Capítulo 17

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Milena

Minha visão fica um pouco turva, mas não me importo, continuo dançando com as meninas na pista de dança ao som de uma música eletrônica.

Tento mexer meu corpo de acordo com as batidas da música com um pouco de dificuldade. Não sei dançar nada além de ballet, mas estou tentando imitar as meninas e tem dado certo. Claro que sou um pouco desengonçada comparada a elas, no entanto estou me divertindo muito e isso que importa.

Tomo um gole do espumante que está em minhas mãos e o líquido acaba num instante. Nem percebi que tinha tomado tudo.

- Vou pegar mais bebida. - Grito para Olga que está dançando próxima a mim, chamando a atenção de todos.

Ela é muito bonita. É alta e magra, com cabelos ruivos, longos e cacheados, sua pele é tão branca que parece translúcida, seu rosto é coberto de sardas e seus olhos são castanhos claros como o de Ivan. Parece uma boneca de tão perfeita. E a roupa que usa, um vestido branco e longo com uma fenda enorme na perna, só contribui para sua beleza estonteante.

Todos em sua volta a olham com admiração.

- É melhor tomar água ou refrigerante, Mila. Você não está acostumada a beber. - Ela me aconselha e é claro que vou acatar, afinal Olga tem muito mais experiência que eu. - Vamos te acompanhar.

A ruiva chama Katya e as duas me acompanham até o bar. Pedimos água com gás para nós enquanto nos sentamos nas cadeiras de frente para a bancada e conversamos.

Não me sinto bêbada, mas sei que estou se tomar mais alguns goles de álcool é provável que eu passe mal.

- Você e Maxim estão juntos há quanto tempo? – Pergunto sem filtro. Hoje descobri que a bebida faz com que eu não meça minhas palavras.

Olga fica tão vermelha com meu questionamento que parece que vai explodir de vergonha. Ao mesmo tempo que parece ser uma mulher decidida e que sabe bem o que quer, ela tem um lado tímido e envergonhado. Acredito que assim como eu e Ekaterina, não deve ter muitas amizades femininas.

- É complicado... – Ela responde vagamente.

- Se não quiser falar, não tem problema. A bebida me deixou meio imprudente, me desculpa, não queria te deixar sem graça. – Me prontifico a falar. Não queria parecer que estava cobrando-a, imagino que já tem gente demais fazendo isso.

- Não se preocupe, é só que é uma história complicada. – Ela respira fundo se preparando para nos contar. – Eu era uma criança quando fui morar na casa de Ivan. Minha mãe era uma prostitua e não tinha condições de me criar, e meu pai também não, porque era praticamente um idoso. Quem acabou cuidando de mim foi tia Yelena, esposa do meu irmão.

- Eu e Ivan fomos criados juntos, como irmãos, mesmo eu sendo sua tia, e por consequência convivi muito Maxim. Como os dois sempre foram muito amigos e ele vivia na nossa casa, nos encontrávamos muito e foi aí que acabei me apaixonando. – Seus olhos brilham ao falar isso. – Diferente de todo mundo que me tratava mal por eu ser considerada bastarda, Maxim me tratava como uma princesa. Começamos a criar um vínculo, uma amizade, até que iniciamos nosso relacionamento. Estamos juntos desde sempre, só nunca assumimos.

- Se não for problema, posso saber o porquê? – Questiono tentando não parecer enxerida.

- Já ouvi coisas horríveis das pessoas que apenas suspeitam que estamos em um relacionamento. Comentários do tipo que Maxim é areia de mais para meu caminhão, que sou inferior a ele por ser filha de uma amante, que vivemos em pecado por nos relacionarmos antes do casamento e por ser subchefe, ele merece uma mulher de boa família. Então, isso só foi me deixando insegura com o tempo. Prefiro manter como está, assim não prejudico Maxim com os julgamentos.

- Sei como que é doloroso ouvir esses comentários, mas não deixe que essas pessoas que nem te conhecem de verdade e não sabem da sua história impeçam sua felicidade. Todos conseguem ver o quanto Maxim é apaixonado por você e tenho certeza de que o que as pessoas falam não o incomoda.

Olga não se segura e me abraça com força. Parece que falei algo que ela precisava e ansiava por ouvir há muito tempo.

- Agora chega de coisas tristes e vamos dançar. – Katya diz segurando nossas mãos e nos guiando para a pista. No entanto, Olga para no lugar com um olhar de quem teve uma ideia.

- Ao invés de dançarmos na pista, por que não dançamos ali? – Ela aponta para um palco onde tem uma barra de pole dance.

- Acho melhor não, gente. Não quero chamar atenção e Ivan pode descobrir e ficar bravo. – Falo insegura.

- Ele já vai ficar com raiva por estarmos aqui, então é melhor se arrepender de algo que fizemos do que algo que não fizemos, não acham? – Ekaterina tenta me convencer, mas algo que ela falou chama minha atenção.

- Como assim? Ele não sabe que estamos aqui?

- Ah relaxa, Mila. É sua despedida de solteira, temos que aproveitar ao máximo, afinal nunca se sabe quando você poderá fazer algo assim novamente. – Olga completa.

Solto um suspiro e aceno com a cabeça. Elas soltam um gritinho animado enquanto me guiam até o palco onde barra está. Os seguranças que estavam próximos nos ajudam a subir e assim que nos posicionamos, começamos a dançar.

Nem percebemos quando um grupo de pessoas, majoritariamente homens, ficam ao redor do local nos observando e gritando para nós continuarmos.

A princípio ignoramos e continuamos a dançar sem nos importar com os outros, mas de repente alguns rapazes começam a gritar frases obscenas.

- Tirem a roupa, gostosas. – Um jovem grita nos olhando e mordendo os lábios.

- Eu quero a ruiva pra mim. – Outro fala.

- Vou levar a loira baixinha pra casa. – O amigo dele aponta para mim.

Começo a ficar desconfortável. Algo que era para ser divertido, agora beira a um assédio. No momento em que vou descer do palco, o homem que apontou para mim, tenta segurar minhas pernas para me ajudar a descer. Quando vou me afastar de seu toque, um barulho alto que parece ser de tiro ecoa pelo ambiente.

Todos ficam paralisados, incluindo eu e as meninas. Olho envolta procurando a origem do som, mas não encontro nada. Um segundo tiro é ouvido, porém dessa vez consigo ver de onde vem.

Um grupo de homens armados surgem dos fundos da boate e andam até nós. Meu coração erra as batidas assim que vejo Ivan e Maxim na frente deles, ambos armados e caminhando em passos largos em nossa direção. Eles parecem furiosos.

As pessoas se afastam com medo à medida que se aproximam do palco. Eu apenas fico parada com os lábios entreabertos, sem saber o que fazer.

- Cuide de Ekaterina. Maxim cuidará de Olga e eu... – Ele diz para um de seus soldados que eu acredito se chamar Égor e depois se vira para mim com os olhos cerrados. - Eu lido com Milena.

Mal tenho tempo de raciocinar, porque Ivan segura minhas pernas e me coloca sobre seus ombros com facilidade, como se eu não pesasse nada para ele. Solto um grito assustada.

- O que está fazendo? – Pergunto incrédula.

- Te levando para casa, de onde nunca deveria ter saído. – Ele diz parecendo se controlar para não ser grosso.

O Demônio de Moscou - Triologia Irmãos Kozlov (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora