Capítulo 10

1.7K 130 130
                                        

Mas eu ateei fogo à chuva
A assistir cair enquanto eu tocava seu rosto
Bem, ela queimava enquanto eu chorava
Porque eu a ouvir gritando seu nome
Seu nome

Set Fire To The Rain - Adele


Scarlett LeBlanc

A segunda semana de outubro marcava o meu primeiro dia de aula em Oxford — a realização de um sonho que eu alimentava há anos. Um sonho universitário, agora real, diante dos meus olhos. Mas, por alguma brincadeira da vida, naquele momento, eu não conseguia prestar atenção em nada.

O cheiro de madeira antiga e giz pairava no ar da sala fria, onde fileiras de cadeiras estavam perfeitamente alinhadas. O teto alto e as janelas arqueadas filtrava a luz pálida da manhã, tornando o ambiente ainda mais sóbrio. A voz do professor — grave, distante, quase sem vida — ecoava no fundo como uma trilha sonora de um filme que eu não escolhi assistir.

Eu devia estar prestando atenção nele. Mas minha mente, minha mente estava em outro lugar.

Como ele pode mandar eu queimar meu Versace?

Como ele pode me defender depois de dizer que nunca faria?

E como ele teve a audácia de desaparecer essa semana inteira, me deixando nessa maldita confusão?

Uma semana.

Já se passara uma semana desde aquela festa. Eu não o vi mais. Me afundei em palestras, em tours guiados pelos corredores centenários da universidade, em cada atividade oferecida como se fossem boias de salvação — mas nenhuma delas conseguia impedir minha mente de afundar nele.

Ele.

O nome que eu evitava dizer em voz alta, mas que a minha mente gritava sempre que o silêncio tomava conta.

Andei por cada canto dessa universidade esperando encontrá-lo numa esquina qualquer. Me vesti de distração, como se fingir normalidade bastasse para esquecer nosso último encontro. E ainda assim, tudo me levava de volta a ele.

Àquela última frase.

Aquele maldito vestido.

— Senhorita LeBlanc — a voz grave e impessoal corta meus devaneios. — Poderia me dizer por que a administração de recursos humanos prioriza a análise comportamental nos processos seletivos?

A sala se instala num silêncio imediato.

Algumas cabeças viram na minha direção, curiosas. Outras apenas se divertem com o fato de eu ser a primeira "agraciada" com uma pergunta. O professor à minha frente arqueia uma sobrancelha, impaciente, deixando claro que não tinha todo o tempo do mundo.

Tento manter a compostura, mesmo com o coração acelerado. Coloco a mente para funcionar, tentando parecer natural — e não como uma garota que acabou de ser arrancada de um devaneio sobre um loiro maldito.

— Porque entender o comportamento do candidato permite analisar a forma como ele reage em situações de pressão, conflitos e tomadas de decisão — digo firme, buscando não deixar transparecer que estou prestes a fugir pela porta aberta. — O currículo pode mostrar a experiência, mas o comportamento revela a compatibilidade com os valores da empresa.

OCEANOOnde histórias criam vida. Descubra agora