Capítulo IV

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        Nathália estava mais forte, pelo menos na questão física. Na espiritual parecia fraca de alguma forma. Talvez fosse o lugar, o que obviamente era e ela sabia exatamente disso.

        Porém algumas perguntas ainda estavam sem respostas. A principal era: quem é ela? Nathália caminhou pelo local que parecia enorme e achou o que parecia ser um piano, na verdade era um piano. Se sentou e foi tocando cada tecla para entender o som que saia. Fez isso por algum momento e repetindo até decolar cada som. Finalmente parou e olhou para as teclas em silêncio, e logo os seus dedos voltaram a tocar no piano e dessa vez um pouco mais intenso. Pam-pam-pam-pammm se ouviu por todo lugar. Só 4 notas. 3 rápidas e uma lenta. Era tudo que precisava. 4 notas. O que se poderia fazer com tão pouco?

        Ouviu muitas vezes que na simplicidade pode-se contar muita coisa. Muitas histórias surgem onde ninguém se importa. No passado, um homem surdo compôs uma das músicas mais famosas da humanidade. A base? O movimento da chuva. Pelo menos era o que diziam.

        No passado, uns 5 anos atrás, uma garota ficou órfã e sozinha no mundo. A vida é assim não é mesmo? Sem ninguém por ela, ela é enviada para um orfanato. A pobre garota rica e sem ninguém por ela! Quem se importa por uma garota qualquer quando o mundo está em chamas?

        A história da humanidade se baseia em ignorar os pequenos nas grandes mudanças. Todos pintam as mudanças como algo épico com uma batalha incrível e a vitória do bem sobre o mau. Mas a realidade é totalmente o oposto disso.

        Quem morreu foi quem ninguém ligava. Sangue, horror e caos. As ruas estão cheias de terror e sem esperança. O governo dirá em breve que irá liberar orçamento para as famílias mais necessitadas, mas alguns estão pior que vivos. Uma menina de 10 anos vê seus pais morrerem da forma mais trágica possível. Mais tarde vão encontrar a garota ainda congelada e parada. Ela não foi congelada por uma força externa, mas interna dela mesmo. A garota está coberta de sangue e não é dela.

        Morte... Quase ninguém pensa nisso, não é? A menina é enviada para o orfanato. Com o tempo começam os gritos, as convulsões e a dúvida se continuará viva até o amanhecer. Sim, o mundo mudou! O povo faz meme e se diverte com as piadas e caos. Mas a vida da garota é um inferno.

        Ela não tem esperança. Os médicos receitam remédios fortes. O orçamento e ajuda do governo não cobre por muito tempo. Começa os gastos para mantê-la viva e bem.

        A menina vê a dificuldade de todos e se sente culpada. Tudo isso era culpa dela, não é? Pelo menos a sua mente diz isso.

        Seu único conforto eram os animes, séries e mangás. A menina era uma verdadeira otaku. Mas com o tempo nem isso ajudava mais ela a esquecer sua situação.

        Um dia decidiu tomar muitos remédios para ver se tudo aquilo acabasse, mas então acordou no hospital e notou que só conseguiu mais pena das pessoas. Nem para morrer conseguia. Se sentia inútil até para isso.

        Foi numa manhã normal que a menina passou a ouvir uma voz. No início ficou com medo, mas se acostumou. Então começou a se esquecer de muitas coisas que fazia.

        A pena do pessoal do orfanato se tornou em medo. Ninguém queria adotar uma menina doente e que aparentemente mudava. Ela ouviu que os médicos usaram TDI para definir a doença. Ela não sabia o que era e foi pesquisar. Não acreditou pois achou incrível.

        Passou a assistir tudo que era filme com personagem com TDI: Cisne Negro, Clube da Luta, Fragmentado, As duas faces de um crime, Eu, eu mesmo e Irene, Ilha do Medo, Mr. Robot, Cavaleiro da Lua... Tudo. Ela precisava entender e buscar na ficção uma forma de aceitar o que era.

Conselho dos Deuses - A Maldição De Sísifo Onde histórias criam vida. Descubra agora