Terapia

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— Olá, me chamo Milena seus pais me mandaram até você espero que não seja um incômodo.

— Na verdade é sim mas estou disposta a tentar.

— Obrigada pela sinceridade, podemos começar?

Eu não fazia ideia de como terapia funcionava, tudo que eu sabia é que tinha que contar meus sentimentos a uma completa desconhecida no que isso ajudaria?

— Primeiro eu tenho que te felicitar pela gravidez, já esta na fase final não é?

— Sim está.

— E como está se sentindo com isso? Em relação ao bebê eu digo.

— Estou feliz, eu sou muito jovem mas isso não importa muito...

— Não importa? Não acha um pouco precoce ter um filho agora?

Na verdade eu acho sim mas considerando que vou morrer logo em seguida não faz diferença.

— Tanto faz, já esta aqui e não tem nada que eu possa fazer.

— E sobre sua doença? Não parece preocupada.

— Eu estive, mas da mesma forma não tem nada que eu possa fazer então o que me resta é aceitar.

— Parece que não se importa não porque não tem nada a fazer mas porque talvez queira isso.

— Querer? Como acha que posso querer algo assim?

— Basta olhar como está agindo diante a situação, está se preocupando apenas com seu bebê pelo que pude perceber mas não está se preocupando com você.

— É a mesma coisa, meu bebê está dentro de mim.

— Não Freya, é diferente... apesar de compartilhar o mesmo corpo vocês são duas pessoas diferentes. Daqui a um mês seu bebê já não vai mais estar dentro de você, o que espera? Como acha que você vai estar?

— Morta.

— E se não estiver morta? Tem muitas chances de sobreviver.

— Ah claro... você é a típica otimista... quer saber Milena eu não me preocupo com as chances de sobreviver, se é o que está perguntando. Tenho uma família incrível que pode criar minha filha muito bem.

— Mas então porque você não a cria?... do que tem medo? Seja honesta comigo pra que isso funcione.

Eu não sabia o que dizer, eu não queria desabar na frente de uma desconhecida mas isso estava doendo e tinha medo de que minha filha sentisse minha dor.

—...tenho medo de mim...

— Porque?

—...porque eu sou uma pessoa ruim... e não quero que minha filha seja como eu..

— O que te faz pensar que você é uma pessoa ruim?

— Não está óbvio?... Minha personalidade, impulsiva, agressiva, inconsequente... sou tudo o que existe de ruim em uma só pessoa.

— Se fosse mesmo uma pessoa ruim não se importaria com sua filha, não se importaria com sua família. Você não choraria, e isso não doeria em você.

— Eu amo eles esse é o único motivo pelo qual dói tanto.. não tenho consideração com pessoas que não conheço.

— Todo mundo é assim, as pessoas no geral são egoístas mas se alguém estivesse desesperadamente precisando de ajuda mesmo sem conhecer você ajudaria, não é?

— Claro que sim...

— Bom, isso é o que te torna humana Freya... pessoas ruins não se importam.

Me lembrei de quando mesmo não gostando da Nina eu a ajudei naquele escritório quando ela soube do meu casamento com Ivan, senti pena dela mesmo não gostando dela naquela época.

Eu ajudaria quem precisasse sem me importar mas isso não significa que eu seja uma boa pessoa... meu irmão é uma boa pessoa, ele sempre teve bons sentimentos e bons pensamentos. Ele sabe bem o que deve fazer e dizer e se ele mesmo me disse que eu devo morrer porque eu duvidaria?

— Precisa se conhecer Freya, só tem dezoito anos ainda é uma menina. Está gerando outra vida e isso é uma enorme responsabilidade.

— Não tem nada que eu ame mais que minha filha.

— Eu sei, e você quer mesmo deixá-la?.... quer mesmo que ela cresça sem você? Consegue imaginar a infância triste que ela teria sabendo que você não lutou por ela?

— Não lutei? Tudo que estou fazendo é por ela. Ela não merece uma mãe como eu... ela merece alguém como.... como a Nina... ela será uma boa mãe, uma boa esposa.

— Porque ela e não você?

— Porque ela é pura, é inocente e não tem maldade no coração..

— Acha que ela não tem maldade no coração? É da nossa natureza ter maldade Freya. Por mais doce que essa pessoa seja, ela com toda certeza já teve pensamentos ruins também, não odeie você se baseando nos outros.

Tenho inveja da Nina, não de um jeito ruim estou feliz por ela. Mas ela é tudo que eu sempre quis ser e nunca consegui, queria poder seguir os passos dela e me tornar alguém tão digna mas não sou assim.

— Eu sou apenas um rosto bonito e só isso, eu sou vazia...

— Você quer ser vazia mesmo se dando conta de tudo que tem, você é rica Freya e não digo de dinheiro.

— Esse é o problema, eu não mereço tudo que tenho não fiz por merecer.. eles são demais pra mim.

— Demais pra você... todos eles tem defeitos, estou ousando a dizer que talvez maiores que os seus. O que fazem eles serem dignos de tudo que tem e você não?

—...eu me sinto diferente de todos... não deveria ter nascido eu sou um erro.

— E quem disse isso? Sua mente?

Não tive resposta pra isso, ela estava me fazendo pensar de outra perspectiva mas mesmo assim eu não tinha mudado minha ideia. Continuo achando que seria melhor não existir, estou sendo um peso pra todos e se essa doença me matar menos mal.

Minha filha vai crescer bem com uma mãe realmente digna que vai criá-la com amor e carinho como eu mesma faria.

Com o tempo Victor vai encontrar alguém e confio nele pra que seja uma boa mulher que vai amar nossa menina tanto quanto ele. Nina vai estar lá disposta a ajudar minha filha quando ela estiver crescendo e minha mãe também. Ela terá dois pais contando com meu irmão e um avô super protetor que não vai deixar que nada de ruim aconteça com ela.

No fim das contas eu não faço diferença nessa história, ela nem mesmo vai lembrar de mim enquanto estiver crescendo...

— Pense bem sobre as decisões que está tomando Freya, pode se arrepender tarde demais.

Essa frase ficou na minha mente, eu me arrependeria? Sempre estive no controle porque agora seria diferente? Sinto que estou tão diferente de como eu costumava ser, porque será que estou mudando assim?

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora