— Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida, consegue notar a diferença das outras fotos? Sabe o porquê dessa diferença?

— Não, porque?

— Eu aprendi que pra resolver meus problemas eu não poderia fazer sozinha, querendo ou não eu tive que aprender a confiar nas pessoas.. odiei e amei seu pai por muito tempo até perceber o que ele queria fazer de mim.. ele queria me tornar uma mulher, e não digo no sentido sexual. Ele queria me tornar confiante, queria me tornar adulta e acima de tudo ele queria ser meu apoio.

Eu entendi o que ela estava tentando dizer, nunca me faltou carinho em casa, nunca me faltou confiança, mas por algum motivo eu simplesmente não consigo desabafar. Na minha mente eu sempre preciso resolver meus problemas sozinha sem pedir ajuda e isso me mata por dentro.

— Eu não queria deixar vocês preocupados atoa.

— Atoa? É uma doença Freya.

— Eu sei mas... eu não queria pensar sobre isso mãe... eu estou grávida e o medo de não poder ver meu bebê crescer está acabando comigo.

— Eu entendo meu bem, mas entende que sem ajuda pode ser pior? Não é como se você não tivesse uma chance, você tem chances de sair disso mas sozinha você realmente não vai conseguir.

—...eu não quero morrer mãe...

A forma como ela me olhou me fez chorar. Me coloco no lugar da minha mãe agora vendo todas essas fotos, ela se apaixonou e casou com quem estava apaixonada, teve filhos e nos gerou com todo amor que tinha, nos criou tão bem e agora tudo isso todo esse trabalho e cuidado estava prestes a desaparecer.

Ela me abraçou e eu podia sentir seu coração acelerado, minha mãe é a pessoa que mais me ama no mundo e eu não queria estar fazendo ela sofrer assim..

— Isso não vai acontecer está ouvindo? Me recuso a perder você, temos uma família lá embaixo que está disposta a tudo por você filha, nada de ruim vai te acontecer.

Minha avó deu sua vida pra que meu pai ficasse bem, obviamente pelo meu filho eu faria igual mas eu prefiro lutar por nós dois, eu não vou me dar por vencida facilmente.

Depois de falar comigo minha mãe me convenceu de descer, estava um clima péssimo todos na sala pensativos e inclusive meu avô que não se importa com mais nada, era exatamente isso que eu estava tentando evitar mas agora que todos já sabem não tenho outra opção a não ser tentar mudar isso.

— Porque essas caras? Até parece que eu já morri.

— Freya não diz isso.

— Foi só uma piada tia Cristal relaxa.. olha eu não quero ninguém triste tá bom, isso me desanima.

— O que quer que a gente faça?.- Pierre disse em uma crise de choro enquanto Bill o consolava.— Eu não posso fingir que está tudo bem, eu te vi nascer... não literalmente mas você entendeu.

— Eu não quero que finja que esta tudo bem Pierre, eu só não quero ter esse clima fúnebre toda vez que eu estou perto. Porra eu ainda estou viva e pretendo continuar.

— Vamos te ajudar em tudo pequena, mas precisa ser honesta com a gente... temos que saber seus dias bons e ruins, o que está sentindo e do que precisa, nada de segredos mais.

— Claro tia, eu vou dizer... mas porfavor voltem ao normal ok.

Meu avô foi o primeiro a se levantar e vir até mim me abraçar como sempre fez tentando me consolar.

— Eu sei que parece que eu não me importo mas eu amo você, me procure sempre que precisar..

— O senhor está aposentado dos problemas da família vovô, o senhor mesmo me disse..

— Eu abro uma exceção pra você querida.

Ele me deu uma nota de cem euros como se estivesse me passando drogas e depois saiu. Era engraçado ver que ele ainda tem os mesmos hábitos de quando eu era uma criança. Todos se levantaram e vieram até mim me abraçando em coletivo, eu adoro a sensação de ser amada pela minha família, isso deixa meu coração aquecido e me faz ter a ideia de que talvez eu não seja uma pessoa tão ruim.

— Bom, já que está bem hoje vamos voltar as nossas atividades mas se sentir qualquer coisa Freya, é sério qualquer coisa....

— Não se preocupe tia Cristal, eu aviso prometo.

Em uma fila eles passaram me dando beijos e mais beijos até todos saírem dali. Thom e Nina estavam sentados no sofá nos observando e honestamente eu não sabia que reação ter com meu irmão. Eu sei que ele só estava tentando ajudar mas eu pedi pra ele não fazer isso, se fosse antes ele nunca teria contado o que está havendo com nossa parceria?

— Está chateada ainda?

— Claro Thomas. Eu pedi pra não dizer.

— Eu precisei fazer isso, sinto muito mas eu não te prometi que não contaria.

— Você nunca promete mas sempre faz mesmo assim. O que está acontecendo? Não somos mais parceiros?

Ele saiu de lá sem me explicar me deixando ainda mais confusa e irritada pensei em ir atrás dele e reclamar mas antes que pudesse fazer isso Nina me impediu.

— Ele está sobrecarregado.

—...o que?

— Porisso ele contou... ele está preocupado comigo, com você, com Victor, com o trabalho e ainda tem meu irmão que ainda está vivo... Ele só não estava aguentando carregar tudo sozinho Freya.

Comecei a me sentir estúpida, sem perceber eu estava deixando a carga em cima dele e o fazendo de escoro pros meus problemas. Nina tem razão ele está sobrecarregado e eu não posso ficar chateada por ele ter contado.

Merda eu estou sendo egoísta pra caralho.

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora