"Consertando" as coisas

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Contei ao Victor o que eu tinha feito e a reação dele foi a mesma do meu pai. Entendi perfeitamente o soco na cara até porque eu mesmo me daria um se tivesse como.

— O que você pensou que ia acontecer?!

— Foi mal mesmo eu... pensei que conhecia a Freya o suficiente..

— Ninguém conhece ninguém o suficiente Thomas. As pessoas são imprevisíveis principalmente quando não tem controle sobre elas mesmas.

— Esse era o problema... Freya sempre esteve no controle de tudo, da minha vida, da dela, dos nossos pais... não sabia que algum dia ela poderia ficar assim.

Freya é aquele tipo de pessoa confiante, sem medos infundados, sem inseguranças... ela tem tudo sobre controle sempre e o tempo todo.

Eu sou a parte insegura de nós dois, como é possível ela ter ficado assim? Não faz nenhum sentido pra mim.

— Conversamos na semana passada sobre o que aconteceu com Ivan... ela disse que se perdeu quando soube da gravidez, você estava longe e ela não sabia agir sem você.

— Precisava me afastar e mostrar a Nina as coisas que ela nunca tinha visto.

— Não tô te culpando por isso, só quero que entenda que Freya perdeu o controle cinco meses atrás quando tudo aconteceu.

Isso estava na minha cara a tanto tempo e mesmo assim eu não notei, minha irmã nunca chorava mas desde o abuso ela não parou de chorar, a forma como está sempre pensativa, o jeito como perdeu peso rápido mesmo estando grávida tudo isso não era a doença era Freya pedindo ajuda.

— Eu tenho que resolver o que eu fiz mas eu não sei como...

— Seja sincero com ela, você a fez pensar que a vida dela não tinha sentido consegue imaginar o que ela deve estar pensando agora?

— Você tem razão, eu sinto muito... pode cuidar da Nina pra mim? Eu vou voltar pro hospital..

— Conserte isso Thomas, do contrário... Freya é impulsiva pode fazer muitas coisas..

Peguei as chaves e o celular e dirigi rápido até o hospital, sei que meu pai mandou eu não me aproximar até segunda ordem mas eu estava com a consciência pesada e não podia mais esperar. Quando cheguei ao quarto meus pais, Pierre e Bill estavam com ela.

Entrei sem querer e eles me encararam com raiva ainda pelo que tinha acontecido, Freya se retraiu como se estivesse com medo, eu não queria que minha irmã tivesse medo de mim que merda eu fiz?

— eu... eu posso falar com a Freya...

— Já fez muito hoje Thomas eu disse pra não voltar aqui.

— Eu sei pai mas... eu prometo que vai ser rápido... porfavor.

Eles olharam pra Freya na cama e a mesma assentiu com os olhos cheios de lágrimas, podia ver os batimentos acelerados na máquina ela estava com medo de mim.. meus pais saíram e Pierre e Bill foram logo atrás, quando ficamos sozinhos eu não sabia o que dizer.

Ela estava visivelmente apavorada, acho que espera mais ofensas da minha parte e eu não queria que ela tivesse essa visão de mim.

— Eu entendi o que você disse... se voltou pra falar mais coisas não precisa...

— Não... eu queria pedir desculpas.. eu não quis dizer aquilo Freya eu estava irritado.

—...só disse verdades...

— Não claro que não, você não é nada do que eu disse... pensei que estava sendo dramática se machucando de propósito mas eu entendi que você não está pensando bem.

— Eu não estou louca.

— Mas também não está normal... Freya eu sinto muito, não foi minha intenção te fazer mal eu não sabia..

— Tudo bem... não foi nada, eu tô bem.

Ela dizia isso com um semblante triste e eu sabia que estava mentindo, tomei coragem para ir até ela e me sentei a sua frente segurando sua mão, ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas deixando que caíssem sobre seu rosto.

Parecia tão cansada... exausta na verdade...

— Não está nada bem, tudo que eu disse aquilo não era verdade. Precisa saber que você é importante pra mim.

— Eu sei, está tudo bem Thom... eu estou tranquila.

Eu conheço minha irmã o suficiente pra saber que isso tinha mais que um sentido na sua cabeça. Ela estava pensando demais e mesmo dizendo que está tudo bem não está.

Não conseguiria fazê-la falar hoje mas vou continuar tentando até ela desabafar comigo. Ela ainda acha que é verdade o que eu disse e preciso provar a ela o contrário. Ela mesma me abraçou me deixando confuso por seu ato repentino.

Era como se estivesse machucada por dentro mas foi eu mesmo quem a machucou desta vez então porque estava me abraçando ao invés de me bater?

— Obrigada Thom...

— Pelo que?

— Por me aturar desde o útero da mamãe...

— Foi uma tarefa difícil..- ela riu contra meu pescoço suspirando em seguida como se estivesse
pensando.— Ainda temos a vida adulta e a velhice pra nós aturar, não vai se livrar de mim tão rápido.

—....claro... até que a morte nos separe irmão...

A afastei encarando seu rosto por essa frase tão estranha e ela sorriu pra mim desanimada, ela tentou se matar mas não faria isso de novo eu não permitiria, estava pronto para perguntar sobre isso quando ela mudou de assunto.

— Descobri que é uma menina...

— Sério? E o que achou disso? Você gostou?

— Muito... eu já escolhi o nome mas não quero dar certeza ainda, preciso saber se vai combinar com o rostinho dela..

— Eu mal posso esperar pelo nascimento dos bebês eu estou ansioso, acho que Nina vai ter um parto fácil ela anda muito animada..

— Eu fico feliz por ela...

Notei como Freya ficou triste quando eu disse isso e só então me lembrei da sua doença e de como o parto dela vai ser difícil.

— Freya eu não quis....

— Tudo bem... eu estou mesmo feliz por ela, pelo menos uma de nós vai.... merda....

Ela tocou a barriga parecendo sentir dor, a mesma dor das crises, isso tinha voltado rápido.
Ela deitou na cama se retraindo ao sentir e eu corri para chamar a médica e meus pais.. eles vieram rápido e a médica a avaliou pra saber o que podia fazer mas sua expressão não era nada boa.

— Eu não posso mais dar medicamentos a ela..

— O que?! Ela está com dor doutora como assim?! E o coquetel que passou?!

— Ela teve uma overdose, se eu der mais medicamentos aí sim vai afetar o bebê.

Não... não me dá nada então... eu aguento..

— Freya isso vai ficar mais forte.

— Eu aguento Thomas!

Meus pais olharam pra mim com a mesma expressão de medo e angústia, não é possível que agora que as dores estavam piorando eles não podiam fazer nada. Ela vai ficar mais fraca e isso vai piorar na hora do parto...

Ela vai morrer.

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora