10 - É só o que você sabe fazer

1 1 0
                                    

PIETRA VALENTIN

Acordo com meu telefone vibrando. Depois de conversarmos muito sobre o que aconteceu entre mim e o Vinicius, eu e Vits resolvemos assistir outro filme. Em seguida, fomos para o quarto e conversamos mais... Sobre o Vinicius. Ela não consegue mais falar de outra coisa, parece que já criou mais expectativas em cima de tudo o que aconteceu que eu e o Vinicius juntos. Em algum momento, eu não aguentei mais e dormi, provavelmente deixando-a falando sozinha, então meu celular deve estar na cama em algum lugar, porque eu lembro de estar com ele nas mãos.

Sento na cama com uma preguiça gritante, puxo o cobertor e o encontro quase nos meus pés. Tenho pena de quem precisou ou precisará dormir comigo. Pego o celular e vejo a foto do Vini na tela.
- Oi. – Sussurro pra não acordar a Vitoria que dorme na cama auxiliar.
- Boa tarde, senhorita. – Ele diz e eu tenho certeza que está sorrindo.
- Como assim "boa tarde"? – Falo alto demais e vejo a Vits se mover na cama. – Como assim? – Repito mais baixo.
- São uma da tarde, princesa.
- Meu Deus! Nosso almoço. – Levanto da cama e saio do quarto.
- Tudo bem. Nós não marcamos um horário. Mas a gente precisa conversar. Sobre o que aconteceu... - Um silêncio se instala durante alguns segundos. – E sobre o seu novo trabalho. – Ele completa quando percebe que eu não vou responder nada.

Eu definitivamente não estou pronta para conversar sobre o que aconteceu. Exatamente como imaginei na noite passada, acordei arrependida. Não por mim. Por mim, nenhum pouco, na verdade. Foi ótimo e eu repetiria todos os dias, caso o meu sentimento por ele fosse recíproco, ou caso ele não sentisse nada por mim. Consigo sentir no tom da voz dele que para ele, a noite passada mudou alguma coisa.

Eu confesso que a culpa é minha. Uns vários beijos são grandes motivos para se criar esperança, caso você sinta algo por alguém, mas a verdade é que não mudou nada para mim a não ser o fato de ter descoberto que além de lindo e tudo o mais, ele beija super bem e a gente tem uma química de outro planeta.
- Pê? – Ouço a voz dele me puxar de volta dos meus pensamentos.
- Ah, oi! Desculpa. – Balanço a cabeça pra expulsar os pensamentos e me concentrar na conversa. – O que você acha de vir almoçar aqui em casa?
- Sério? Tem certeza que não prefere sair? – Pergunta, claramente decepcionado.
- Sim. Eu levantei agora, até acordar realmente pode levar um tempo. Eu faço o meu strogonoff maravilhoso e que é a única coisa que eu sei fazer bem. – Digo, rindo e abro a geladeira procurando creme de leite.
- Está bem. Que horas?
- Duas! E meia. Só para ter certeza que dá tempo. Tudo bem ficar com fome até duas e meia?
- Pelo seu strogonoff vale a pena. – Ele responde.
- Ok. Até daqui a pouco, então.
- Até.

Um almoço na minha casa provavelmente não soe tão encontro quanto se fôssemos juntos a algum lugar, principalmente se eu conseguir convencer a Vitória a ficar. Eis o motivo de ter pensado em fazer strogonoff – fora o fato de que é realmente a única comida que eu faço que fica muito boa. A Vits nunca dispensa o meu strogonoff e acho que não vai mesmo que seja a maior shipper de mim com o Vinícius de todos os tempos e agora, mais que nunca, já que ficou claro feito água cristalina que as expectativas dela com relação a nós dois estão imensas.

- Boa tarde. – Ela diz, me dando um susto.
- Boa tarde! Advinha o que eu vou fazer para o almoço? – Pergunto, erguendo as sobrancelhas.
- Não vou almoçar aqui. Preciso ir embora. – Ela diz ainda com a voz sonolenta e esfregando os olhos.
- Vai rejeitar o meu strogonoff? – Digo, piscando os olhos exageradamente.
- Seu strogonoff? Ai droga! – Ela senta no banco de frente pra ilha da cozinha. – Então eu vou ficar.
- Sabia! – Sorrio, tiro o frango da geladeira e coloco pra descongelar no microondas. Não é o ideal, mas é o que tem.
- Mas o Vinicius não vem almoçar aqui ou coisa assim?
- O que é que tem? – Respondo tentando disfarçar a "culpa" na minha voz. Ok. Talvez eu esteja usando a minha melhor amiga para fugir de toda essa situação de merda em que eu me enfiei e estou começando a me sentir mal com isso.
- Eu não vou ficar de vela aqui.
Viro para olhar para ela e a vejo com as sobrancelhas arqueadas. Sento no banco ao lado dela.
- Ele quer conversar sobre o que aconteceu ontem e eu não quero.
- Diz que você não quer, então. Pietra, por que você ficou com ele? – Ela pergunta com um tom acusatório.
- Porque eu quis. Porque eu precisava. E eu sei que o que eu fiz foi errado sabendo dos sentimentos que ele tem por mim, mas, não sei. Uma vez na vida eu quis fazer algo pensando em mim e não nos outros.
- Quando você não fez? – Ela continua com o tom acusatório.
- Oi? – Pergunto, realmente sem entender.
- Você largou a sua mãe sozinha, porque não soube lidar com as merdas do seu relacionamento e aí você não conseguiu ficar lá. Está deixando o Vinicius na mão porque você vai para um estágio. O Caio te enviou uma mensagem e você encheu a cara porque você não estava sabendo lidar com isso e deixou todos nós mortos de preocupação. Entramos – ela faz aspas com os dedos – em um consenso de que seria melhor eu me mudar, porque você não aguentava a minha bagunça. E agora você diz que ficou com ele porque pelo menos uma vez na vida queria fazer algo pensando em você e não nos outros? Parece que é só o que você sabe fazer, Pietra.

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora