ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amor

15 - Você meio que acabou com a minha vida

PIETRA VALENTIN

Eu estou mil vezes mais leve depois da minha conversa com o Vini, apesar de ainda não ter me perdoado por ter chorado na frente dele. Continuo me sentindo uma péssima pessoa e amiga, mas acredito que esses sentimentos vão embora assim que as coisas realmente voltarem ao normal entre nós dois. Ainda não falei com ele depois da nossa conversa de ontem, mas acredito de verdade que nossa amizade não está perdida e estou disposta a tudo para que volte a ser como antes.

Hoje é sábado e eu amo quando a Vitória não me convidou para fazer nada, porque dessa forma, mesmo que ela me convide, eu posso usar a velha desculpa esfarrapada de que odeio convites em cima da hora. Ela já sabe que é apenas uma desculpa, mas funciona, porque diferente de todas as outras, essa tem algum sentido, então eu a estou usando nesse momento.

- Mas Pietra, hoje é sábado! Você não pode ficar em casa!
- Vits, você sabe que eu odeio que me convidem assim em cima da hora.
- Pra cima de mim? Sério. – Ela solta o ar frustrada. – Tá bom, então. Mas o que você vai fazer hoje?
- Ficar em casa assistindo um filme, lendo um livro. Algo assim. Você sabe que eu não gosto desses programas em que você me mete.
- Da última vez, você não me pareceu muito triste, não. – Ela diz, rindo. – Desculpa! Eu sei que você não gosta de lembrar disso. – Completa após notar o meu silêncio.

Eu sempre sinto um nó na garganta sempre que me lembro daquela noite. Quer dizer, a noite em si foi maravilhosa, até a parte em que eu simplesmente não lembro de mais nada. É extremamente estranho para mim não lembrar com quem eu transei e não saber como as coisas aconteceram. Sempre que me lembro, tenho o pensamento egoísta de que mesmo que fodesse com a nossa amizade, eu preferiria que tivesse sido com o Vinicius.

Ela tenta me convencer por mais alguns minutos a sair com ela, mas acaba desistindo quando percebe que estou irredutível a trocar um filme na netflix a uma balada. Depois de pedir por mais detalhes sobre minha conversa com o Vini, ela desliga e me deseja boa noite.

Tomo um banho quente demorado, coloco meu conjunto de moletom cinza surrado e resolvo trabalhar no projeto beneficente da PW. Vitória me mataria se soubesse que larguei uma balada para ver um filme e no fim das contas optei por trabalhar. Acontece que esse projeto é a coisa mais legal de que já participei e duvido muito que alguém que esteja envolvido queira mais que dê certo do que eu.

Eu nunca fui muito fã de pessoas no geral. Na maioria das vezes só pensam em si e em seus próprios problemas, acham que todos, exceto elas, têm defeitos que precisam ser corrigidos e muitas outras coisas ruins que eu poderia facilmente citar o dia inteiro. Eu me considero parte desse grupo de pessoas, inclusive. Mas as crianças e os animais são os seres mais incríveis e extraordinários do planeta. E é por isso que eu estou tão empenhada em fazer dar certo.

A campainha toca e ao olhar para o relógio do notebook, percebo que passei as últimas duas horas mergulhada nesse projeto. Espero mais alguns segundos para ver se a pessoa desiste, mas após a insistência na campainha, fecho o notebook e corro para atender. Ao abrir a porta, sou pega de surpresa. De todas as pessoas do mundo, ele seria a que menos esperaria. É claro que sei da persistência dele quando cisma com algo, mas não imaginaria nunca que ele bateria na minha porta assim tão rápido. Ele está tão lindo quanto sempre foi. Sinto minhas pernas fraquejarem e tenho a sensação de que meu coração vai sair pela boca se bater um pouquinho mais forte. Aperto a maçaneta da porta a ponto de os nós dos meus dedos ficarem brancos e me concentro apenas na minha respiração, porque do contrário, vou ter um treco aqui na frente dele.

- Eu disse que vinha, não disse? – Ele diz sorrindo com a cara mais deslavada do mundo. Como se estivesse tudo bem ele aparecer na minha porta sem aviso prévio. Como se não tivesse ferrado com a minha vida. – Não vai me convidar para entrar? – Ele completa, ainda sorrindo.