Sonhei com você quase todas as noite essa semana
Quantos segredos você consegue guardar?Do I Wanna Know - Arctic Monkeys
Klaus Altman
A madeira da porta se chocou contra a parede em um estrondo. Andreas, que dormia, se levantou em um sobressalto, os olhos arregalados enquanto me encarava boquiaberto. O quarto ainda estava mergulhado na penumbra, o ar denso, carregado pelo cheiro de cigarro e álcool da noite anterior.
Meus dedos tremiam quando avancei até a cômoda, puxando as gavetas com brutalidade, sem saber ao certo o que buscava. Qualquer coisa. Qualquer maldita coisa que me trouxesse de volta à realidade antes que eu perdesse o controle de vez.
— Onde caralhos você se meteu? — Andreas pergunta, sem qualquer cerimônia.
Ignoro sua pergunta, ainda retirando com pressa objetos e papéis que guardava ali. As folhas voam para longe, e só ouço o som de algo caindo no chão quando a gaveta está vazia por completo. Resmungo ao perceber que não vou encontrar nada ali. Absolutamente nada. Um cigarro. A porra de um baseado. Ou até mesmo uma faca para furar meus próprios olhos e não precisar enxergar ela em minha frente.
Me viro para ele, mal conseguindo manter os olhos abertos, sinto minha respiração pesada, ao ponto de ter que me escorar na parede, deslizando até o chão frio.
— O que você tem aqui que seja mais forte que um cigarro?
— Não sei — respondeu perdido. — Acho que umas balinhas de menta.
A resposta me faz sorrir, desanimado. Viro o rosto e, debaixo da minha cama, vejo uma garrafa de whisky pela metade. Meu estômago se revira, mas, como alguém que busca a última gota d’água no deserto, me arrasto até ela. Meus dedos tremem ao pegá-la, torcendo a tampa com força. O cheiro forte me atinge, trazendo consigo uma ânsia.
— O que te deixou nesse estado? — Andreas se senta na cama, a expressão antes divertida dando lugar a algo confuso. —Você ganhou a luta.
— Meu problema não é a luta — Fecho os olhos por um momento, sentindo o líquido descer queimando. — É pior, muito pior.
— Pior que lutas clandestinas? — ele sorrir, incrédulo. — Cara, com o que você se meteu?
Solto um suspiro demorando, me afundando ainda mais no chão frio.
Penso que em toda a minha vida, nunca estive tão quebrado em frente a alguém como estou aqui, agora. A última gota de álcool se derrama em minha boca, não havia outra garrafa, ou nada que me tirasse por um milésimo segundo desse pesadelo.
O gosto amargo do álcool não apaga a realidade, não dissolve o caos na minha mente. Meus pensamentos giram, pesados, e é então que a verdade me atinge com força: ela está aqui.
Se alguém, algum dia, me dissesse que eu estaria novamente no mesmo ambiente que Scarlett, eu teria rido como um louco na cara da pessoa. Depois, socado a cara dela até que retirasse o que disse. Eu não estava pronto para vê-la. Esse não era o plano que montei em minha cabeça. Quando chegasse o momento certo, Scarlett não escaparia das minhas mãos. Eu iria até ela, onde quer que estivesse — nem que, para isso, precisasse buscá-la no colo do capeta. Mas o destino, mais uma vez, resolveu brincar comigo, colocando Scarlett em minha frente como uma falha na matrix.
— Ela está aqui.
O peso de dizer isso em voz alta, é suficiente para me fazer levantar do chão e me jogar na cama.

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OCEANO
FanfictionEm meio ao brilho e às sombras de Nova York, Scarlett LeBlanc teve o mundo aos seus pés. Filha de um empresário influente e de uma mãe ligada ao mundo da moda, ela cresceu rodeada por luxo e poder. Mas, apesar de ter tudo o que desejava, nunca conse...