Capítulo 7

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Ivan

As cortinas se fecham, mas a plateia continua vibrando e tenho certeza que a maioria é para Milena. Ela simplesmente hipnotizou a todos com sua dança, inclusive a mim. Isso só me prova que talvez esse matrimônio seja um erro.

Quando aceitei o fato de que teria que me casar com alguém para ser o líder, imaginei que seria um casamento por conveniência. Não haveria atração ou qualquer tipo de sentimento entre nós. Cada um ficaria com quem quisesse e só teríamos intimidade para termos herdeiros, assim como foi com meus pais.

No entanto, quando coloquei os olhos em Milena, a primeira coisa que percebi é que me sinto atraído por ela.

Pensava que minha futura esposa teria uma aparência jovial demais para meu gosto, além de ser loira, o que não faz parte da minha preferência, já que gosto mais das morenas. Então, na minha cabeça seríamos completamente incompatíveis e seria apenas um casamento de aparências.

Não podia estar mais enganado. Milena é deliciosa. A aparência angelical não combina com o corpo matador. Na verdade ambos se complementam, tornando-a quase uma figura mística de tão bela.

- A cortina já fechou, por que ainda está encarando? - Maxim bate no meu ombro, me despertando dos meus pensamentos.

- Ela não pode ser minha noiva. - Declaro de uma vez.

Ter qualquer tipo de sentimento por sua esposa, mesmo que seja apenas atração sexual, em uma organização como a Bratva, é como ter uma fraqueza. Se alguém quiser te atacar, eles começam pelo elo mais fraco e mais doloroso para nós mafiosos, nossas mulheres.

- Não começa, Ivan. Pense na organização. - Meu amigo me repreende.

- Justamente por pensar na Bratva que não posso dar continuidade com esse acordo.

- Está falando em códigos agora, porra? O que caralhos você quer dizer? - Ele parece irritado e sem paciência.

- Porra, você viu ela? É óbvio que estou atraído por Milena, Maxim. - Resmungo um pouco alto demais e vejo algumas pessoas que ainda estão no camarote nos olhando. Por isso, diminuo o tom de voz. - Cancele o jantar agora mesmo, vamos voltar para Moscou.

Meu amigo me encara incrédulo por alguns segundos e logo em seguida ele cai na gargalhada.

- Não imaginava o quão medroso o grande Ivan Kozlov é. Tá com medo da garota? - Ele diz rindo me deixando mais irritado ainda. - Que eu saiba se sentir atraído por sua esposa é melhor ainda.

- Não na máfia, ela seria uma fraqueza para mim. Já não basta os inimigos ameaçarem minhas irmãs, eles se deleitariam ao saber que me importo minimamente com minha esposa.

- Você está sofrendo por antecipação. Eles vão ameaçar quem quer que seja a futura matriarca, sem se importar se você gosta dela ou não. Milena será protegida pelos nossos melhores soldados. - Maxim se aproxima colocando seu braço envolta dos meus ombros. - Pense na Bratva, Ivan. Vamos no jantar, você vai conhecê-la e se achar que essa atração será prejudicial, cancelamos o acordo.

Dou apenas um leve aceno e me levanto para irmos embora.

Andamos pelo teatro com nossos soldados em nossa cola, seguindo cada passo. Descemos as escadas do camarote e passamos pelo andar dos camarins dos bailarinos. Estou prestes a descer mais um lance de escadas quando algo chama minha atenção me fazendo estagnar.

Vejo o camarim de Milena com seu nome completo pregado na porta. Acredito que por ser a protagonista teve direito a uma sala só sua. No entanto, o que de fato me chama atenção é ver o moleque que fez par com ela indo em direção ao local. Pesquisei a vida dele e sei que é filho de um político daqui.

Fico pensando que por qual razão ele foi ao camarim dela. Tem algumas possibilidades em minha mente, mas nenhuma delas me agrada. Uma parte minha quer ir até lá ver com meus próprios olhos e outra quer apenas deixar para lá. Entretanto, sei muito bem que sou um homem controlador e se eu não for ver com meus próprios olhos, nunca terei paz.

