A verdade por trás de mim

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Era cerca de uma da manhã quando desci até a sala, Ivan estava dormindo como pedra e a casa estava silenciosa como nunca. Procurei pelo Victor mas não o encontrei, estava quase desistindo quando vi uma luz estranha vindo do lado de fora.

Sai de casa a passos lentos e estava frio no jardim, notei que a luz vinha do portão de entrada e parecia ser os faróis de um carro. Eu ainda estava de pijama mas não me importei em seguir aquilo e quando me aproximei

— Não deveria estar fora da cama senhorita Clark.

— Que carro é esse?

— O meu carro..

— Mentira... você tem um Rolls royce?!

— Não sabia que entendia de carros... gosta deste?

— Depois de ter um cavalo esse era meu segundo sonho, Uau..eu estou... sem fôlego...

O carro era grande e de luxo eu nunca tinha visto um pessoalmente mas era meu maior sonho poder comprar um. É óbvio que minha família tem dinheiro o suficiente para comprar mas como eu disse tudo que eu quero eu preciso conquistar.

— Está começando a nevar na cidade, quer ver?

— Vou adorar..

Ele me fez entrar no carro e enquanto assumia o banco do motorista fiquei observando o carro por dentro era todo vermelho e acolchoado, um verdadeiro sonho.

Ele arrancou de uma só vez me fazendo gritar pelo susto, comecei a rir sem parar e ele acelerou ainda mais pra longe dali. Estávamos seguindo para a praça central de Londres, o inverno já estava começando e a neve densa já começava a cair, a decoração das árvores deixava a noite iluminada e estava lindo.

Victor acelerou o carro pegando uma estrada diferente que eu nunca tinha visto, a cada curva ele acelerava me fazendo rir alto pela sensação. Olhei para ele vendo a adrenalina em seus olhos e quando acelerou ainda mais gritamos alto ao sentir o carro derrapando no barranco alto que dava pra costa.

Ele freiou bruscamente em frente a um bosque distante do centro da cidade, parecia deserto e nesta época do ano dava pra ver a lua brilhando no céu e os grãos de gelo que se formavam nas flores do campo que estavam murchando depressa pelo frio.

— tão linda...

Disse me referindo a lua e logo senti sua mão acariciando meu rosto.

— É... muito linda...

Pela primeira vez na vida eu estava envergonhada, sentia meu rosto queimando e meu coração acelerado desta vez não era adrenalina..

— Quando me mudei pra cá estava nesta mesma época do ano... Estava com saudade de casa então vim até aqui, dirigindo sem rumo... é meu escape pessoal.

— Gosta de Londres?

— Não, porque até agora tirando este lugar eu só conheci a parte ruim desse país.

— Eu sinto muito por isso. Queria poder te mostrar a parte boa mas eu nunca poderia fazer isso porque faço parte da coisa ruim.

— Freya não diz isso..

— É a verdade Victor... eu não me sinto culpada por matar mas eu me sinto culpada por não me sentir culpada... deveria me importar com as coisas que faço mas não me importo.

— Porque decidiu trabalhar com isso então?

— Tenho uma condição mental, sempre pareceu mais fácil fazer o que meus pais fizeram e apenas me entregar ao meu problema abraçando ele como se fosse uma solução...

— Uma condição mental? Te deixa violenta?

— Se eu não desconto minha raiva ela se acumula, eu poderia me tratar mas Thomas e eu escolhemos seguir os passos dos nossos pais e fazer disso um trabalho.

— Se arrepende?

— Não mas... as pessoas não entendem... me tratam diferente, eu só quero ser amada como qualquer outra pessoa..

Eu nunca fui tão sincera na minha vida, queria ser aceita e não julgada o tempo todo, tirando essa condição eu ainda sou uma pessoa, quero ter uma família e sou sensível demais pra explicar isso sem querer chorar como agora.

Eu nunca tive amigos porque Thomas sempre foi o único que me entendia, pensei que Ivan me entenderia por tudo que já fez com a irmã mas ele só me enxerga como uma mãe para um futuro filho dele.

Eu quero ser amada, quero ter um casamento bonito como o dos meus pais, quero filhos, um marido ou esposa que me ame pelo que eu sou sem julgar minha parte feia...

— Acho que não sou digna de ter amor..

— Você é linda Freya, por fora e por dentro... tem bons sentimentos apesar de tudo que já fez e de tudo que ainda faz. Deveria reconhecer mais sua parte bonita.

Thomas era o bonito, ele tem dignidade, trata as mulheres bem a menos que não goste delas mas ele nunca perde a classe em relação a isso. Até com raiva da Nina ele a trata como uma princesa, é isso que eu quero pra mim alguém que me trate como uma pessoa.

— Acho que gosto de você Freya, nunca gostei de ninguém então não posso garantir que seja realmente isso mas você me faz sentir coisas que eu nunca senti nos meus vinte e cinco anos de vida.

Eu me sentia tão culpada por estar enganando ele, claro que eu também gosto dele mas é diferente, isso começou porque eu precisava dele mas agora eu não quero mais enganá-lo... não me importa mais saber o que tem atrás da porta eu não vou fazer isso com ele, eu não consigo...

Apenas o beijei deixando ele consumir minha boca, precisava me desculpar dessa forma ou de qualquer outra forma, ele é uma boa pessoa e eu não podia mais enganá-lo assim.

— Me desculpa..

— Pelo que?

— Por não ter visto você antes de tudo...

Ele agarrou minha coxa me puxando pro seu colo no espaço apertado do carro, tirando o cabelo do meu rosto ele acariciou minha bochecha me fazendo suspirar pelo ato tão doce e meigo, ninguém além do meu irmão me trata dessa forma.

— Está com Ivan mas eu não sei seus motivos e nem quero saber, só me deixe ficar perto de você enquanto eu puder e ficará tudo bem..

—... vou me casar com ele amanhã..

—.... Você ama ele?

— Não mas é um mal necessário..

Não sei o que ele pensou mas com certeza não gostou da ideia, apenas me beijou outra vez tocando minha cintura com força enquanto aprofundava sua boca na minha. Podia sentir ele rígido entre minhas pernas e estava se contendo.

— Se não ama ele então eu não me importo com o casamento. Freya eu sou um homem decidido, se aceitar ficar comigo eu vou ficar com você independente se esta com ele, mas eu preciso ter a sua confirmação.

— Eu quero você, não importa o Ivan...

— tudo bem, vamos continuar com o que temos até não dar mais. Podemos nos encontrar a noite como agora ou quando você puder isso não importa.

Ele estava disposto a se arriscar por mim e isso era muito mais do que eu esperava de alguém, quando tudo isso terminar quero ter algo sério com ele se ele também quiser, quero poder apresentá-lo pros meus pais como meu namorado oficial e eu só espero que até lá ele ainda me queira.

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora