Capítulo VI

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Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!

Admirável gado novo (vida de gado)
Canção de Elba Ramalho e Zé Ramalho

        Emma estava sentada em cima dos calcanhares com as mãos nos joelhos. Ela estava no mesmo lugar onde ocorriam os treinos e contemplava a imagem de uma mulher japonesa saindo de uma caverna e trazendo a luz para todos. Ela sentiu a presença do deus da guerra atrás dela, mas não moveu o rosto da figura.

        — Sabe como se dá o nascimento dos kami na minha cultura? — Ela pergunta. — É uma história longa. O resumo é: eram dois deuses da criação. Um homem e uma mulher. A mulher dá à luz ao fogo, mas morre no parto. O deus homem se enfurece e mata a encarnação do fogo. Depois vai até o mundo dos mortos atrás da amada para trazer de volta. Mas ela come algo de lá e fica presa. Ele fica chocado quando vê a nova forma da amada. A amada não gosta e manda os demônios que nasciam dela para atacar ele. Ele foge e queima os demônios fazendo nascer a morte. Depois vai se purificar nas águas. Da sujeira nascem três kami: Amaterasu, Tsukuyomi e Susanoo. E depois dividiu o mundo entre eles. A deusa Amaterasu ficou com os céus, Tsukuyomi tomou o controle da noite e Susanoo ficou responsável pela tempestade e pelos mares. Por que a trindade sempre faz parte desse nosso mundo?

        — Amaterasu não é uma kitsune? — Ares pergunta.

        — A deusa raposa! A primeira kitsune que se tem notícia. — Emma responde sem tirar os olhos da pintura.

        — E Inari...

        — Amaterasu é uma deusa. Inari é um coletivo de cinco kami.

        — E posso saber o que está pensando em fazer? — Ares quis saber.

        Emma levantou do chão e respirou profundamente. Desde que Nathália foi encontrada as coisas passaram a acontecer rápido demais. Ela se lembrou de três anos atrás quando Ares a encontrou perdida e sozinha. Quando soube a verdade, também soube que tudo iria acabar naquilo. Infelizmente não foi só Ares que a encontrou.

        Quando o mundo foi destruído cinco anos atrás, uma certa figura feminina ruiva vivia olhando para ela. Nunca falava nada, mas sempre encarava ela.

        Um dia soube que era a Morte devido ao fato de ver a atuação dela ao vivo após sofrer uma tentativa de assassinato. Ao perguntar o porquê estava salva, só ouviu um: "eu prometi a sua mãe te proteger com a minha vida. Como se fosse necessário eu prometer."

        A mãe dela... Emma nunca conheceu a própria mãe. Sempre que perguntava para alguém que a conheceu ouvia que era um anjo. E isso não ajudava em nada, já que seu pai dizia que estava mais para um demônio. No fim preferiu ficar com o anjo já que seu pai era um merda.

        — Preciso ver o deus artesão. — Ela respondeu olhando para Ares.

        Ares riu ao ouvir isso.

        — deus artesão? Se fosse em outra época eu diria que Hefesto não gosta muito de mim e que todo mundo sabe que você está muito ligada a mim. Se Hefesto te ver ele vai te matar e enviar a tua cabeça para mim enrolada em um papel presente. Mas devido a tudo que está acontecendo, algo me diz que não é de Hefesto que você fala.

        — Os servos do demiurgo criaram esse lugar, não é?

        — Aí está o que eu temia ouvir.

Conselho dos Deuses - A Maldição De Sísifo Onde histórias criam vida. Descubra agora