Capítulo 39

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Ivan

Seguro o sorriso ao ver Milena roer as unhas de ansiedade no carro. Ela já tentou descobrir aonde vamos milhares de vezes, mas não quero estragar a surpresa, então não respondi, apenas a encarei com um sorriso de canto de boca que a fez resmungar.

Depois que minha mulher me contou do seu desejo de voltar a dançar, conversei com Vladmir, o dono da Academia de Ballet de Moscou, uma das mais prestigiadas da Europa e do mundo. Como nossas famílias têm negócios há anos, ele nem pensou duas vezes em aceitar meu pedido e também, porque não aceito não como resposta.

Estou levando Milena para participar de um ensaio da peça A Bela Adormecida, que se eu não me engano seria a mesma apresentação que ela faria em Minsk antes de nos casarmos, mas por conta do casamento não pôde dar continuidade. Se ela gostar e se adaptar pode entrar no elenco.

Assim que o motorista para em frente a um prédio gigantesco de construção clássica, ouço um suspiro ansioso da minha esposa.

- Ivan... - Ela ofega. - Onde estamos? É o que estou pensando?

Sinto a ansiedade em sua voz. O ballet para Milena é como o boxe é para mim, é a forma que encontramos de desestressar e fugir da nossa realidade. Então, consigo imaginar o que sentiu ao ficar sem dançar por um tempo.

- Venha. - Não respondo e saio do carro, sendo seguido por ela.

Abro o porta-malas e retiro as sacolas com as sapatilhas e roupas novas que comprei para Milena. Entrego a ela e vejo seu olhar confuso, em um misto de empolgação e ansiedade.

- Temos que entrar. - Falo já me virando de costas, quando minha mulher segura meu braço me impedindo. - O que f...

Milena agarra meu rosto e beija meus lábios com veemência. Sei que não gosta de fazer essas coisas em público, mas está tão feliz que não se importa e eu como um bom marido, correspondo com toda a intensidade.

- Obrigada, amor. - Ela diz depois que nos separamos ofegantes.

Milena entrelaça nossas mãos e vamos em direção a entrada do teatro, onde os ensaios vão acontecer. Faço um sinal para os seguranças nos seguirem, porque apesar de ser um lugar seguro não posso dar chance ao azar.

Assim que entramos, minha mulher parece uma criança conhecendo a Disney. Seus olhos brilham e não deixam escapar nenhum lugar do teatro. É muito maior que o de Minsk, por isso ela está tão impressionada.

Andamos pelo local e subimos as escadas em direção ao palco, onde os dançarinos, professores e o pessoal da produção estão. Quando nos percebem, todos ficam em silêncio e sei que é por minha causa. Milena dá um aperto firme em minhas mãos e acredito que seja por conta do nervosismo.

Uma mulher por volta dos seus cinquenta anos, que acredito ser a professora, se aproxima de nós com um sorriso forçado.

- Pakhan, é um prazer recebê-lo aqui. - Ela faz um pequena reverência me fazendo segurar a risada pela cena ridícula. Por que as pessoas insistem em fazer isso? - Você deve ser a senhora Kozlova? É um prazer conhecê-la. Sou Marta Rurik, a professora e também a responsável por tudo.

Não sei porque, mas essa mulher não me agrada muito. Ela avalia Milena dos pés à cabeça e não gosto da forma como parece julgar minha esposa. É bom que tome cuidado, pois vou estar de olho nela.

- O prazer é todo meu, senhora Rurik. Pode me chamar de Milena apenas. - Minha mulher é doce e simpática como sempre, totalmente o oposto de mim.

- Pode me chamar de Marta, querida. - Ela sorri falsamente. - Vamos começar?

O Demônio de Moscou - Triologia Irmãos Kozlov (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora