Confesso que aquele tinha sido o dia mais feliz de toda minha vida, eu jamais pensaria que o senhor Henderson, me quisesse e também a minha criança, confesso que sempre pensei no quanto ele era gentil e atencioso comigo, mas, achei que apenas fosse por respeito ao clã do seu amigo.
Desde que Duncan me comprou e entrou em minha vida, não me lembro de uma única palavra gentil dita para mim, e hoje Collin disse que seremos seu tesouro, ele aceitará minha criança, que sinto será uma menina, talvez os deuses queiram permitir que eu seja um pouco feliz, já que nem minha mãe e nem meu marido parecem que nunca gostaram de mim. Eu nunca conheci ou soube quem era o meu pai, e isso sempre me entristeceu, não quero que meu bebê não tenha um, por isso, estou me sentindo esperançosa, por que creio de o senhor Henderson possa ser um bom pai para minha criança. Mas, eu amarei minha filha, e vou dar o meu melhor para também amar meu novo marido, não sei se o que sinto hoje por ele pode ser chamado de amor, nunca me senti amada antes, nem sei como aprender, mas creio que sentir vontade de estar perto dele, gostar do seu cheiro, do tom da sua voz, de sentir calor quando me toca e de ser feliz quando fala comigo é algo bem especial, e eu vou me esforçar para ser agradável e obediente a ele.
Minha vida sempre foi difícil, não me lembro de um único dia em que eu não tenha apanhado ou tenha sido maltratada, quando morava com minha mãe era por ela e desde que estou com Duncan a cerca de quatro anos tem sido por ele, mas não posso comparar os dois, pois, os tapas de minha mãe eram suaves, enquanto os do meu marido me deixam roxa e dolorida, mas nada é pior do que ser amordaçada, amarrada, mordida e violada como o monstro faz comigo, quase todos os dias.
Desde a primeira vez que ele me violou, só sinto dor e desespero quando penso que ele me terá, quando penso que ele entrará de forma bruta e forte dentro de mim, enquanto me estapeia, morde e ofende. Já nem sei mais chorar de dor e desespero, apenas aceito minha sina e me deixo levar.
Mas, creio que minhas orações foram ouvidas, e desde que meu cunhado retornou, nesses últimos meses, Duncan só tocou em mim poucas vezes, e agora não tocará mais, e isso me faz sentir tanto alivio e alegria, que mesmo ferida tenho vontade de rodopiar, mas a essa hora da noite seria impossível. Sou muito grata a Megan e Conan, por tudo que eles estão fazendo por mim e minha criança, além de estar nesse quarto confortável, quente e limpo, tenho a companhia de Nancy e Dina comigo, elas me ajudam muito e estou feliz que elas dormem no quarto ao lado, anexo ao meu, desde que fiquei sabendo do que aconteceu com a amante do meu marido, confesso que tenho medo de ficar sozinha, eu sei o quanto Duncan é louco o suficiente para tentar entrar aqui, ainda bem que a senhora Annabel autorizou que eu fique com a porta trancada.
Estou distraída em meus pensamentos que nem percebo que Nancy se aproxima, com uma grande caneca de chá quente e me entrega, dizendo que é para que eu e a minha criança possamos nos aquecer e repousar, pois está muito frio lá fora, hoje. Nesse momento ela também arruma as toras de madeira na lareira e coloca mais uma coberta sobre mim, e só agora eu percebo que estava mesmo com frio.
- Obrigada Nancy, eu estava mesmo com frio.
- Eu sabia, minha senhora, afinal estamos próximas e em meus aposentos eu estava sentindo muito frio. Seu rosto em dois dias deve estar desinchado, mas as manchas ainda demoraram um pouco para sumirem, mas, logo estará bem.
- Eu espero que sim, sabe eu me sinto muito envergonhada por isso, eu não queria que ninguém soubesse, não quero desonrar a família, pois, eu gosto muito de todos.
