16 - Você precisa de alguém ou você precisa de mim, Pedro?

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PIETRA VALENTIN

- Eu estava sentindo dentro de mim que eu tinha que ter ficado com você ontem! – Vitória berra depois de me ouvir contar sobre o João.
- Eu consegui me virar bem, Vits! – Dou risada do grito dela e atiro uma almofada em seu rosto.
- E você vai passar o domingo inteiro nessa cama depois do que aconteceu e quer me convencer de que não está afetada por ele? – Ela levanta do chão e cruza os braços.
- Eu não estou afetada por ele! Mesmo!
- Ótimo! Então vamos levantar daí e ir para algum lugar! – Vitória exclama e eu franzo as sobrancelhas ao vê-la abrir meu guarda roupa e deslizar as mãos entre as roupas.
- Não é possível que não existe um dia em que você queira ficar deitadinha na cama, vendo o tempo passar. – Levanto preguiçosamente, bocejando, ciente de que não vou vencer essa guerra.
- Quando eu morrer, eu vou ter a eternidade para ficar deitadinha.
- Você tem um bom argumento agora. – Caminho até a porta do quarto, rindo. - Para onde nós vamos?
- Como estou muito boazinha hoje, nós vamos naquele parque chato que você ama. – Ela diz revirando os olhos e retirando do guarda roupa um vestidinho amarelo claro de tecido leve, com pequenas margaridas espalhadas por ele.

Eu estive em poucos lugares na minha vida, mas eu posso dizer sem medo de estar exagerando que esse parque sempre vai ser um dos meus lugares favoritos, mesmo que um dia eu conheça o mundo inteiro. Principalmente na primavera. Eu amo vir aqui! O contato com a natureza sempre me energiza e me deixa mais leve. Eu amo vir para cá sozinha ou com os amigos e sentar na sombra de uma árvore enquanto comemos e batemos um papo. Quando eu estou triste. Quando eu estou feliz. Sem motivo nenhum...

- Eu não sei o que você vê de tão incrível nesse lugar! – Vitória diz assim que a gente chega.
- Eu não sei o que você não vê! – Digo, sentando em um banco embaixo da minha árvore favorita.
- E o Vinicius? Falou com ele? – Ela pergunta, tirando um repelente da bolsa.
- Não falei com ele depois daquele dia. – Balanço a cabeça, rindo, ao vê-la passar repelente. – Você é tão fresca!
- Minha querida, Deus me livre desses mosquitos! O que eu não faço por você?! Liga para ele agora! Chama ele para cá! – Ela quase que ordena, guardando o repelente na bolsa.
- Será?

***

O clima está ótimo para se estar aqui. Nada de calor, nada de frio, sem chuva. E estou com meus amigos há tanto tempo que perdi as contas, sentada no chão do meu lugar preferido, comendo porcarias e falando sobre nossas vidas. Essa galera que me acolheu desde quando minha vida virou uma bagunça e que me tornou praticamente família deles. Olhando para trás, tomo ciência de que as coisas teriam sido milhões de vezes mais difíceis se eu não tivesse encontrado eles e se eles não tivessem me acolhido. Só nesse momento, consigo perceber o quanto sinto falta de todos nós juntos. Da Vitória com esse jeito espalhafatoso, do Vinicius todo cuidadoso e preocupado com a gente, do Caio contando da última festa badalada que foi. Somos um grupo que basicamente não se parece em nada, mas nos completamos em tudo e eu amo isso. Sempre foi assim e eu quero que seja sempre.

- Pietra? – Vini chama minha atenção.
- Viajando como sempre! – Caio diz rindo.
- Caio, você me ama! – Sorrio, revirando os olhos.
- Ah! Muito! – Ele responde.
- Só estava pensando em como a gente se completa. Eu sou muito grata por ter vocês na minha vida, de verdade. E eu não quero que o fato de não trabalharmos mais juntos faça com que a gente se afaste. – Respiro fundo, abanando os olhos. Caio começa a tirar sarro de mim, Vitória me abraça, e os meninos caem na risada.

***

Chego em casa as sete da noite. Nem lembro quando foi a última vez que passei tanto tempo assim fora de casa que não fosse para trabalhar. Lembro da minha mãe dizendo "Minha filha, eu sei que sempre disse que o trabalho edifica o homem, mas a vida não é só trabalho, não. Você precisa viver!" Talvez ela esteja certa e eu nunca pensei que eu fosse dizer isso, mas talvez a Vitória esteja certa. Eu preciso entender e aceitar que a minha vida sentimental não morreu só porque o João é um babaca e acredito que ele ter aparecido aqui me fez iniciar esse processo de desapego. Chega de sofrer!

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora