Capítulo XIX

7 2 88
                                    

     

Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas

Todas As Mulheres do Mundo da Rita Lee   

      Império de Oyo, atual Benin, África Ocidental, 1450 DC

        As duas mulheres caminham pela noite escura. Era uma floresta fechada e estavam se dirigindo para uma encruzilhada. As duas estavam visivelmente incomodadas e o cheiro das vísceras se tornava cada vez mais incômodo. Fígado, intestino e coração, tudo ainda com sangue fresco. Pobre animal que morreu para que elas tivessem sucesso na empreitada!

        Tinha poucos seres que realmente metiam medo em qualquer outro ser. E um desses eram as ajés, terríveis feiticeiras vodum, cuja grafia popular é voodoo. O vodum cultua os espíritos, sejam eles os bons ou mal. Um espírito é apenas um espírito, não é? Porém, a humanidade sempre temeu esse grupo, ainda mais quem os controla. São os espíritos que trazem o bem e o mal para cada pessoa. 

        As ajés eram divididas em dois grupos: as vermelhas, que só faziam o mal e as brancas, que faziam o bem. E elas se reuniam sempre para decidir o que seria feito. Nessas reuniões poderia ser decidido tanto pelo bem, como para o mal. Tudo iria depender da justiça que elas mesmo tinham.

        Eram feiticeiras antigas que deram o nascimento para os 8 ajoguns em vingança contra a raça humana. Esses ajoguns eram: ikú (morte), àrùn (doenças), òfò (prejuízos), ègbà (paralisia), òràn (tribulações), èpè (pragas), èwòn (prisão), èse (preocupações de qualquer tipo). Então, no sentido espiritual, se A Kianda era a mãe da Nathália, as ajés eram a mãe da Azrael. 

        Curioso, pois se A Kianda era Yemanjá no Brasil, a própria rainha do mar era uma ajé.

        — É sério? Estamos indo se encontrar com espíritos? Essas mulheres nem estarão na reunião em sua forma física, então basta encontrar o corpo e respingar pimenta. Assim não poderão fazer mal. 

        A mais jovem das duas falou. O que causou um certo sorriso amarelo na mais velha. 

        — Se você quiser ter um monte de feiticeiras furiosas atrás de você, fique à vontade. Mesmo que não possam fazer mal, os ajoguns podem. Porém, nessa reunião é o único momento que podemos ter para um pedido. — A mais velha respondeu.

        Não demorou muito para a primeira coruja surgir. Era um animal grande como a rasga mortalha, por isso um desavisado poderia jurar que era uma pessoa ou no mínimo uma pessoa-pássaro. E obviamente esse desavisado não estaria completamente errado.

        As duas colocaram as vísceras em algo parecido com uma pequena bacia oval enquanto outras corujas apareciam. Elas faziam aquilo como se suas vidas dependessem das vísceras.

        A mais velha usava um vestido amarelo, enquanto a mais nova um rosa. Ambas estavam com bastante joias pelo corpo. Eram mulheres nobres em uma encruzilhada tarde da noite e com corujas sinistras como companhia. Além é claro, dos fígados, coração e intestino em uma bacia oval. 

        — Meus respeitos a vós, minha mãe Oxorongá

        Vós que seguiram os rastros do sangue interior

        Vós que seguiram os rastros do coração e do sangue do fígado.

        Meus respeitos a vós, minha mãe Oxorongá

Conselho dos Deuses - A Maldição De Sísifo Onde histórias criam vida. Descubra agora