Ela se aproxima e senta ao lado da minha cama e segurando minhas mãos me diz que eu sou muito querida por todos, e que eles estão muito felizes em me ver longe de Duncan, disse que sempre desconfiaram do meu sofrimento, mas que não podiam falar nada, e que ela pedia aos deuses que minha criança fosse tão linda e doce como eu, que isso traria alegria para a senhora Annabel e para todos no castelo.
Entreguei a a caneca vazia, do chá que eu havia bebido, a ela, e deitei-me, estava emocionada em saber que era querida e que eles gostavam de mim, Nancy era uma senhora viúva que não tinha filhos e estava com a família desde que o senhor Conan havia ido para guerra, eu confiava nela e sabia que o que falava era verdade. Agradeci, mais uma vez, por seu cuidado e me aconcheguei, acariciando meu ventre, sob as pesadas cobertas, enquanto o sono me tomava para o repouso tranquilo e calmo que eu e minha criança merecíamos.
A manhã estava bem clara, mas ainda fria, me levantei e fui ao quarto de banho fazer minha higiene, em seguida com a ajuda das criadas vesti uma roupa quente, percebendo que minha barriga estava redonda e avantajada, eu contava que estava com quase sete meses, achava que logo minha criança viria ao mundo, então como estava me sentindo mais animada e forte, decidi fazer a refeição da manhã no salão com os demais e também iria hoje começar a bordar as roupas da minha filha, pedi a Nancy que fizesse uma longa trança em meus cabelos para não atrapalhar quando fosse fazer as costuras e que me ajudasse a descer, assim que todos estivessem indo lá para baixo. Não sentia mais dor em minhas pernas, apenas onde estava roxo, o unguento que Megan nos ensinou a passar ajudava muito a desinchar e a aliviar as dores, mas queria me apoiar em alguém para não correr o risco de cair da escadaria. Ao passar pelo espelho pude ver que meu rosto estava muito melhor, apenas uns pontos em roxo, mas os lábios e os olhos já estavam desinchados.
Desde que decidi enfrentar Duncan, ontem, eu não me sentia mais tão enfraquecida diante dele, pois, sentia que os olhos de Collin sob mim, me deram coragem, que a presença dele me deu força. E decidi que não teria mais medo, que eu me defenderia e defenderia minha criança, ele não iria mais me maltratar, porque agora eu sentia que não estava sozinha. Pedi aos deuses que me dessem a determinação de saber agir para que pudesse honrar aquela família que era tão importante para mim, a única que eu tive em toda minha vida.
Ouvi barulhos vindo do corredor, pareciam gritos, eu e as criadas ficamos em silêncio para tentar entender o que estava acontecendo até que escutamos batidas fortes, na porta e alguém tentando abrir a fechadura, sabia quem era, mas, não me deixaria intimidar, logo meu cunhado cuidaria disso, apenas sentei e aguardei até que pudesse descer.
Duncan estava completamente sem controle, para invadir a ala do seu irmão que também era o chefe da família, eu temia que em algum momento ele fosse levado preso na presença do Conselho para ser julgado, pois desde que meu sogro morreu, sei que ele desviava dinheiro da família, pois quando ele achava que eu estava desacordada, como ele estava sempre bêbado, ele contava tudo para o Edgar, e eu sabia que a traição poderia causar a expulsão do clã e a morte, e eu não estaria mais ao lado dele para sofrer por isso.
Disse as criadas que ficassem sentadas junto de mim e que logo meu cunhado resolveria o problema, bastava que não abríssemos a porta e nos mantivéssemos em silêncio.
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O Senhor de Fire Moon
RomantikEssa é a história de um homem que ao perder a mulher e o filho recém nascido, decide sair do seu clã e ir para a guerra. Deseja morrer para aliviar sua dor... Mas os deuses o fazem retornar para seu lar, para seu Clã. Foram dez anos de ausência, e...