Cap. XVII

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Eu não entendi nada do que ela disse.
Dei uma olhada no dossier, mas eram muitas páginas.

Encerrei o expediente e fui para casa.

- Maria,  a Juliette já voltou?

- A Juliette foi embora doutor.

- Embora?

- Sim.  Despediu-se de mim de manhã e disse que não voltava.

Subi rápido para o meu quarto, sentei-me na cama e comecei a ler folha por folha.

A cada documento que lia eu sentia um nó no estômago.

Ali estava tudo preto no branco.  A Juliette foi só uma vítima e por amor ao pai foi usada e acusada. Olhei para a garantia da transferência e para o documento do divórcio e chorei.

Não é fácil eu chorar, desta vez eu chorei de dor, de raiva,  de decepção e de perda.

O que eu fiz com ela não tem perdão.

Maria veio chamar-me para jantar e eu mandei-a para casa.  Queria ficar sózinho e extravasar a minha frustração.

Fui ao quarto dela e o que restava era nada.  Apenas o cheiro nos seus lençóis.   Deitei-me ali tentando absorver todo aquele aroma com medo que ele desaparecesse.
Voltei a chorar e adormeci.

Acordei com a tentação de ir procurá-la, mas fui para a empresa.

Entrei directamente na sala do Mário.

- Sabes onde ela está?

- Ela não quer que diga.

- Como ela conseguiu o dinheiro?

- Vendeu a casa de família.

- Ficou sem casa?

- Sem nada.  Neste momento tem o carro e o meu ombro amigo.

- Está na tua casa?

- Está, mas não quer ver ninguém.  Está muito abalada.  A muralha que ela construiu à volta dela acabou de ruir.  Só faz é chorar.

- Não vou procurá-la, pelo menos não agora.  Ainda preciso assimilar tudo e conversar com algumas pessoas.

- Ela vai processar o Filipe.

- E faz muito bem.

- Obrigada.  Sabes quem comprou a casa? 

- Sei.  Fui eu que fiz a venda.

- Eu quero comprar de volta.  Trata disso custe o que custar.

Saí dali e fui para a minha sala.  Liguei para a minha mãe.   Queria uma reunião com ela, Marina e Filipe esta noite lá em casa.

Não consegui trabalhar e saí do escritório sem destino.  Parei à beira mar.  O mar sempre me acalmou.  O dia estava nebulado e o mar revolto, mas o barulho das ondas era música para mim.   Sentei-me numa esplanada vazia a ali fiquei horas.
O bar estava fechado, logo não tinha nada para beber.

Voltei para casa.  Tomei um banho, comi o jantar do dia anterior e deitei-me no sofá à espera da minha mãe.

Filipe foi o primeiro a chegar e logo de seguida minha mãe e irmã.

Sentei tudo na mesa de jantar.

- A Juliette não está?

- Esquece a Juliette só um minuto.
Vou ser directo.  Vou fazer perguntas e quero respostas verdadeiras.  Nesta pasta tenho as provas, mas quero a confirmação das vossas bocas.

- Mãe, tinhas um caso com o pai da Juliette?

- Que pergunta é essa filho?

- Não mintas.   Não me façam perder tempo com rodeios.  Tinhas ou não tinhas?

- Tive.

- Foste tu que o retiraste da empresa quando o pai foi assassinado?

- Fui.  Ele telefonou a dizer que o ia matar e eu fui lá ter.

- A Marina é filha dele?

- É.

- Sabias?

- Sei desde sempre mano.

- Mãe, subornaste o Filipe para tramar a Juliette?

- Sim, paguei-lhe 300.000 mil reais.

- E tu tens confiança nele para namorares com ele.

- A mãe contou-me.  Eu sempre soube.

- E por último por hoje porque ainda há mais, o pai da Juliette deu-te uma propriedade porquê?  Era da família.

- Porque eu exigi, pois ele nunca contribuiu com nada para a filha, respondeu a minha mãe.

- E eu vim aqui porquê? Perguntou Filipe.

- Só para teres conhecimento que eu vou apresentar queixa contra ti na ordem dos advogados.

- Não vais fazer isso?  Não vais lixar-me a vida.

- Quando lixaste a vida a uma jovem de 18 anos não pensaste nisso.  Prepara-te para te defenderes.

- Mandaste a Juliette embora?  Podemos voltar para aqui?  Lá a casa não é tão confortável.

- Deixem-se estar lá.  Depois eu resolvo o que fazer.  Amanhã ou depois.
Agora desapareçam da minha frente.

Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora