25 - Eu nunca fui um cara de ficar confuso

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PIETRA

Os meninos do desenvolvimento estão insanos na programação e as coisas estão muito mais à frente do que achei que estariam em metade do dia, mas também não é como se eu entendesse alguma coisa de programação. O pessoal do marketing também já está criando uma campanha incrível para divulgação e na verdade, eu estou me sentindo meio inútil, porque tudo o que eu tinha para fazer, eu já fiz antes mesmo de essa maratona começar.

De qualquer forma, toda a energia que eles estão colocando nesse projeto está me deixando motivada e eu quero continuar por aqui, caso eles precisem de alguma alteração ou de incluir alguma coisa.

A hora do almoço é uma grande farra e depois de comer alguns muitos pedaços de pizza, me sento no canto da sala para carregar o meu celular. Quem nunca foi refém da tecnologia o suficiente para ficar feito um cão preso na coleira, usando o celular enquanto ele carregava, que atire a primeira pedra. Lembro das mensagens no grupo e abro o aplicativo de mensagem para responde-las. Seria incrível se todos eles trabalhassem aqui e estivessem vivendo tudo isso comigo.

Eu não sou uma pessoa muito sociável, apesar de isso ter mudado bastante nos últimos tempos, mas ainda que essa sala seja imensa, o excesso de gente está começando a drenar a minha energia e eu opto por passar um tempo no terraço, já que não precisam de mim aqui.

- Parece que esse aqui é o nosso ponto de encontro, não é? – Rio ao abrir a porta e ver Pedro sentado no chão do deck alimentando os peixes.
- Acho que só a gente gosta desse espaço. – Ele sorri. – E alguém tem que alimentar os peixes, pelo amor de Deus!
- Acho que nunca fiz isso. – Digo ao sentar ao seu lado.
- Alô, Luiza Mel? – Pedro exclama ao simular um telefone com a mão. – Toma! – O potinho branco de tampa laranja está quase vazio quando ele me entrega.
- Você vai matar os bichinhos! – Pego um punhado de ração e jogo no lago. – E então? Está saindo como você esperava?
- Absurdamente melhor do que eu esperava. – Responde sorrindo e ficamos alguns minutos em silêncio olhando os peixes.

Observando esse terraço, dá para ter alguma noção do tanto de dinheiro que o Pedro deve ter e eu nunca tinha parado para pensar nisso. Tem um deck planejado, pedras e plantas de verdade, palmeiras, tem um lago artificial!! Com peixes!! Talvez isso tudo tenha custado o valor anual do meu salário e ele simplesmente parece não ter sido corrompido pelo dinheiro. Na verdade, eu poderia afirmar que ele não foi. A prova é isso que está acontecendo na empresa dele nesse final de semana.

Eu conheci muita gente com muito dinheiro por ter namorado o Caio. Ele é filho do prefeito da cidade em que vivíamos e estava sempre cercado de gente rica. Nunca vi nenhum deles ao menos tentar fazer algo assim. Não sem ter algum interesse por trás, pelo menos.
- Por quê? – Pergunto sem pensar muito e me arrependo logo em seguida.
- Por que o que? – Ele questiona.
- Por que essa ideia do aplicativo? – Continuo, já que comecei.
- Ninguém nunca me perguntou isso. – Me olhando de lado, ele sorri, mas não consigo entender se é um sorriso do tipo "que legal que você perguntou" ou "você não deveria ter perguntado".
- Desculpa!
- Não! É uma coisa boa! – Pedro diz e eu respiro internamente aliviada. Ele reflete por alguns segundos e eu aguardo até que ele fala. – Sabe... A minha motivação de abrir a PW foi simplesmente porque eu poderia ganhar dinheiro fazendo algo que eu gosto. Simples assim! Quer sentar? – Ele aponta para trás, onde estão as poltronas. Quando nego com a cabeça, Pedro continua. – A inauguração foi incrível e eu só conseguia pensar no tanto de dinheiro que eu faria e como eu mostraria a minha mãe que eu tinha razão.

Ele faz mais uma pausa, como se estivesse lembrando do exato dia da inauguração e eu viro para ele e abraço minhas pernas.
- Quando eu estava voltando para casa, da inauguração da empresa que o meu pai tinha me dado, com o carro que o meu pai tinha me dado, eu vi um cara pouca coisa mais velho que eu procurando comida no lixo. – Depois de respirar fundo, ele vira para mim também. – Eu de verdade, sempre reconheci o meu lugar de privilégio, mas naquele dia, ele foi literalmente esfregado na minha cara.

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora