Conversei com a cozinheira sobre os hábitos da casa.
Maria pareceu-me boa pessoa e esclareceu-me sobre tudo. Também me pareceu que a relação da mãe de Rodolffo com o pessoal não é lá grande coisa.
- O senhor não é tão esquisito.
Torrada, café com leite, suco e bolo, são o seu café diário.- Corta o bolo. De hoje em diante não há bolo cá em casa a não ser em dias de festa. Substitui por fruta.
- O senhor não gosta.
- Paciência. Não come.
- E a menina Marina também não come fruta só bolo.
- Essa aí que faça o bolo se quizer. A Maria a partir de amanhã só cozinha o que eu pedir. Nem da dona Mariana recebe ordens.
- Não vai dar certo, Juliette.
- Vai sim. Eu ponho e disponho a partir de amanhã. Depois o Rodolffo vem falar consigo.
- Almoço e jantar. O que é habitual?
- Geralmente ninguém almoça. Só jantam.
Só comem carnes, nada de peixe, arroz, batata, massa e alguma salada.- Corta qualquer tipo de carne e peixe.
Fígado à segunda feira e um peixe à quarta.
O resto dos dias só comida vegetariana. Soja, leguminosas, tofu e vegetais.Maria sorria de nervoso.
- Eu não quero assistir a isto, dizia ela.
- Amanhã vamos às compras as duas. Descarta toda a carne e embutidos que houver em casa. Distribui pelo pessoal.
Eu vou elaborar uma ementa para ti.- Eu não sei nada de cozinha vegetariana.
- Não faz mal. Eu vou cozinhar contigo.
- A dona Mariana não vai gostar.
- Faz de conta que ela não existe.
Acordei bem cedo. Teria que me habituar para quando fosse para a empresa.
Quando Maria chegou eu já tinha feito a salada de frutas.
- Vai mesmo fazer isso, Juliette.
- Vou, Maria. Nada de bolinho.
Todos tinham por hábito tomar café na cozinha.
Coloquei a mesa pois Maria disse que estava na hora dele descer.
- Bom dia. Fruta? Maria onde está o bolo?
- Nada de bolo a partir de hoje, respondeu deu Juliette. E aproveitando que está aqui, diga à Maria quem lhe dá ordens a partir de hoje.
- É a Juliette, Maria. A partir de hoje só Juliette, a minha esposa dá ordens cá em casa.
- Esposa? E a dona Mariana?
- Esposa sim. Nós casámos. A dona Mariana não manda nada.
- Eu ouvi bem? O que disseste, Rodolffo?
- Que quem dá ordens nesta casa a partir de hoje é Juliette.
- Não podes estar a falar verdade! O meu café, Maria?
- Está ali tudo. É só pegar e comer. A Maria não vai servir café para ninguém. O do Rodolffo eu mesma preparo.
Marina chegou e foi a mesma fita de dondoca. Marina foi preparar para as duas.
- Não tem bolo?
- A partir de hoje não. A menina precisa de um regime.
- Estás a chamar-me gorda?
- Não. Contribuo para não ficares.
Rodolffo assistia a tudo calado. Pegou na salada de fruta e para espanto de todos, comeu sem barafustar.
Antes de sair entregou a Juliette as chaves de um carro estacionado na entrada.
- Depois trata do registo no teu nome.
Mal ele saiu, Mariana alfinetou Juliette.
- Não penses que vais tomar conta desta casa a teu belo prazer! O meu filho não pensa, mas eu não vou deixar ficar assim, uma assassina a mandar na nossa vida.
- Se preferir eu abro-lhe a porta e a senhora faz-se à vida. Viveu à custa do patife do seu marido e agora do seu filho.
E ainda vamos falar muito sobre esta assassina.E se Rodolffo não disse, eu vou dizer:
A partir de hoje, ninguém arruma os vossos quartos, ninguém lava e passa as vossas roupas. Acabou a mordomia.- Eu vou falar com o meu filho. Se for assim, eu prefiro sair desta casa. Eu nunca precisei disto. Sempre tive criadas para me fazer as coisas.
- Não tem mais e não são criadas, são funcionárias.
- São criadas tal como tu.
- Até pode ser, mas além de ser esposa de Rodolffo, agora esta casa está sobre o meu comando. Quem não gostar a porta é serventia da casa.
- Insolente, disse ela saindo da cozinha.
Maria aproximou-se de Juliette e deu-lhe um abraço.