Capítulo XVI

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Oyá koro un le, o guerê gue
Sábà koro un lá, o gará ga
Omo obiri s'ala koro un le
O guere gue, a un lá komureló

Xire de Oya em Ketu

       

               África Ocidental, Império de Oyo, atual Benin, 1350 DC

        O homem vestia roupas brancas, era um dos anciãos da cidade e vivia em uma casa simples. Sua pele negra era muito bem limpa e cuidada, seus cabelos eram da cor da pele, embora a idade geralmente pedia a mesma tonalidade da roupa. A idade avançada nem mesmo era vista em seu rosto. 

        Na mesa, perto de si, estava o jogo de búzios pouco depois de ter sido usado para consultar o destino. Ele esperava alguém e já estava com tudo preparado só para entregar e se livrar daquilo que considerava chato e sem grandes importâncias. 

        Quando ouviu as batidas na porta, suspirou. Estava na hora de acabar com aquilo. Sem vontade, se encaminhou até a porta e a abriu só para encarar a jovem mulher na porta. 

        Ela vestia rosa, tinha cabelos longos em tranças e a pele suja por trabalhar na forja. Sua pele negra era áspera e os músculos se sobressaiam em seus braços. Era jovem e bonita apesar de parecer não se importar muito em ser feminina. 

        — Estava esperando você. — Ele falou sem emoção na voz. 

        — Interessante! — Ela falou e foi entrando sem pedir licença. — Geralmente quem vem é Exu, mas estava me esperando?

        — Realmente quer ir por esse caminho, Oya? — O homem suspirou. — Nós dois sabemos sobre muitas coisas e segredos não precisam existir entre nós. 

        Oya sorriu e olhou para o homem à sua frente. 

        — Ifá, não somos muito de nos ver, não é?

        — O que faz aqui, Oya?

        — Xangô, meu marido, pediu...

        — Eu falo aqui, Oya. Nessa terra. 

        — O grande Ifá, não sabe? — Oya pergunta fazendo uma cara de surpresa. — Lê o destino e não sabe?

        — O destino não funciona assim. Você sabe, princesa! Os Príncipes do Destino só falam de tipos de histórias que se repetem constantemente. Infelizmente não tem nada de novo debaixo do sol, não é? Mas isso não explica o que você faz aqui nessa terra. As histórias não explicam o porquê de estar aqui. Só dizem que está aqui. 

        Oya sorriu e foi até a mesa onde estavam os búzios. Pegou um na mão, brincou em silêncio e colocou de volta no lugar. 

        — Uma pessoa que deveria estar aqui, não está aqui. Ela nasceu e foi tirada desse mundo. 

        — Ori irá trazer de volta. Não pode mudar a história. É impossível. — Ifá comenta.

        — Exatamente. — Oya concorda. — Ori nunca perde não é? Vê eu: até eu estou debaixo das regras dela. Acha que eu gostaria de estar aqui? Acha que eu gosto de perder o meu tempo?

        Os dois se encararam. Ifá era mais alto e magro que Oya, embora a garota fosse mais forte que ele. O babalorixá pegou um pacote embrulhado e entregou para Oya sem dizer nada. 

        — Nós dois sabemos o que vai acontecer, não é? — Ele encara a menina. 

        — Eu não confio em você. — Ela fala. 

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