- Podem ir descendo, preciso ver algo. - Aviso a Maxim, que assim que ouve o que disse, para no lugar e me encara confuso.

- Yerik pode te acompanhar. - Ele acena para um dos nossos soldados.

- Não precisa, vai ser rápido.

Mesmo confuso, meu amigo acata meu pedido e volta a descer com os seguranças.

Vou até a porta do camarim de Milena em passos rápidos.

Nada me prepara para ver o que está diante dos meus olhos. Meu sangue ferve ao dar de cara com ela vestida apenas de robe. Seus mamilos marcam o tecido de cetim, o que me faz acreditar que está sem sutiã. Seus cabelos loiros estão soltos e um pouco bagunçados. Acredito que devia estar se preparando para ir embora para o jantar em sua casa, mas o bastardo a interrompeu.

- Meu pai está orgulhoso. - Ouço ele falar de forma arrogante.

- Fico feliz. - Ela diz e percebo que é a primeira vez que escuto sua voz. É doce e suave, no entanto sinto que sua alegria ao falar com o moleque é falsa. Na verdade, tudo em Milena parece ser apenas uma casca, menos seus olhos que entregam o que sente no fundo de sua alma. Neles vejo tristeza e solidão.

- Estamos pensando em ir naquele restaurante de frutos do mar que fica na esquina do teatro. O que acha? - Dou um sorriso sarcástico. O bastardo está cantando ela na minha frente.

Não consigo me segurar e não deixo Milena responder.

- Ela já tem compromisso. - Minha voz sai mais áspera que o normal assustando os dois.

Arseny se vira para mim pronto para ver quem os interrompeu, mas quando me encara, seu olhar que antes estava desafiante e debochado, demonstra medo. Ele sabe quem eu sou e provavelmente conhece minha fama. Nunca irá me desafiar.

- Bom, já que você está ocupada, combinamos para outro dia. Até mais. - O moleque praticamente sai correndo depois que se despede. Tento segurar a risada do quão patética é a situação.

Volto meu olhar para Milena que me encara de volta com a mesma intensidade. Dou uns passos para ficar um pouco mais próximo dela e vejo seu corpo ficar tenso. Percebo que minha presença mexe com ela de alguma forma.

- Eu tenho voz sabia? Não precisa responder por mim. - Ela quebra o silêncio. Não respondo, apenas olho no fundo dos seus olhos. Seu rosto fica vermelho de vergonha, mas ela tenta se manter firme e inabalável. - Você pode me dar licença? Preciso me arrumar para ir para casa. Temos um jantar, se lembra?

Gosto do seu jeito abusado e provocador que não abaixa a cabeça para ninguém. Nunca alguém falou dessa forma comigo antes.

- Está acostumada a receber visitas de homens no seu camarim vestindo apenas um roupão? - Milena me encara ofendida com a pergunta.

- E se receber? Qual é o problema? Que eu saiba, não temos nenhum compromisso ainda. - Ela cerra os olhos enquanto diz. Sei que Milena está completamente certa, mas isso não impede que eu fique irritado. - Vai dizer que você não fica com outras mulheres? É celibatário?

- Isso não vem ao caso. - Vejo um sorriso vitorioso brotar em seu rosto.

- Então, não me julgue por fazer o mesmo que você. O acordo não foi finalizado ainda.

Nos encaramos como rivais. Um não quer mostrar as fraquezas para outro.

Imaginava que Milena seria passiva e delicada por ter sido criada pelas regras da máfia. Entretanto, ela me olha de igual para igual, me desafia e me provoca. Isso deveria causar o efeito oposto em mim, mas só me deixa mais interessado e fascinado.

- Termine de se vestir. Nos encontramos em sua casa. - Não deixo ela responder e saio em seguida.

O Demônio de Moscou - Triologia Irmãos Kozlov (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora