02 - Hoje não é o meu dia de sorte

12 1 9
                                    

PIETRA VALENTIN

"They all say it. All the ones who made it..." Desativo o despertador e penso seriamente na possibilidade de dormir mais um pouco já que tenho o dia de folga, mas lembrando da minha correria do dia anterior, decido que pode não ser uma boa ideia e levanto. Me espreguiço, olho para a cama e percebo que ela fica muito mais bonita bagunçada, desse jeito a deixo. Tomo banho e enquanto tomo café, como sempre, enrolada na toalha, ligo para os telefones das empresas que precisam de estagiários que havia deixado pendurados na minha geladeira. Em três, as vagas já foram preenchidas, e na última em que liguei, marcaram a entrevista para daqui a exatos 50 minutos.

Hora de colocar em prática toda a habilidade – que eu não tenho – de me arrumar em 20 minutos, no máximo. Boto uma calça jeans preta, uma blusa cinza, meu all star branco, que é o meu sapato preferido, amarro o cabelo numa trança meio bagunçada jogada no ombro, faço uma maquiagem básica, pego minha bolsa e saio de casa torcendo para que funcione, e fazendo todas as orações possíveis para que essa seja a vaga que o destino reservou para mim.

A PW fica a meia hora da minha casa. Chego as 9:20. Não é uma empresa enorme, mas é bem maior que a Visão Digital, e o que realmente importa, é que está mais direcionada ao ramo em que eu realmente gostaria de trabalhar. É uma empresa que desenvolve de sistemas a jogos, então estagiar aqui, caso eu consiga, será absurdamente importante para mim profissionalmente.

A porta da frente é enorme e de vidro, o que obviamente me permite ver de fora toda a recepção do lado de dentro. Há um balcão enorme que imita uma plataforma de games onde trabalham duas meninas bem bonitas. Os azulejos são pretos brilhantes e as paredes todas brancas, mas o que mais me chama atenção são os bonecos enormes que estão lá dentro. Parece que o Super Homem e a Mulher Maravilha saíram de dentro dos quadrinhos direto para a empresa. Percebo que uma das meninas da recepção me olha enquanto eu admiro toda a estrutura e decoração do lugar, sorrio sem graça e entro.

A menina da recepção é uma preta linda. Tem os cabelos longos e super bem tratados, daqueles que é impossível não admirar.
- Bom dia. Eu vim para a entrevista de estágio. – Falo, enquanto tiro os óculos.
- Bom dia. Pode sentar ali e aguardar. Assim que o Pedro chegar, ele faz a entrevista com você.
- Ok! Obrigada. – Sorrio.
- Ele não deve demorar. – Agradeço mais uma vez e sento para esperar.

A sala de espera fica em frente ao balcão das recepcionistas e é como uma sala de estar. Há um grande sofá em formato de letra L com o assento verde e a parte de cima branca, uma TV enorme passa alguns projetos que a empresa já desenvolveu e uns puffs também verdes e brancos estão espelhados pelo lugar. Depois de longos 40 minutos, eu já não sei mais o que fazer para me distrair e controlar a minha ansiedade. Milhões de pessoas já entraram e saíram e nada do tal de Pedro. Você é muito pontual Pedro, eu penso ironicamente.

Atraso é uma das coisas que eu mais odeio na vida. Alguns minutos depois, um homem passa pela porta - na verdade, um rapaz -, dá um "bom dia" seco para as recepcionistas, sobe as escadas e desaparece. Algum bicho mordeu esse cara. Não consigo entender como alguém consegue ser tão seco e ignorante com pessoas com quem trabalha junto. Começo a torcer para que esse não seja o tal Pedro. Ele pareceu ser bem bonito, mesmo de longe, mas se tem algo que eu não suporto nesse mundo, são pessoas mal-educadas.

Cinco minutos depois, uma das recepcionistas me manda subir e me indica a sala em que devo entrar. Subo as escadas e me deparo com um Homem Aranha pendurado no teto. No andar de cima os azulejos também são pretos brilhantes, as paredes brancas, mas em alguns locais, elas parecem blocos azuis e brancos em 3D. Eu estou ficando cada vez mais impressionada com a decoração do lugar e torcendo muito para que eu consiga essa vaga. Sigo para a direita e bato na porta do final do corredor. A voz do homem do "bom dia" seco me manda entrar. Pelo visto, hoje não é o meu dia de sorte.

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora