- Amor, leva o teu carro que hoje eu vou ter uma reunião com uns clientes após o expediente. Não sei a que horas vou chegar.
- Não precisas de mim?
- Não. Hoje só vamos conversar sobre negócios. Se tudo der certo depois preciso na assinatura dos contratos.
- Vai andando. Eu vou chegar um pouco mais tarde. Não acordei muito bem.
- Queres que cancele e fico contigo em casa?
- Não é preciso. Vou fazer um chá e daqui a pouco chego ao escritório.
- A Maria está a chegar. Qualquer coisa, telefona-me.
Dei um beijo na minha mulher e saí.
Toda a semana passada eu esperei pela visita de minha mãe e minha irmã. Como não apareceram eu entendi que o assunto era dinheiro e isso elas já estavam avisadas que não teriam.
...
Tomei um chá e o meu estômago acalmou. Conversei com Maria sobre o jantar e fui para o escritório, mas no caminho tive a sensação de estar a ser seguida.
Parei em frente a uma farmácia e entrei para comprar um remédio para o enjoo. Paguei e no momento que sai e abri a porta do carro ouvi o roncar de um carro em alta velocidade.
Fechei a porta e não me recordo de mais nada. Acordei no hospital toda dolorida e com um braço engessado.
Rodolffo estava a meu lado segurando a minha mão e com olhos de choro.- O que aconteceu, amor?
- Foste atropelada à porta da farmácia. Tens o braço partido.
Viste quem foi?- Não. Lembro que ouvi um carro em alta velocidade, mas não deu tempo de ver nada.
- A farmácia tem câmaras de vigilância. A polícia já está a analisar as imagens.
- Choraste porquê? É só um braço partido. Logo eu fico bem.
- Não é só o braço, Juliette.
- Então? O que eu tenho mais?
- O nosso bébé. Perdemos o nosso bébé. Tu estavas grávida.
- NÃO!!! - Juliette quis levantar-se e eu impedi-a.
- O meu bébé não.
Abracei-a e chorámos juntos.
- Ainda era muito pequenino. A batida foi forte e tiveste um aborto.
- Eu não sabia que estava grávida. Desculpa. Eu não cuidei dele.
- Calma. Tu não tiveste culpa. Nós vamos saber quem foi e vai ter o castigo que merece.
- Achas que foi de propósito? Eu tive a sensação de ser seguida.
- E não viste o carro?
- Estava longe. Não dava para identificar matrícula nem modelo.
Juliette começou a ficar bastante agitada e eu fui pedir um calmante à enfermeira.
- Ela vai dormir por um bom par de horas. Se precisar de sair pode aproveitar agora.
Saí e fui em direcção à polícia. O delegado disse que já tinha as imagens e queriam que eu as visse também.
Fiquei chocado com o que vi. Nas imagens não só era bem visível o carro, como o condutor e passageiro.
Não é possível uma maldade deste tamanho. A que ponto chega a ganância do ser humano.
Desta vez eu vou até onde for preciso, mas esta maldade vai ter o seu castigo.
A vida da minha esposa é preciosa de mais e assassinaram o meu bébé.
Nunca terão o meu perdão, nunca.
Doutor, eu faço questão de estar presente quando estas pessoas forem detidas.
- Vamos agora mesmo. Pode haver perigo de fuga.
Entrei na viatura do delegado e segui com eles até um endereço que eu conhecia muito bem.