01 - Prólogo

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PIETRA VALENTIN

"They all say it. All the ones who made it...". Sete e meia. A única coisa que me deixa feliz em levantar a essa hora é o fato de o despertador estar programado para me acordar com We Both Know da Colbie Caillat e Gavin Degraw. Rolo algumas vezes na cama, aproveitando a música, antes de finalmente despertar. Travo o celular que ainda canta e tateio a cama em busca do meu notebook que sei que está aqui, em algum lugar. Sento, me encostando na cabeceira da cama e ligo o aparelho para checar minhas redes sociais.

Vou para o banho, e em seguida, enquanto tomo meu café, ainda enrolada na toalha, aproveito para dar uma olhada em algumas vagas de estágio na internet. Me candidato a algumas vagas e ao notar que algumas empresas ficam não muito longe de casa, resolvo anotar alguns endereços e telefones, e os penduro com um ímã na geladeira, prometendo para mim mesma que vou ter que arrumar um espaço na minha semana corrida para resolver isso. Eu preciso disso!

Olho no relógio e já são quase oito e meia. Preciso parar com essa mania de checar as redes sociais antes de ir trabalhar, sabendo o quanto eu demoro para me arrumar. Deixo o notebook desligando, corro para o quarto e pego o primeiro jeans e regata preta que vejo no guarda-roupa. Me visto, olho no espelho, prendo meus cabelos loiros num coque dessarumado no alto da cabeça, - e nada de maquiagem porque eu já estou mais que atrasada -, pego meus óculos escuros e saio.

Com a pressa, resolvo optar pelas escadas ao invés do elevador que por algum motivo, sempre demora a chegar ao meu andar quando eu estou atrasada. Quando chego ao ponto, por sorte, um ônibus está vindo. São oito e cinquenta da manhã e eu costumo levar vinte minutos para chegar ao trabalho. Dois minutos depois, o ônibus vira uma esquina e eu me deparo com um trânsito surreal. Reviro os olhos e solto uma risada baixa, sabendo que vou chegar atrasada. Uma das regras da minha vida é que quanto mais eu quero chegar rápido em algum lugar, mais o universo vai conspirar contra mim.

Ao chegar na Visão Digital, Vinícius me espera na porta. Eu sinceramente gostaria que fosse para me dar uma bronca pelos 20 minutos de atraso, mas pelo sorriso em seu rosto, sei que ele está longe disso. Eu gosto bastante do Vini, seria ótimo ter alguma coisa com ele, mas ele tem uma super queda por mim e não faz questão alguma de esconder de ninguém. Eu já perdi as contas de quantas vezes ele me chamou para sair, mas com a minha trágica desilusão amorosa e por receio de estragar a nossa amizade, que é muito importante para mim, eu sempre dou um jeito de fugir e recusar os convites dele.

A verdade é que eu posso chegar horas atrasada e isso definitivamente não vai ser um problema para ele, mas de certa forma, é um problema para mim e eu nunca me aproveitei disso, até agora, que o meu desespero chegou ao nível de estar pensando seriamente em literalmente bater na porta das empresas pedindo uma vaga de estágio.

Vinícius é lindo, inteligente, responsável e tudo o que uma mulher anseia num homem, e eu tenho propriedade para dizer isso porque passo praticamente o meu dia inteiro com ele, mas eu jamais colocaria a nossa amizade em risco sabendo que não sou capaz de corresponder aos sentimentos dele depois de tudo o que aconteceu na minha cidade e que me fez fugir de lá.

O João me fez perder totalmente a confiança em qualquer cara, e embora eu saiba que estou errada em me privar de viver algo que poderia ser incrível por conta de um moleque sem o mínimo de caráter e responsabilidade afetiva, eu não consigo evitar me fechar para um relacionamento com alguém agora e não vejo isso mudando tão cedo.

Vinícius está de pé, encostado na porta, com as pernas cruzadas. Me olha e sorri. Sei que está se divertindo com o fato de saber que eu estou constrangida pelo meu atraso. Ele tem a pele clara, mas um pouco bronzeada. É alto – bastante alto, embora qualquer pessoa seja alta perto de mim. O corpo definido, a barba sempre por fazer, e cabelos lisos e castanhos, sempre num perfeito desarrumado que eu tenho certeza que ele demora horas na frente do espelho para conseguir. Ele está vestindo uma camiseta cinza, sem mangas, que deixam os músculos de seus braços à mostra, uma calça jeans escura e um tênis.

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora