Cap. VII

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Durante o dia Juliette tentou entender como funcionava a casa.

Mariana e Marina tinham saído após o café da manhã.

Juliette logo após elas saírem foi espiolhar os quartos delas.

O de Marina estava uma bagunça de todo o tamanho.  Saiu sem nem fazer a cama.

No de Mariana é que Juliette estava interessada.  Era grande, um grande  closet e uma pequena àrea onde ela tinha uma escrivaninha e computador.   Esta àrea interessou-lhe e muito.

A cama estava feita, mas havia algumas roupas espalhadas pelo chão.   Abriu as gavetas da escrivaninha, deu uma olhada sem mexer e voltou a fechá-las.  Ligou o computador, viu que que não necessitava de pass para entrar.  Voltou a fechá-lo, deixou tudo como estava e saiu.

Arrumou e limpou o quarto de Rodolffo.   O closet estava impecavelmente arrumado.  Fez a cama,  limpou o banheiro e saiu deixando tudo cheiroso.  Com ele, ela não precisava de saber muito.  Há data dos factos era apenas um menino num colégio na Suíça.
No caso se havia um inocente era ele.

Foi com a Maria às compras e experimentar o carro novo.

Levou a tarde a conversar com a Maria.  Havia outra faxineira, mas parece que pediu um tempo para tratar de um familiar doente ou foi despedida uma vez que a faxineira agora era eu.  Maria também não me soube dizer.

- A senhora casou mesmo com o
senhor Rodolffo?

- Casei sim, Maria, mas chama-me só Juliette.

- Que estranho.  Nunca vi um casamento assim.

- Um dia conto-te tudo.  Depois vais perceber.  Vamos lá preparar o jantar.  Hoje vai ser tofu de caril.

- O que é isso?  Ai meu Deus.  Eu não quero ser despedida.

- Só eu te posso despedir.  Eu ensino-te, vá lá.

Fiz todos os preparos para o caril, cortei o tofu e pus a refogar.  Maria fez o arroz e a salada.
Para a sobremesa, mais fruta.  Acabaram os pudins e mousses habituais.

Todos estavam em casa à hora de jantar.

Coloquei as travessas na mesa de apoio, servi o prato de Rodolffo e vi o olhar nojento que as outras duas fizeram ao olhar o prato.

- Que bosta é essa? Pergunta Mariana.

- Caril de tofu.

Os três olharam uns para os outros.

- Não tinha carne? perguntou Rodolffo.

- A ementa semanal está afixada na cozinha para quem quiser ver.

- Eu quero ter carne ao jantar, disse ele.

- Só para lembrar o senhor que uma das cláusulas é que eu ponho e disponho aqui dentro.
Só vai ter fígado uma vez por semana e também um dia de peixe.  Nos demais dias é vegetariano.

- Eu não como isso, diz Marina.

- Nem eu, diz Mariana.

- Problema vosso.  Se não comerem  hoje, será o jantar de amanhã e por aí adiante.

- Rodolffo,  tu vais permitir esta humilhação?

- Vamos provar.  Não podemos dizer que não presta sem provar.

- Bom apetite, disse Juliette e saiu de sorriso de orelha a orelha.

Rodolffo provou o caril.  Comeu uma e outra garfada e olhou para as duas acenando com a cabeça.

- É bom.  Diferente do que estamos habituados, mas é bom.

E assim aconteceu nos dias seguintes.  As dondocas reclamavam, mas no final comiam.  Com as sobremesas foi outra tragédia e então no dia do fígado nem se fala.

Eu até fiz questão de ficar para ver elas engolir o figado com vontade de vomitar.
Rodolffo era o que menos protestava.  Não sei se por conta do contrato ou se por ter vivido grande parte no colégio onde havia de tudo.

Em casa tudo estava do meu jeito.  Eu não me importo de limpar e cozinhar desde que não seja para aquelas duas que viviam reclamando dos quartos não arrumados e as roupas sujas.  Para estas optaram por levar tudo para a lavandaria.
Quando saíam de manhã levavam a roupa suja e ao regressar à tarde já a traziam lavada e passada.

A faxineira não voltou, por isso presumo que Rodolffo a despediu uma vez que eu teria que fazer o trabalho dela. 

Se ele pensa que isso me afecta está enganado.  A minha vida nunca foi de luxo e a prisão deu-me uma capa grossa.


Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora