Capítulo 5

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Ela está vivendo em um mundo em chamas

Sentindo a catástrofe, mas sabe que pode voar para longe

Oh, ela tem os pés no chão

E está incendiando

Oh, ela tem a cabeça nas nuvens

E não irá voltar atrás

Alicia Keys - Girl on Fire


DEMETRA, COM APENAS 19 anos, enfrentava uma realidade desafiadora como caixa de supermercado, sustentando não apenas a si mesma, mas também sua irmã mais nova, Georgina, após a morte da mãe. A rotina era exaustiva, mas Demetra via na educação e na tecnologia uma oportunidade para um futuro melhor. Decidida a mudar o curso de suas vidas, Demetra havia ingressado na Universidade de Pátras a fim de estudar Ciências da Computação. Durante os quatro anos de estudos, ela equilibrou o trabalho, os cuidados com a irmã e as demandas acadêmicas, uma tarefa que exigia sacrifício e determinação.

A ausência de tempo para relacionamentos era uma escolha consciente, pois Demetra temia se desviar de seus objetivos e da promessa feita à mãe em seu leito de morte. Mesmo recebendo convites de homens interessados nela, Demetra declinou, concentrando-se na construção de um futuro estável. No último ano de faculdade, ela percebia mudanças preocupantes em Georgina. O segredo guardado pela irmã foi revelado: uma gravidez escondida e uma relação com um rapaz problemático. O parto prematuro de Ophelia havia marcado um ponto crítico, trazendo não apenas a alegria do nascimento, mas também a dor da perda de Georgina.

A sequência se desenvolvia com Demetra assumindo o papel de mãe substituta, adaptando-se à nova dinâmica familiar enquanto enfrentava desafios acadêmicos e profissionais. No ponto crucial da vida de Demetra, o momento em que a perspectiva do futuro se delineava. Em meio às responsabilidades diárias, o anseio por proporcionar um futuro melhor para ela e sua irmã permeava seus pensamentos. A imagem de Demetra, após longos dias de trabalho no supermercado, voltando para casa, mas seus olhos miravam horizontes distantes, vislumbrando um caminho por meio da educação.

A escolha pelas Ciências da Computação não havia sido apenas uma inclinação acadêmica, mas também uma estratégia cuidadosamente planejada para garantir um futuro mais promissor. Ela, com seu pragmatismo notável, enxergava na tecnologia não apenas um campo de estudo, mas uma via de acesso a empregos bem-remunerados e à estabilidade financeira, que tanto almejava. Aquela decisão representava mais do que uma busca por conhecimento, era uma promessa intrépida de romper com as limitações impostas pelas circunstâncias.

O espectro do cansaço e das dificuldades diárias não diminuía a determinação de Demetra. Seu foco incansável era direcionado para além das adversidades e a promessa feita à sua mãe, no leito de morte, ecoava como um mantra constante. A visão de Demetra sobre a tecnologia transcendia a mera oportunidade de carreira, sendo como uma bússola que apontava na direção da independência e do empoderamento. O seu cansaço físico e mental era evidente, mas ela persistia, impulsionada por um propósito maior. A renúncia aos convites para sair e aos flertes dentro e fora da universidade refletiam a resiliência de Demetra. Seu compromisso com os estudos e o cuidado da irmã era inabalável, evidenciando não apenas a força de vontade, mas a abnegação em prol de um futuro mais promissor.

A decisão consciente de evitar relacionamentos amorosos, embora ofertas tenham se apresentado, era uma manifestação de sua determinação e olhar em direção ao futuro. Ao longo dos quatro anos na Universidade de Pátras, a vida de Demetra se desenrolou como uma trama complexa, entrelaçando trabalho, estudos e sua dedicação inabalável ao papel de irmã mais velha. As noites eram consumidas pelos livros e códigos da faculdade, enquanto os dias eram dedicados ao trabalho no supermercado e às responsabilidades de cuidar da irmã e da casa. A falta de tempo para relacionamentos era evidente, destacando a renúncia de Demetra a aspectos da vida social em prol de seus objetivos acadêmicos e familiares.

