Capítulo 6

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Milena

Meu coração se enche de emoção ao ouvir o público nos ovacionando. Tento segurar o choro para não borrar a maquiagem, mas uma pequena lágrima escapa sem querer do canto do meu olho.

Arseny me encara sorridente, para minha surpresa, e segura uma de minhas mãos nos guiando até a beira do palco. Ele levanta nossos braços unidos e em seguida fazemos uma reverência em agradecimento. A plateia grita e aplaude mais veementemente ainda.

Voltamos para nossa posição anterior, sorrindo para o público e logo depois as cortinas de veludo vermelho se fecham, finalizando o espetáculo de vez.

Apesar de estar um pouco mais tranquila do que antes, a adrenalina ainda corre por minhas veias. As batidas do meu coração estão tão fortes que acredito que são audíveis.

O elenco e a equipe inteira trocam um abraço em grupo em comemoração ao sucesso da apresentação e em seguida Polina inicia um discurso nos parabenizando. Ela diz palavras bonitas e chega até a me elogiar, dizendo que sou uma das melhoras Auroras que já viu em sua vida.

Acho muito estranho a forma como fala, porque sempre me destratou e duvidou da minha capacidade. Sei que dancei muito bem hoje e dei meu melhor, mas minha professora nunca daria o braço a torcer para me elogiar, ela é orgulhosa demais. Desconfio que possa ter descoberto o meu possível casamento com Ivan Kozlov. Ela só me trataria dessa forma se eu tivesse algo a oferecer. Como não tinha nada antes, Polina me ignorava, agora com a possibilidade de me tornar a matriarca da Bratva, seu jeito mudou completamente.

Depois de alguns minutos conversando com todos, decido ir ao camarim para ficar um pouco sozinha e também para tirar um pouco do leite que acumulou. Senti dor durante a apresentação, mas segurei o máximo que deu para não arruinar tudo.

Por ser a protagonista tive direito a um camarim particular, pois tive que fazer várias trocas de roupa ao longo do espetáculo. É um pouco pequeno, porém tenho minha privacidade, o que é ótimo, principalmente quando se tem um problema como o meu.

Descobri que saia leite dos meus seios quando tinha quinze anos. Minha mãe me levou a vários médicos e nenhum sabia dizer o que era, o mais próximo de uma solução que chegaram é que talvez seja um problema hormonal.

Fiz todos os tratamentos possíveis para que secasse o leite, mas nenhum funcionou. Tomei remédios, usei compressas frias várias vezes na semana, evitei tomar muita água e quase cheguei a desidratar, optei também por faixas compressivas, entre outros métodos. No entanto, foi apenas muito doloroso e uma perda de tempo, tive que desistir e aprender a conviver com esse problema.

No começo foi horrível. Me sentia esquisita, uma aberração. Desde sempre tive seios um pouco maiores que a média, mas depois que o leite veio, aumentaram de tamanho. Quando mais nova, vestia roupas largas e colocava faixas para tentar esconder esse fato.

Hoje em dia já me acostumei, não vou dizer que levo numa boa, mas já aceitei que nunca serei normal e que nunca me sentirei confortável o suficiente em compartilhar intimidades com outra pessoa. Essa é uma das razões pelas quais eu nunca quis casar. Como compartilhar com meu futuro marido, com quem provavelmente terei momentos íntimos, que sou lactante? Só imagino reações negativas da parte dele, então prefiro não pensar nisso no momento para não me magoar e sofrer por antecipação.

Assim que chego no local, fecho a porta e tiro meu figurino com rapidez. Ele estava apertando meus peitos, me fazendo sentir mais dor ainda, então quase o rasgo desesperadamente, o que me dá um alívio instantâneo. Depois de tirar todo o resto, fico apenas de top e calcinha. Me sento na cadeira de frente para o espelho e desfaço o coque do meu cabelo, arrancando as inúmeras presilhas e acessórios juntos com coroa. Solto um gemido de alívio enquanto faço uma leve massagem no coro cabeludo.

Pego entre minhas coisas um colar que sempre carrego comigo para todo o lugar. Não sou supersticiosa, mas acredito que ele me traz sorte, é meu amuleto. Minha mãe me presenteou quando comecei a dançar, é uma joia prata com um pingente de sapatilha. Dou um beijo no colar e sussurro para mim mesma:

- Eu consegui, mamãe. - A voz chega a embargar.

Fico um tempo refletindo enquanto observo o colar, mas a dor no seio volta a tomar minha atenção. Arranco meu top e pego a bomba de tirar o leite, iniciando a sucção.

Demora alguns minutos e estou quase terminando, quando ouço batidas na porta. Guardo todos os meus pertences rapidamente e corro em direção ao cabideiro pegando o meu robe preto de cetim desesperada, vestindo-o em seguida. Respiro fundo segurando firmemente o roupão, pois estou seminua por baixo dele, e abro a porta de uma vez. Fico chocada quando dou de cara com Arseny.

Ele estava prestes a falar algo, mas no momento em que me vê apenas de robe, seu olhar corre por todo meu corpo. Nunca tinha me olhado assim antes, é a primeira vez. Fico um pouco sem graça, porque nunca o vi dessa forma e acredito que ele também nunca me viu assim. Na verdade, sempre nos detestamos e nos provocamos o tempo todo.

- Queria te parabenizar pelo espetáculo. - Arseny não olha nos meus olhos quando fala, olha diretamente para o meu decote. - Foi melhor do que eu esperava.

Quase reviro os olhos, até seus elogios me subestimam de alguma forma.

- Obrigada, você foi muito bem também. - Sinto uma gota de leite sair do meu seio, me deixando mais sem graça ainda. Aperto o roupão contra meu corpo ansiosa para que ele saia e deixei eu terminar o que estava fazendo antes.

- Meu pai está orgulhoso. - Ele diz com um sorriso arrogante.

- Fico feliz. - Respondo sorrindo falsamente.

- Estamos pensando em ir naquele restaurante de frutos do mar que fica na esquina do teatro. O que acha? - Me surpreendo com seu convite.

Estou prestes a negar, porque sei que hoje vou encontrar meu futuro noivo pela primeira vez e vamos jantar na minha casa. No entanto, nem consigo de responder, pois uma voz grave e retumbante nos interrompe.

- Ela já tem compromisso. - A aspereza em seu tom de voz faz com que os pelos do meu corpo se arrepiem.

Arseny se assusta e sai da minha frente, se virando para trás para ver o dono da voz. Meus olhos se arregalam quando dou de cara com um gigante de mais de dois metros, cabelos longos e todo tatuado, com um olhar sério e frio. E eu sei exatamente quem é, poderia reconhecê-lo a quilômetros de distância.

Poderia chamá-lo por qualquer um de seus títulos. O chefe da Bratva, o General, o pakhan, o demônio de Moscou. Entretanto, o que mais me apetece é Ivan Sergeyvitch Kozlov, meu futuro marido.

O Demônio de Moscou - Triologia Irmãos Kozlov (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora