Capítulo XXVIII

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Você vai se juntar na nossa cruzada?
Quem vai ser forte e ficar comigo?
Além da barricada
Existe um mundo muito grande para ver?
Então junte-se na luta
Isso lhe dará o direito de ser livre!

Do You Hear The People Sing? De Les Misérables

             

        "Um chefe que é capaz deve fingir ser incapaz; se está pronto, deve fingir-se despreparado; se estiver perto do inimigo deve parecer estar longe." Sun Tzu em A Arte da Guerra

        Algumas horas antes, longe dali, Débora se encontrava com mulheres velhas e jovens vestidas como ela. Eram o coven das bruxas ajés. 

        O coven era formado por mulheres de várias cores e aparências, mas todas esperavam pela rainha. 

        As ajés, ao contrário de outros coven, possuíam regras diferentes. Elas tinham uma rainha e todas seguiam as ordens da rainha. Sempre foi assim. Desde que a primeira Ìyamì Osoronga surgiu. A primeira coruja, a mãe delas.

        No começo era só um bebê que foi morto, mas hoje eram centenas e milhares espalhadas pelo mundo.

        Nanã, com seu vestido roxo, subiu em uma parte alta . Todas as mulheres estavam em suas formas humanas, embora usassem roupas cobrindo o corpo e máscaras grandes. Poderia se ver vísceras de animais e sangue pelo chão. Algumas tochas eram a única luz do lugar. Aquela era uma clássica reunião das bruxas vodun.

        — Todas sabem — Nanã começou — Que hoje teremos a nossa vingança. Finalmente hoje, nossa mãe irá castigar os nossos inimigos. Hoje, nós iremos nos mostrar ao mundo e principalmente Ela, nossa mãe. Débora, como a primeira entre as filhas, gostaria de apresentar a nossa mãe?

        Débora fez um sinal de que aceitava. Todas as mulheres estavam usando máscaras, inclusive a própria Débora. A única forma de saber a diferença era pela cor e o axé único. 

        Débora seguiu e tomou o lugar onde era de Naná. Ela contemplava todas aquelas ajé ali presente. Em outras situações não saberia o que fazer, não naquele momento. Naquele momento tinha total ideia do que fazer e dizer.

        — Vocês sabem como as encontrei. Nossa mãe me encontrou e enviou até vocês e agradeço por tudo que me ensinaram. Ter passado aquele tempo com a nossa Iyagba, me mostrou qual era a minha função nisso tudo. Compreender tudo que ela passou e teve que passar ao viver escondida dos nossos inimigos... Só me mostrou o quanto ela é grande e inteligente. Iyagba é rainha. E nossa mãe é a primeira. A nossa Ìyamì Osoronga. Nós, suas filhas, somos como ela, mas ela é nossa Iyagba. Nossa Mãe, nossa Rainha. Saúdam nossa mãe!

        — Òóré Yéyé ó! — As mulheres disseram em uma única voz.

        Do meio delas surge uma mulher negra. Vestida com um terno feminino preto. Em seus pés estão salto alto e médio. O rosto é coberto com uma máscara de coruja. Ela caminha calmamente e com toda a tranquilidade até o trono que a espera.

        Quando lá chega, ela tira a máscara revelando seu rosto e se dirige para as mulheres ali presente.

        — Hoje é um novo dia em nossa história. Hoje, minhas filhas, iremos mudar todas os alicerces dessa sociedade. Eu venho preparando tudo isso em todas as minhas vidas e nessa minha última eu notei que era a hora perfeita. Infelizmente isso fez com que anjos notassem o meu segredo, o que confesso que meio que me assustou. Mas é tarde demais para eles fazerem qualquer coisa. Por muitos anos escondi da humanidade o que realmente era. Até mesmo dos deuses. Pois eu sabia que o engano perfeito era ser o oposto daquilo que se é. Enquanto fingia não saber de nada, ficava sabendo o que os meus inimigos sabiam. Não é esse o padrão de todos? Se faz de burro e terá a ideia do que o inimigo sabe. Se meus inimigos estão de olho em mim, então mostro o que eles precisam ver. A partir de hoje, não serei mais a bruxa Suprema e nem mais serei a Denise, nome esse que me despeço. A partir de hoje serei Lilith!

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