Me dando conta

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Estou destruído essa é a verdade, nunca pensei que ficaria assim outra vez mas ver minha mulher daquele jeito acabou comigo. Como eu não notei?

— Foi um princípio de aborto, felizmente conseguimos conter.

— Thomas, precisa descansar você não está bem..

— Não, como tá minha irmã?

Thomas estava internado depois de não conseguir respirar, ele ficou desmaiado por doze horas o mesmo tempo em que não tivemos notícias da Freya. Pareciam estar interligados ou algo assim e agora ele estava desesperado por notícias.

— Ela está consciente, um pouco cansada mas é apenas isso.

— Então me leva até ela eu quero ter certeza.

— Thomas não tem motivos pra médica mentir, meu filho sua irmã precisa de tempo.

— Tempo?! Mãe você viu! Tem noção de que ela estava se drogando?!

— Se me permitem uma opinião médica, bom... ela tem dezoito anos e está em uma gravidez de risco, ela ainda é uma adolescente por mais que seja adulta legalmente e os hormônios estão descontrolados ela não está pensando como uma pessoa comum.

Não vou mentir a princípio eu fiquei com raiva da Freya, como foi possível ela ter sido tão inconsequente? Mas depois ouvindo a explicação da médica e lembrando de como ela se contorcia todas as vezes pelas dores eu não pude julgá-la.

Ela está desesperada pra proteger nosso bebê a qualquer custo e isso foi de certa forma o primeiro ato dela de amor pelo filho.

Fui para sala de espera sem poder mais continuar ouvir Thomas discutindo com os pais, uma hora ou outra ele vai entender. Sentei em um dos bancos sentindo o peso nos meus ombros enquanto fechava os olhos e respirava fundo.

Notei alguém do meu lado e quando abri os olhos era Nina, nós não conversamos normalmente, nada pessoal é claro mas considerando que somos irmãos é estranho.

— Ela já está bem..

— Eu sei mas... ainda tem a doença..

— Todos acham que Freya vai morrer no parto, estão loucos..

Ela disse de uma forma tão segura que não sabia o que a tinha feito pensar assim.

— Você acha que não?

— É claro que não, até parece que não conhecem ela. Freya é uma pessoa teimosa e forte, acha mesmo que ela deixaria o filho sozinho? Ela tem força Victor, acho que muito mais força do que qualquer pessoa entenderia.

Ela tem razão, basta olhar quem são os pais dela e já dá pra notar como Freya tem determinação. Mas Nina a estava defendendo mesmo depois de tudo que elas passaram juntas, na verdade nunca entendi essa ligação repentina delas.

— Como foi que se tornou amiga dela?

— Percebemos que estávamos brigando pelo Ivan, claro que ela estava mais obcecada pelo dinheiro do que por ele..

— Mas ela já tinha dinheiro por que queria mais?

— Não era sobre o dinheiro Victor era mais sobre vingança por tudo de ruim que ele fazia. Quando entendi isso não tinha mais motivos pra rivalidade.

— Mesmo com tudo que fizeram com você?

— Acreditaria se eu dissesse que Ivan fazia coisas bem piores comigo? Mesmo sendo cruéis por um tempo Freya e Thomas me deram uma nova vida, eles são minha família agora e me apeguei a Freya como minha irmã...

Eu conseguia entender seu ponto e ela tem razão, não tem mais motivo pra rivalidade e pelo que pude observar das duas durante esse tempo é que elas tem se apoiado. Freya a ajuda com tudo e Nina já aprendeu tanto do mundo aqui fora que nem parece mais a mesma pessoa.

— Porque não me contou que era meu irmão? Porque não me tirou da casa quando viu o que Ivan fazia comigo?

— Você não confiaria em mim, estava obcecada por ele.

— Não estou te julgando mas... ia me deixar morrer com ele?

Eu nunca tinha pensado sobre isso, Nina estava ficando doente ali, mentalmente e fisicamente doente. Ivan não a deixaria sair nunca e eu estava lá via tudo mas não era por ela que eu estava ali.

Não tive resposta pra sua pergunta e ela considerou uma afirmação, pude ver que ficou magoada comigo e mesmo não sendo muito próximo dela eu não queria que ficasse assim.

— Me desculpa Nina, eu só não pensei sobre isso na época.

— Tudo bem, estou acostumada a não ser importante para as pessoas.

— Você é importante pra mim.‐ Ela me encarou com os olhos cheios de lágrimas e naquele momento eu entendi o quanto ela precisava de um irmão de verdade.— Eu só não sabia como demonstrar Nina mas você é minha irmã, e eu me importo muito.

Por um tempo pensei que Nina fosse como Ivan afinal ele praticamente a criou, mas estava totalmente enganado porque ela é doce e delicada, tem bons sentimentos e é uma boa pessoa.

Ela sorriu e se assustou com alguma coisa e quando levantou a blusa sua barriga estava mexendo outra vez, era um conforto saber que ela estava vivendo o lado bonito da maternidade como sempre sonhou. 

Nina pegou minha mão colocando em sua barriga e ali ficamos sentindo o bebê dar um show se mexendo sem parar por cerca de uma hora, nós conversamos e nos distraimos do que estava acontecendo por um bom tempo até dona Zoe aparecer.

— Aconteceu alguma coisa?

— Ela acordou... quer ir vê-la primeiro?

Meu coração estava disparado precisava saber exatamente o que dizer a Freya sem que isso a afetasse ainda mais e estava com medo de como ela estaria depois de tudo. Fui até lá e quando cheguei a porta vi que seus olhos estavam inchados, ela esteve chorando.

— Oi lobinha...

Ela olhou pra mim assustada e depois pareceu estar com medo da minha reação, me sentei na cama a sua frente e segurei sua mão tocando sua barriga com medo de que pudesse machucar.

— Ainda dói?.- ela negou com a cabeça deixando suas lágrimas caírem por seu rosto.— Mas em mim dói Freya..

—...desculpa...

— Não peça desculpa pra mim, peça pro nosso bebê... ele quase morreu..

Não era minha intenção fazer ela se sentir culpada mas Freya precisava entender a gravidade do que tinha feito. A médica disse que ela pode ter abstinência do remédio que estava injetando ela usou dois frascos cheios e teve uma overdose porisso a convulsão.

— Porque fez isso Freya?

—...eu não queria que ele sentisse a dor...

— Mas você acha que se sentir fraco e drogado seria bom pra ele? Quando a médica disse que o bebê sentia tudo ela dizia literalmente tudo, inclusive quando se drogava.

— A sensação era boa... eu pensei que...

Ela pensou que o bebê não sentiria nada se ela não sentisse nada, como eu disse eu não posso culpá-la por querer manter nosso filho bem. Foi estúpido eu sei, mas seus hormônios não a deixavam ver o que tinha de errado ela estava desesperada e ainda está...

Freya tocou a barriga grande com as mãos trêmulas e começou a chorar, o bebê já não se mexia tanto como antes na verdade já nem se mexia... me obriguei a abraçá-la para tentar acalmar seus nervos ela parecia não estar bem mentalmente.

Os batimentos cardíacos na máquina estavam acelerados e ela não conseguia conter seu choro alto.. acho que nunca a vi tão vulnerável desse jeito.

— Está tudo bem agora... eu vou ficar do seu lado todos os dias e te ajudar com isso..

—....eu sinto muito... Victor eu sinto muito..

— Eu sei amor não se preocupa, tá tudo bem... eu te amo... amo vocês dois..

Obsessão parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora