Milena
Algumas semanas depois - Dia da Apresentação
Minsk, Bielorrússia
Deixo a música guiar meus movimentos. Sinto cada acorde do violino tocar na parte mais profunda do meu ser enquanto danço pela sala.
Pratico meu solo incansavelmente até atingir a perfeição. Sei que não deveria ensaiar no dia da apresentação por ter a possibilidade de me lesionar, mas hoje não posso errar. É a oportunidade da minha vida e não posso estragar tudo.
Estou me preparando para a parte final da coreografia quando de repente a música para. Estava tão concentrada que quando a melodia é interrompida, é como se eu fosse acordada de um sono profundo e trazida ao mundo real de forma abrupta.
Como estava no meio de um passo, me desequilibro e caio no chão. Sinto meu tornozelo dolorido, então coloco a mão e o massageio para ver se foi algo mais sério. Pelo que parece, a dor é apenas pelo impacto da queda, o que me deixa aliviada.
Assim que me levanto ajeitando minha roupa, ouço risadas altas e esganiçadas. Não preciso me virar para saber de quem são.
- Ela caiu igual a um saco de batatas, Anna. - Svetlana diz ao mesmo tempo que gargalha.
- Tadinha, é tão desengonçada.
As gêmeas riem tanto que lágrimas saem de seus olhos. Eu apenas as encaro séria.
Apesar das duas me odiarem e fazerem brincadeiras maldosas, não tenho medo delas, porque são inofensivas. Ao contrário da minha madrasta, que apesar do rosto de anjo, é uma víbora e uma mulher muito perigosa, capaz de fazer qualquer coisa para ser dar bem.
- Cuidado para não se desequilibrar na apresentação, Mila. - Svetlana, se aproxima de mim me encarando de cima a baixo.
Ela é a pior das duas, a mais ardilosa. Anna é apenas uma bobona que segue tudo o que a irmã e a mãe falam. Enquanto Svetlana tem a mente mais maldosa, com certeza pela influência de Oksana.
- O que fazem aqui? - Ignoro suas provocações.
- Mamãe e Alexei estão te chamando. - Anna responde.
Pego minha garrafa de água e vou em direção às escadas.
A sala que estamos fica no porão. Minha mãe pediu que construíssem esse lugar quando comecei a dançar ballet aos seis anos para que eu tivesse um espaço onde pudesse ensaiar. Meu pai foi contra, disse que ia ser perda de tempo e quando crescesse, eu iria enjoar de ser bailarina. No entanto, mamãe bateu o pé insistindo, e papai acatou seu pedido.
Oksana tentou fazer a mente de Alexei para que ele construísse outra coisa aqui quando veio morar conosco, mas pela primeira vez Alexei ficou do meu lado. Não queria que destruíssem um lugar que foi idealizado por mamãe. Mesmo sendo um péssimo marido, acredito que meu pai tenha a amado, de uma forma estranha, mas ainda assim é amor.
Coloco o primeiro pé no degrau, mas Svetlana segura meu braço antes que possa seguir meu caminho.
- É bom aproveitar seus últimos dias de bailarina. Mamãe arranjou um marido para você e tenho certeza que ele não gostaria ter uma esposa que se dedica tanto a dança e não a ele. - Ela jorra seu veneno e não escondo minha indignação. Tiro meu braço do seu aperto.
- Você deveria ser menos invejosa, Sveta. Talvez assim encontraria um marido para você também. - Provoco-a.
Não acho que casar, principalmente fazendo parte de uma sociedade tão tradicional quanto a russa, seja algo bom. Muitas vezes os maridos são pessoas horríveis e tratam suas esposas como lixo. Apenas uma pequena porcentagem dá certo, então por isso nunca tive vontade de me casar, ainda mais tendo um exemplo tão problemático próximo a mim.
No entanto, nós mulheres fomos criadas para nos tornamos mães e esposas, e as que não seguem por esse caminho são mal vistas. Para Svetlana, casamento é um sonho e só por isso a provoco, mas por dentro tenho muito medo como será minha vida a partir de agora.
Engulo o medo e a insegurança. Finjo que não me importo com esse possível casamento e que nada me abala, mesmo não sendo verdade.
