Cap. VI

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Conversei com a cozinheira sobre os hábitos da casa.

Maria pareceu-me boa pessoa e esclareceu-me sobre tudo. Também me pareceu que a relação da mãe de Rodolffo com o pessoal não é lá grande coisa.

- O senhor não é tão esquisito.
Torrada, café com leite, suco e bolo, são o seu café diário.

- Corta o bolo.  De hoje em diante não há bolo cá em casa a não ser em dias de festa.  Substitui por fruta.

- O senhor não gosta.

- Paciência.  Não come.

- E a menina Marina também não come fruta só bolo.

- Essa aí que faça o bolo se quizer.  A Maria a partir de amanhã só cozinha o que eu pedir.  Nem da dona Mariana recebe ordens.

- Não vai dar certo, Juliette.

- Vai sim.  Eu ponho e disponho a partir de amanhã.   Depois o Rodolffo vem falar consigo.

- Almoço e jantar.  O que é habitual?

- Geralmente ninguém almoça.  Só jantam.
Só comem carnes, nada de peixe, arroz, batata, massa e alguma salada.

- Corta qualquer tipo de carne e peixe.
Fígado à segunda feira e um peixe à quarta.
O resto dos dias só comida vegetariana.  Soja, leguminosas, tofu e vegetais.

Maria sorria de nervoso.

- Eu não quero assistir a isto,  dizia ela.

- Amanhã vamos às compras as duas.  Descarta toda a carne e embutidos que houver em casa.  Distribui pelo pessoal.
Eu vou elaborar uma ementa para ti.

- Eu não sei nada de cozinha vegetariana.

- Não faz mal.  Eu vou cozinhar contigo.

- A dona Mariana não vai gostar.

- Faz de conta que ela não existe.

Acordei bem cedo.  Teria que me habituar para quando fosse para a empresa.

Quando Maria chegou eu já tinha feito a salada de frutas.

- Vai mesmo fazer isso,  Juliette.

- Vou, Maria.  Nada de bolinho.

Todos tinham por hábito tomar café na cozinha.

Coloquei a mesa pois Maria disse que estava na hora dele descer.

- Bom dia. Fruta?  Maria onde está o bolo?

- Nada de bolo a partir de hoje, respondeu deu Juliette.   E aproveitando que está aqui, diga à Maria quem lhe dá ordens a partir de hoje.

- É a Juliette,  Maria.  A partir de hoje só Juliette,  a minha esposa dá ordens cá em casa.

- Esposa?  E a dona Mariana?

- Esposa sim.  Nós casámos.  A dona Mariana não manda nada.

- Eu ouvi bem?  O que disseste, Rodolffo?

- Que quem dá ordens nesta casa a partir de hoje é Juliette.

- Não podes estar a falar verdade!  O meu café, Maria?

- Está ali tudo.  É só pegar e comer.  A Maria não vai servir café para ninguém.  O do Rodolffo eu mesma preparo.

Marina chegou e foi a mesma fita de dondoca. Marina foi preparar para as duas.

- Não tem bolo?

- A partir de hoje não.   A menina precisa de um regime.

- Estás a chamar-me gorda?

- Não.   Contribuo para não ficares.

Rodolffo assistia a tudo calado.  Pegou na salada de fruta e para espanto de todos, comeu sem barafustar.

Antes de sair entregou a Juliette as chaves de um carro estacionado na entrada.

- Depois trata do registo no teu nome.

Mal ele saiu, Mariana alfinetou Juliette.

- Não penses que vais tomar conta desta casa a teu belo prazer!  O meu filho não pensa, mas eu não vou deixar ficar assim, uma assassina a mandar na nossa vida.

- Se preferir eu abro-lhe a porta e a senhora faz-se à vida.  Viveu à custa do patife do seu marido e agora do seu filho.
E ainda vamos falar muito sobre esta assassina.

E se Rodolffo não disse, eu vou dizer:
A partir de hoje, ninguém arruma os vossos quartos, ninguém lava e passa as vossas roupas.  Acabou a mordomia.

- Eu vou falar com o meu filho.  Se for assim, eu prefiro sair desta casa.  Eu nunca precisei disto.  Sempre tive criadas para me fazer as coisas.

- Não tem mais e não são criadas, são funcionárias.

- São criadas tal como tu.

- Até pode ser, mas além de ser esposa de Rodolffo,  agora esta casa está sobre o meu comando.  Quem não gostar a porta é serventia da casa.

- Insolente, disse ela saindo da cozinha.

Maria aproximou-se de Juliette e deu-lhe um abraço.

Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora