ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amor

19 - Talvez eu devesse só deixar ele em paz

PIETRA VALENTIM

Depois que contei a Vitória sobre meus planos para o próximo final de semana, ela resolveu que vamos passar todo esse fim de semana juntas. Ela fez até uma programação. Hoje é a noite do pijama. Amanhã a gente tem um almoço e ela pediu que eu convidasse a Gabriela. Domingo ainda é um mistério para mim. Aparentemente ela está levando tudo isso de passar o fim de semana comigo tão a sério, que nesse exato momento, eu estou tomando banho e ela está sentada no vaso com as pernas cruzadas, mexendo no celular.

- O que é que foi? – Pergunto quando a vejo rindo.
- Bassssss! – Eu amo essa ênfase que ela coloca no 'S' quando fala do Chuck. Virando o celular para mim, ela abre o maior sorriso do mundo. Outro nude.
- Pelo menos ele é criativo para mandar essas fotos, né? – Viro a cabeça de lado, tentando entender a posição e rio.
- Com os meus nudes artísticos, é o mínimo que eu mereço. – As fotos da Vitória são realmente incríveis. Sim, eu também já vi os nudes da Vitória. Ela geralmente me envia a maioria antes de mandar para alguém.

- Será que você me dá permissão para fazer alguma piada sobre o pinto dele? Meu Deus! Eu daria tudo para ver o Chuck sem graça ao menos uma vez na vida. Eu te juro que já tentei milhares de vezes. – Digo enquanto tiro o condicionador do cabelo.
- Quem é você e o que você fez com a minha melhor amiga? Eu daria tudo para ver você fazer uma piada sobre pau. – Ela dá uma risada. – Sinta-se completamente autorizada.
- Tudo para tentar fazê-lo ficar sem graça como ele faz comigo o tempo todo. – Saio do box e pego a toalha. – Mas me fala... Por que raios vocês ainda não se encontraram? E se eu chamar ele para o nosso almoço amanhã?

- Pê, nosso encontro não pode ser em local público de forma alguma. – Seus olhos voltam para a tela do celular e ela ri.
- Sério! Me diz! Já faz um tempo que vocês se falam. E você é toda apressada para tudo. Eu não entendo.
- A gente acha que quanto mais a gente demorar para marcar alguma coisa, mais tesão acumulado e aí mais gostoso vai ser. – E ela me diz isso com a maior naturalidade do mundo. – Eu já estou quase no meu limite, mas ainda não cheguei lá. – Ela completa e eu evito fazer mais perguntas depois dessa resposta.

Enrolo a toalha no cabelo e em seguida coloco o meu pijama. Combinando com o dela. Sim! É uma festa do pijama, afinal. Eu estou com um baby doll do Jerry e ela com um do Tom.
- Eu ainda não consigo acreditar que você vai passar todo o fim de semana trabalhando. – Ela diz quando sentamos no sofá.
- Você vai me ter para você o fim de semana inteiro. Para de reclamar e escolhe logo um filme. – Coloco minhas pernas para cima e envolvo-as com os braços esperando ansiosamente para saber qual é o filme da programação.
- A questão não é essa. A questão é querer trabalhar o fim de semana inteiro. Você tem algum problema. – Ela ri.
- Anda logo! Eu estou louca para saber que filme você escolheu.
- Calma! – Ela reclama, enquanto levanta para pegar o controle em cima da poltrona.

Acho que minha mesa de centro nunca esteve tão bem servida. Tem pizza, salgadinhos, batata frita, sorvete e minha torta preferida de limão. Ninguém faz uma torta de limão como a Vitória. A gente nunca passou um fim de semana inteiro sem se ver desde que a gente se conhece, e por mais insensível que eu externamente pareça ser, eu tenho certeza que vou sentir falta dela. Tem sido difícil não tê-la comigo o dia inteiro. Estamos trabalhando praticamente em lados opostos da cidade e eu ainda tenho a faculdade. Semana que vem é a última semana de aula antes das férias, e eu estou ansiando por isso. E ela também.

A Vitória me conhece como ninguém e quando há algo de errado comigo, ela percebe no mesmo instante e faz de tudo para mudar o meu humor. Ela sabe o quanto eu acordo mau humorada de manhã e não quero falar com ninguém. Sabe que eu não existo enquanto não tomo o meu café da manhã. O real motivo pelo qual eu não quero me envolver com ninguém.

O Caio simplesmente desapareceu desde o dia em que eu o expulsei do meu apartamento. Ficar sem saber se ele realmente desistiu ou se vai aparecer do nada como fez da última vez, por alguns dias, estava tirando a minha paz. Graças ao projeto da PW, eu tenho me distraído bastante, mas não deixa de ser uma questão que me preocupa.