Subo as escadas tentando esconder minhas mãos trêmulas de ansiedade. Vou em direção ao escritório de papai. Quando vou colocar a mão na maçaneta, percebo que a porta está entreaberta. Escuto as vozes dos dois um pouco alteradas.
- Não é possível que o futuro pakhan tenha interesse nela. - Oksana reclama. - De todas as meninas da Rússia e da Bielorrússia, ele escolhe Milena por qual razão? Faria mais sentido que pensasse em Svetlana ou Anna.
O futuro pakhan interessado em mim?
- Ainda não tem nada confirmado, milaya. - Reviro meus olhos. Meu pai é tão passivo com ela. - Ele apenas demonstrou interesse em fazer um acordo de casamento, uma aliança. A Bratva está de olho nas nossas indústrias, o que é ótimo, porque precisamos do dinheiro e do investimento. Em troca, eu dou a mão da minha filha.
Meu Deus! Quando pensei em casamento, imaginei que seria com um soldado ou um membro de baixo escalão. Nunca pensei que o futuro General se interessasse em se casar comigo.
- Svetlana seria perfeita para esse acordo, Alexei. Ela foi criada sob todas as regras da organização e ainda tem o sobrenome do pai que era importante. - Não me importaria que minha meia irmã fosse escolhida, não tenho interesse nenhum em me casar.
- Você sabe muito bem como funciona esse acordos, Oksana. Svetlana é minha enteada e a aliança só é formada entre familiares de mesmo sangue dos autores do acordo. Um Kozlov e uma Federova.
- E se o acordo der errado e o General não queira mais a aliança? Vamos falir completamente. - Minha madrasta tenta soar preocupada, mas soa falso aos meus ouvidos. Parece que ela quer que dê errado.
- Teremos que buscar outro acordo de casamento, só assim para sairmos dessa situação.
- Andrey mostrou interesse em Milena e ofereceu uma boa quantia em dinheiro por ela.
Sinto nojo ao ouvir ela falar isso. Além de me tratar como mercadoria, Andrey é velho viúvo e nojento que só se relaciona com meninas muito mais jovens. Sua aparência é asquerosa e seu comportamento pior ainda.
Sei que Oksana fez de propósito. Ela sabe muito bem o quão podre é esse homem, por isso quer me empurrar para ele.
- É uma boa ideia caso tudo dê errado. - É claro que meu pai iria concordar com a bruxa.
Decido interrompê-los nesse momento. Entro no escritório sem bater.
- Filha. - Alexei exclama.
- Me chamaram? - Me finjo de sonsa, como se não tivesse ouvido quase toda a conversa.
- Sente-se, querida. - Oksana aponta para o assento do sofá ao seu lado. Ignoro e me mantenho de pé, encarando meu pai.
- Não seja mal educada com sua madrasta, Milena. Sente-se agora.
Engulo a raiva e me sento ao lado da bruxa que me encara vitoriosa.
- Te chamamos aqui, porque recebemos uma proposta de casamento para você. Na verdade, não é bem uma proposta, é mais um possível acordo. - Meu pai me explica o que já tinha ouvido. - Ivan Sergeyvitch Kozlov, o futuro General da Bratva, quer fazer um acordo conosco, formar uma aliança e você seria a peça chave para isso, filha.
- Ele virá assistir sua apresentação hoje à noite e depois vamos mediar um encontro entre vocês dois, já que não podem ficar sozinhos. Se causar uma boa impressão, teremos uma chance grande de conseguir esse acordo e sair desse limbo que estamos há anos. Dependemos de você, Milena. - Ele basicamente implora.
Tenho vontade de rir de tão patética que é a situação. Entretanto, não tenho escolha. Tenho que causar uma boa impressão no pakhan, porque se não tenho me casar com Andrey. Prefiro passar o resto da vida com um estranho do que com esse nojento.
- Tudo bem, pai. Vou dar o meu melhor. - Digo de uma vez. Ele responde com um sorriso empolgado.
Nota da autora:
- Milaya: querida, meu amor.
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O Demônio de Moscou - Triologia Irmãos Kozlov (Livro 1)
RomanceEle é um homem cruel e vingativo. Ela é uma jovem vítima de uma família abusiva. Ele se torna líder da máfia russa e precisa de uma esposa. Ela se encaixa no papel perfeitamente. No início, a combinação dos dois é explosiva. Eles não se suportam. Co...