05 - Eu não estou terminando com você

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PIETRA VALENTIN

Acordo sem vontade alguma de levantar da cama, trabalhar, viver... Faz tanto tempo, mas é incrível a capacidade que isso ainda tem de acabar comigo. Agora, fora toda a correria da minha vida e a minha preocupação com o estágio, eu tenho que começar a pensar no que fazer para manter o João bem longe de mim. Ele não vai me deixar em paz. Não é do tipo de pessoa que desiste de algo facilmente quando está empenhado em conseguir.
- Vamos, vamos! Levantando! Esse cara não merece que você fique assim por ele. – Vits berra, enquanto me segura pela mão e me puxa para fora da cama.
- Juro que se não tivesse chegado atrasada em um dia e recebido folga no outro, eu não iria hoje.
- Folga? Aquilo não foi uma folga, mas de qualquer maneira, eu não vou te deixar aqui sozinha, não.

Eu amo os amigos que deixei na minha cidade natal, mas a minha conexão com a Vitória é coisa de outro planeta. Eu amo o tanto que a gente se importa e está uma pela outra acima de qualquer coisa. Ela é a irmã que eu nunca tive. Nunca me deixa ficar para baixo e me ajuda sempre que preciso de qualquer coisa. Nós somos totalmente o oposto uma da outra. Eu sou bem caseira, ela não dispensa uma balada. Eu tive pouquíssimos namorados e ela está sempre envolvida num rolo diferente. Quando eu paro para pensar em como somos tão diferentes, não faz o menor sentido termos criado essa conexão e intimidade tão fortes. Ela sabe tudo da minha vida e eu sei tudo da vida dela.

Nos arrumamos, tomamos café e vamos para a Visão Digital. Felizmente o dia de trabalho está bem agitado e não me permite ficar pensando nos meus problemas e me torturando com eles, mas o Vini me conhece o suficiente para perceber que não estou legal. Ele já me perguntou o que houve vinte vezes – não é exagero, a Vits tá contando - e ainda nem chegamos na metade do dia.
- É sério, eu só estou cansada. – Digo pela vigésima primeira vez.
- Eu te conheço. Eu sei que você está mentindo. – Ele responde.
- Está bem. A gente conversa sobre isso na hora do almoço.

O movimento da loja está intenso e para não deixá-la fechada, resolvemos almoçar em dupla para não perder o movimento.
- Vamos juntas? – Pergunto para a Vitória e ela entende o recado na mesma hora.

Como de costume, vamos ao Subway. Por um milagre divino, há uma mesa vazia e a ocupamos. Agradeço à Deus várias vezes, porque com a facilidade que eu estou para a qualquer momento ter uma crise de choro, eu preciso da menor quantidade de pessoas possíveis ao meu redor para o espetáculo, e uma praça de alimentação não é o melhor lugar para se conseguir discrição. Quando a Vits começa a falar sobre o João, sinto os olhos marejarem, então respiro fundo e a interrompo dizendo que não vamos falar de mim, menos ainda desse assunto.
- Eu quero saber da sua noite com o Caio. Como foi? – Eu pergunto.
- Ah, foi ótimo! Superou totalmente as minhas expectativas. – Ela diz enquanto toma um gole de Coca.
- Onde vocês foram?
- Ele sugeriu cinema, mas não poderíamos conversar direito lá, então eu falei para irmos naquele quiosque no fim da praia que você vai comigo, de vez em nunca.
- Não gosto de quiosques. – Digo, rindo.
- Você não gosta de nada. – Ela diz sorrindo, supostamente feliz por ter conseguido arrancar uma risada de mim.
- Mas me fala... Vocês marcaram mais alguma coisa?
- Sim. Vamos sair hoje de novo. Vamos pra uma balada dessa vez.
Franzo a testa, rindo.
- Isso não é bem o lugar ideal para um encontro, mas tudo bem. Faz muito tempo que não faço isso.
- É. Eu sei. – Ela diz, revirando os olhos.
- O que é? Eu não gosto de baladas.
- Isso não é novidade para ninguém. – Vits ri. – Mas eu decreto que você vai hoje com a gente.
- Ah, eu não vou mesmo. – Respondo, rindo e balançando a cabeça.
- Claro que vai! Você precisa. Vai se divertir, distrair a cabeça.
- Não. Nem pensar.
- Eu tenho o dia inteiro para te convencer e eu sou muito persuasiva. – Ela sorri para mim com uma cara de quem já venceu e eu sei que ela já venceu.

Depois de me contar todos os detalhes da sua noite, como o quanto o Caio tentou beijá-la e ela conseguiu ser forte o bastante para não ceder, terminamos nosso almoço e voltamos ao trabalho. Os meninos saem e Vitória continua tentando me convencer a ir a balada com eles.
- Me dá um motivo para você não ir e ficar em casa mergulhada nos seus livros. – Ela insiste.
- Eu gosto de ficar em casa mergulhada nos meus livros? – Respondo de imediato, porque é uma resposta óbvia.
- E é por isso que você não se abre para ninguém. Fica lendo sobre caras perfeitos e acha que ninguém é bom o suficiente.
Não tenho argumento contra isso. Ela não está de todo errada.
- Eu posso assistir filmes ao invés de ler livros. Netflix! Eba! – Levanto os braços fingindo uma comemoração.
- Você é tão chata! – Ela diz, rindo e balançando a cabeça.

Com toda a insistência dela e dos meninos, decido que vou "distrair" a cabeça, apesar de uma balada não ser o melhor lugar do mundo pra se fazer isso. Pelo menos não pra eu fazer isso. Ela resolve que vai para a minha casa mais uma vez. Marcamos com os meninos às 22h e são 18h, o que nos dá bastante tempo para nos arrumarmos. Enquanto Vits toma banho, ligo o notebook na mesa da cozinha e checo meus e-mails enquanto como uma maçã.

Sempre que abro meu e-mail, fico espantada com a quantidade de spams que chegam sem que eu saiba como. Sempre fico pensando se eles realmente conseguem meu e-mail de alguma forma, se eu inseri em algum lugar e não lembro, ou se eles jogam de forma aleatória e chega a alguém. E-mail marketing não é o meu forte, e eu realmente gostaria de saber.

Marco todos os e-mails novos e estou prestes a apagá-los, quando meus olhos fixam em um específico, em que o assunto diz: EQUIPE PW. Respiro fundo e tamborilo os dedos nas teclas, olhando para a tela e pensando se abro ou não.
- Como assim: abro ou não? É claro que você vai abrir! – Digo para mim mesma.
Fecho os olhos, faço uma breve oração e abro-os novamente, clicando imediatamente no e-mail.

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora