08 - Deveria ter sido ele

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PIETRA VALENTIN

Abro os olhos para um quarto desconhecido e uma dor de cabeça insuportável. Passo as mãos no rosto esfregando os olhos lentamente e ao olhar para baixo, percebo que estou nua, enrolada em um lençol branco. Eu estou em um motel.
- Meu Deus do céu! Não é possível. – Sussurro para mim mesma, sentindo meu coração disparar.

Olho para o lado a procura do Vinícius, mas ele não está. Balanço a cabeça em negativa. Não acredito que fiz isso com ele! Não acredito que fiz isso com a gente! Será que ele está no banheiro? Respiro fundo e levanto devagar, tentando ignorar a sensação de que a minha cabeça está tão pesada que parece presa a um halter de 20kg. Começo a pensar no que falar para ele e em que tipo de conversa vamos ter enquanto visto minhas roupas. 

Após muitos minutos a mais do que se é necessário para qualquer pessoa sóbria se arrumar, caminho lentamente em direção ao banheiro, como se passos demorados fossem apagar toda a burrada que eu fiz na noite passada. E o que será que eu fiz? Sexo. Sexo já deu para perceber que eu fiz.

Bato na porta do banheiro e espero alguns segundos aguardando resposta. Bato novamente e quando ninguém responde, abro a porta e sou surpreendida ao encontrá-lo vazio. Uma risada baixa e involuntária sai da minha boca. Não! Ele não transaria comigo bêbada e me deixaria em um motel sozinha no dia seguinte, ele definitivamente não faria isso. 

Lavo o rosto, faço um coque no alto da cabeça da melhor forma que consigo, sento no vaso e começo a pensar em todas as possibilidades possíveis para ele ter ido embora e me deixado aqui.
- Ok. Vamos lá! Hoje é sexta feira. São... - Falo baixo e olho no relógio. – 12:15. Ele tem um emprego! Ele foi trabalhar. E você deveria estar fazendo a mesma coisa.

Volto para o quarto e enquanto pego minha bolsa e sento na cama para calçar meu sapato, olho em volta e reparo no quarto pela primeira vez desde que acordei. As paredes são brancas. A cama em que estou sentada é imensa. Acho que é king size. O quarto não é muito grande, ou talvez seja, já que essa cama ocupa tanto espaço. Olho para cima e vejo um espelho no teto. Meu Deus! Eu transei com um espelho no teto! Atrás da cama há uma janela imensa que toma quase toda a parede com persianas pretas estendidas. Devíamos estar tão bêbados ou com tanta pressa que nem pensamos em abaixá-las. Se houvesse vizinho na frente, ele poderia tranquilamente ter assistido a um conteúdo do xvídeos ao vivo, mas daqui eu só vejo o céu e um pedaço da cidade. Não sei nem em que andar eu estou, mas deve ser o último a julgar pela vista que eu tenho daqui. Na parede da frente há uma televisão de led grande e ao lado da cama, vejo uma mesa-de-cabeceira de vidro com um telefone em cima e o meu celular. Achei meu celular!

Pressiono o botão de bloqueio para acender a tela e vejo que perdi 47 chamadas. 47 chamadas perdidas é muita coisa, mas eu realmente estou com pressa. Preciso ir para o trabalho.

Ligo para a recepção e sou informada de que não há nenhuma pendência a ser quitada. Levanto da cama e olho uma última vez para o quarto. Não acredito que estou num quarto de motel. Eu nunca estive em um antes. E também não acredito que não lembro de nada. Contenho minha vontade de arrumar a cama como faço sempre que estou em algum hotel, desço pelo elevador e depois de sair do motel, dou uns muitos passos para tomar distância da fachada. Nenhum conhecido precisa passar por aqui e saber que eu acabei de sair de um motel. Depois de poucos minutos esperando, o carro chega e vou direto para o trabalho.

Durante o percurso, não consigo parar de pensar em milhares de conversas diferentes que posso ter com o Vinicius. Eu posso ser direta e dizer que tudo aquilo só aconteceu porque eu estava bêbada e não sabia o que eu estava fazendo. Sempre achei ridícula essa desculpa de as pessoas dizerem que não sabem o que estão fazendo quando estão bêbadas, e olha eu aqui pagando com a minha língua pela milésima vez... Realmente não sei o que eu fiz. De qualquer forma, essa não é uma opção. Eu jamais seria tão cruel com ele. Posso fingir que nada aconteceu, que não lembro de nada, e realmente não lembro de nada, a não ser do fato de ter acordado nua em um motel, o que automaticamente já me diz tudo o que aconteceu, mas não seria tão cara de pau. 

ME SINTO EM CASA - O inesperado pode levar ao verdadeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora