Eu não entendi nada do que ela disse.
Dei uma olhada no dossier, mas eram muitas páginas.Encerrei o expediente e fui para casa.
- Maria, a Juliette já voltou?
- A Juliette foi embora doutor.
- Embora?
- Sim. Despediu-se de mim de manhã e disse que não voltava.
Subi rápido para o meu quarto, sentei-me na cama e comecei a ler folha por folha.
A cada documento que lia eu sentia um nó no estômago.
Ali estava tudo preto no branco. A Juliette foi só uma vítima e por amor ao pai foi usada e acusada. Olhei para a garantia da transferência e para o documento do divórcio e chorei.
Não é fácil eu chorar, desta vez eu chorei de dor, de raiva, de decepção e de perda.
O que eu fiz com ela não tem perdão.
Maria veio chamar-me para jantar e eu mandei-a para casa. Queria ficar sózinho e extravasar a minha frustração.
Fui ao quarto dela e o que restava era nada. Apenas o cheiro nos seus lençóis. Deitei-me ali tentando absorver todo aquele aroma com medo que ele desaparecesse.
Voltei a chorar e adormeci.Acordei com a tentação de ir procurá-la, mas fui para a empresa.
Entrei directamente na sala do Mário.
- Sabes onde ela está?
- Ela não quer que diga.
- Como ela conseguiu o dinheiro?
- Vendeu a casa de família.
- Ficou sem casa?
- Sem nada. Neste momento tem o carro e o meu ombro amigo.
- Está na tua casa?
- Está, mas não quer ver ninguém. Está muito abalada. A muralha que ela construiu à volta dela acabou de ruir. Só faz é chorar.
- Não vou procurá-la, pelo menos não agora. Ainda preciso assimilar tudo e conversar com algumas pessoas.
- Ela vai processar o Filipe.
- E faz muito bem.
- Obrigada. Sabes quem comprou a casa?
- Sei. Fui eu que fiz a venda.
- Eu quero comprar de volta. Trata disso custe o que custar.
Saí dali e fui para a minha sala. Liguei para a minha mãe. Queria uma reunião com ela, Marina e Filipe esta noite lá em casa.
Não consegui trabalhar e saí do escritório sem destino. Parei à beira mar. O mar sempre me acalmou. O dia estava nebulado e o mar revolto, mas o barulho das ondas era música para mim. Sentei-me numa esplanada vazia a ali fiquei horas.
O bar estava fechado, logo não tinha nada para beber.Voltei para casa. Tomei um banho, comi o jantar do dia anterior e deitei-me no sofá à espera da minha mãe.
Filipe foi o primeiro a chegar e logo de seguida minha mãe e irmã.
Sentei tudo na mesa de jantar.
- A Juliette não está?
- Esquece a Juliette só um minuto.
Vou ser directo. Vou fazer perguntas e quero respostas verdadeiras. Nesta pasta tenho as provas, mas quero a confirmação das vossas bocas.- Mãe, tinhas um caso com o pai da Juliette?
- Que pergunta é essa filho?
- Não mintas. Não me façam perder tempo com rodeios. Tinhas ou não tinhas?
- Tive.
- Foste tu que o retiraste da empresa quando o pai foi assassinado?
- Fui. Ele telefonou a dizer que o ia matar e eu fui lá ter.
- A Marina é filha dele?
- É.
- Sabias?
- Sei desde sempre mano.
- Mãe, subornaste o Filipe para tramar a Juliette?
- Sim, paguei-lhe 300.000 mil reais.
- E tu tens confiança nele para namorares com ele.
- A mãe contou-me. Eu sempre soube.
- E por último por hoje porque ainda há mais, o pai da Juliette deu-te uma propriedade porquê? Era da família.
- Porque eu exigi, pois ele nunca contribuiu com nada para a filha, respondeu a minha mãe.
- E eu vim aqui porquê? Perguntou Filipe.
- Só para teres conhecimento que eu vou apresentar queixa contra ti na ordem dos advogados.
- Não vais fazer isso? Não vais lixar-me a vida.
- Quando lixaste a vida a uma jovem de 18 anos não pensaste nisso. Prepara-te para te defenderes.
- Mandaste a Juliette embora? Podemos voltar para aqui? Lá a casa não é tão confortável.
- Deixem-se estar lá. Depois eu resolvo o que fazer. Amanhã ou depois.
Agora desapareçam da minha frente.