Capítulo XXIII

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Ela tem olhos iguais aos céus mais azuis
Como se eles pensassem na chuva
Odeio olhar para dentro daqueles olhos
E ver um pingo de dor

Sweet Child O' Mine do Guns N' Roses

       
        San Giovanni Rotondo, Itália, 1920

        A pequena cidade tinha um importante convento que abrigava membros da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. O lugar ainda sofria com as lembranças da primeira guerra mundial, que acabou não muito tempo atrás e arrasou boa parte da Europa.

        O convento recebia pessoas de vários lugares do mundo, todas em busca de ajuda espiritual para os seus problemas. Porém, as atenções eram todas dirigidas para um único frade no lugar. Um homem de saúde frágil e com constantes dores no corpo. Esse mesmo frade estava ajoelhado e rezando o santo rosário quando um homem comum entrou no lugar. Ele estava nervoso e com aparência assustada e foi parado por outro frade antes de chegar perto do frei que orava.

        — O irmão está rezando. Não pode interromper! — O frade falou para o pobre homem.

        — Mas… — O homem iria falar, mas o frade fez sinal pedindo silêncio total.

        O homem não estava perto do frei que rezava como se não tivesse conhecimento de nada que acontecia, já que estava totalmente concentrado nas suas rezas.

        O pobre homem estava impaciente e na sua mente passavam as imagens dos últimos minutos antes de adentrar o convento. Um outro homem surgiu na cidade e era perigoso e estava assustando as pessoas na pequena cidade. Claro, poderiam ir até a delegacia, porém o estrangeiro não era… Humano. Só tinha uma pessoa que poderia parar um ser assim e naquele momento estava rezando sem se importar com nada.

        O ser tinha dito que não mataria ninguém, se o frei aparecesse em menos de uma hora para conhecer a sua morte. Alguém teria que morrer naquele dia, já que o frei estava incomodando muito as forças satânicas ao tirar almas que já eram dos demônios. O próprio Lúcifer tinha ordenado a morte do frei.

        O homem ainda pensava nervoso sobre tudo isso quando notou o frei se levantar com um suspiro e caminhar com certa dificuldade até ele.

        — É impossível rezar com todo esse barulho! — O frei falou. No seu tom de voz não havia condenação, apenas cansaço físico.

        — Desculpe, irmão! Pedi para ele fazer silêncio total. — O frade que tinha pedido silêncio antes falou.

        — Mas eu fiz silêncio. — O pobre homem rebateu confuso. — Frei, tem um homem…

        — Eu sei! Não sou surdo. Você não parou de falar desde que chegou aqui.

        Ao se afastar, o homem perguntou para o primeiro frade:

        — Ele lê mentes?

        — Não só isso. — O frade colocou uma mão no ombro do homem de forma compreensiva para com a surpresa. — O irmão Pio recebeu uma missão divina: resgatar almas do inferno. Infelizmente essas almas já são, de certa forma, dos demônios. Mas o irmão Pio está convencido de que deve resgatar qualquer pessoa independente do que ela fez. Acontece que nenhum demônio quer perder o que considera seu por direito. Frei Pio acredita fielmente que deve libertar essas pessoas. Teve essa certeza ainda na infância. Viu que ele parece que foi agredido? Pode ter certeza de que não só parece. Essa não é a primeira vez que Satã envia seus soldados para surrar o irmão Pio.

        Não demorou muito até o frei Pio chegar até onde estava o demônio. Alguns curiosos se faziam presentes, mas Pio ignorava o público e já encarava o homem com um sorriso sacana no rosto.

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