Conselho dos Deuses - A Maldição De Sísifo

Capítulo X

Quando ela era apenas uma garota
Ela esperava conquistar o mundo
Mas isso voou para longe do seu alcance
Por isso ela fugiu em seu sono

E sonhava com o para-para-paraíso
Para-para-paraíso
Para-para-paraíso
Toda vez que ela fechava os olhos

Paradise do Coldplay

       

       Emma sabia que algo não estava certo.

        Primeiro que estava em um lugar totalmente diferente que parecia ser um laboratório de pesquisas. Ela caminhou um pouco e identificou um símbolo: DW. Inc. A empresa era de Victor Ferreira, ex-marido de Denise e pai de Débora. A empresa que tinha implodido anos atrás. O que gerou um escândalo internacional, algo que fez de Victor, um pária. Porém, o lugar parecia bem, bem até demais.

        O segundo era que antes estava em uma floresta. Ela tinha pequenos flashes do que aconteceu no mercado dos servos do Demiurgo. Sabia também que estava no passado. Bem no passado. O mercado do Demiurgo se esconde em lugares do passado. Se não sair pela porta certa, pode se ver bem longe de casa.

        Ela sabia que estava cansada e até desmaiou. O que significava que estava sonhando ou algo do tipo. Mas com a empresa de Victor? Por quê? Ela mal foi lá com o pai na época que existia.

        Agora preste atenção nas regras: Sonhos são visões de outra realidade ou tempo. Significa que você está no corpo da sua duplicada. O sonho não faz sentido? É isso que ocorre quando existem pulos de realidade ou de tempo. Então como se deve comportar quando se tem sonhos lúcidos? Como se nada tivesse acontecido. Tente apenas ir na onda e deixar que o verdadeiro dono controle as ações. E o que ocorre se você tentar quebrar as leis humanas ou da física? No primeiro caso a tua duplicata será presa. Na segunda todos vão ver ela batendo os braços e fingindo ser um beija-flor ou qualquer pássaro. Resumo: não faça gracinhas! Lembre-se: em outra realidade pode ter alguém vendo a sua vida. Não iria querer ser preso ou fingir ser um beija-flor, não né?

        Mas tinha outra coisa errada. Um homem de cabelos loiros claros passou correndo por ela nos corredores brancos e iluminados da empresa. Era como se a Emma nem estivesse ali.

        E por fim ela conhecia o homem. Era Abner. Abner Santos, era o funcionário, que segundo dizia o relatório oficial, destruiu a empresa após roubar informações e dinheiro. Abner jamais foi encontrado pela justiça e seu paradeiro ainda era um grande mistério. Ele também era um frequentador assíduo de sua casa. Um bom homem, diga-se de passagem. Pelo menos ela nunca viu o bandido que diziam que ele era. Mas se era um sonho, então estava em outra realidade e se era um sonho lúcido, não deveria revelar nada.

        A única coisa era que Abner sempre foi meio covarde e medroso. Bom, porém medroso. O que tornava a teoria oficial dele como um vilão, algo bem improvável de se imaginar. Sempre fugindo de inimigos imaginários. Se bem que hoje em dia ela acha que esses inimigos imaginários realmente existiram na vida dele. E talvez ele tenha sido só um bode expiatório para algo que nunca se saberá.

        E lá estava ele fugindo de novo. Emma pensou em gritar para Abner ou algo do tipo, mas achou melhor que deveria fechar os olhos e deixar o corpo da duplicada seguir seu destino. Quando abriu novamente, se viu justamente em frente de Abner.

        O rapaz, com seus quase 30 anos, estava sentado no chão. Sua fisionomia era de pura derrota e sangrava muito.

        — Por favor! Eu peço mais tempo... — Abner tentou falar.