As dificuldades enfrentadas não eram apenas acadêmicas, mas também emocionais e físicas. A pressão constante de equilibrar múltiplos papéis, aliada à exaustão decorrente da rotina intensa, eram elementos constantes em sua vida. Ao longo de sua jornada universitária, Demetra não estava imune às tentações e convites para sair que surgiam em meio ao ambiente acadêmico e profissional. Colegas de classe e, ocasionalmente, companheiros de trabalho no supermercado, e até clientes do estabelecimento, mostravam interesse em compartilhar momentos fora do ambiente acadêmico e profissional.

A força de vontade de Demetra, entretanto, se destacava naqueles momentos. Ciente de suas responsabilidades e dos objetivos que a motivavam, ela recusava cada convite, resistindo às distrações emocionais que poderiam desviá-la de seu caminho. Aquelas recusas não eram apenas uma escolha prática, mas uma demonstração de sua firmeza em priorizar o que realmente importava em sua vida tumultuada. A queda nas notas escolares de Georgina e a aproximação com aquele um rapaz problemático, envolvido com atividades perigosas, desencadeou uma crescente preocupação em Demetra. Desesperada para proteger a irmã mais nova, Demetra tentava estabelecer um diálogo, buscando compreender os motivos por trás daquela mudança de comportamento.

As suas tentativas de orientar e aconselhar Georgina revelavam uma profunda conexão entre as duas, enquanto ela procurava manter o laço familiar intacto. A reviravolta atingiu seu ápice quando, após quase oito meses de sigilo, Georgina finalmente revelou à Demetra que estava grávida. O choque da notícia foi agravado pelo fato de Georgina ter ocultado a gravidez, escondendo sintomas e a barriga magra. O desenrolar da tragédia atingiu seu auge com a revelação da morte do pai de Ophelia, resultado de um conflito entre traficantes. Demetra, agora confrontada com o fardo da maternidade ao perder a irmã, foi forçada a encarar o desafio de criar uma criança, que era prematura e órfã.

A figura de Georgina, mesmo ausente, continuava a influenciar o caminho de Demetra, que havia descoberto as razões pelas quais a irmã manteve a gravidez em segredo. Demetra, agora como a única guardiã da bebê, enfrentava não apenas o luto pela perda de Georgina, mas também os desafios iminentes de criar uma criança sob circunstâncias tão dolorosas. Aquele ocorrido marcava uma virada crucial em sua vida, carregando consigo não apenas a responsabilidade de cuidar de Ophelia, mas também as sombras do passado que continuaria a assombrá-la. Demetra, imersa em uma tempestade de emoções, enfrentava o dilema avassalador de perder não apenas a irmã, mas também a figura materna que Georgina poderia ter sido para Ophelia.

O luto a envolveu como uma sombra, enquanto ela confrontava a realidade cruel da mortalidade. O choque da perda era agravado pela complexidade da situação, uma vez que Demetra agora se encontrava repentinamente responsável por uma criança recém-nascida. Ophelia, prematura e chorando desolada, tornava-se o último elo tangível com o passado de Demetra, intensificando a necessidade de enfrentar o desconhecido futuro com coragem. Enquanto enfrentava a dor da perda, ela tomou uma decisão significativa ao batizar a pequena sobrevivente de Ophelia. O nome, carregando uma beleza melancólica, foi escolhido com cuidado por Demetra, que encontrava no simbolismo uma fonte de esperança renovada.

Ophelia, figura trágica da literatura shakespeariana, evocava sentimentos complexos de perda e despedida. Além disso, o nome trazia o significado de ajuda, o que, de fato, naquele momento, era o que a menina precisava. No entanto, Demetra via além da tragédia associada ao nome, enxergando uma oportunidade de transformação e renovação. Aquela criança emergia da escuridão do luto, representando uma promessa de novos começos.

Ophelia, agora um elo vivo entre o passado e o futuro, tornava-se uma luz brilhante na jornada de Demetra, simbolizando a esperança, que persistia mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Ao encarar a inesperada maternidade e a dolorosa perda de Georgina, Demetra se encontrava em um ponto de virada inescapável. A realidade, agora tingida por uma mistura de tristeza e responsabilidade, tornava-se a forja onde sua determinação era testada. As lágrimas de luto eram mescladas com a coragem recém-descoberta de Demetra, que, mesmo diante da escuridão, encontrava forças para seguir em frente.

Por Amor e Sacrifício - Série Fascínio Grego - Livro III (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora