Cap. III

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Juliette saiu da prisão num dia cinzento e nebulado.

À saída não tinha ninguém que a esperasse.   Elevou os olhos ao céu e chorou.
Não foi de tristeza, porque essa ela deixou para trás.  Foi pela sensação de liberdade, por poder respirar o mesmo ar que os comuns mortais.

Aonde iria agora? Deu consigo a fazer essa pergunta.  Da mãe não sabia nada, o pai morreu, amigos....ah, amigos!  Se algum dia os teve já nem lembra.

Decidiu ir ver a sua casa.  Sim a casa era da família.  Isso o pai conseguiu proporcionar.

Chegou na entrada e tudo estava igual.  Dona Berta, uma vizinha vinha a sair de sua casa.
Assim que a viu juntou as mãos em oração.

- Graças a Deus, minha filha.  Como estás, Juliette?

- Estou bem Dona Berta, mas o que faz na minha casa?

- Cuido da tua mãe que está muito mal.  Tem mais de um ano que não sai da cama.  Se mão fosse eu ela já não estaria connosco.

- O que ela tem?  E porque não me mandou dizer que estava doente?

- Ela não deixou.  Não queria que tu sofresses  mais.  Ela precisa de um grande tratamento mas não tem dinheiro.

Entrei em casa e lá estava minha mãe deitada no sofá.  Dona Berta levanta-a da cama todos os dias, mas depois fica deitada no sofá.

Abracei a minha mãe e juntas chorámos.  Pediu-me perdão várias vezes por ter desaparecido.

Eu quis saber tudo da doença dela e ia  arranjar o dinheiro necessário para o tratamento.

Dona Berta pôs-me a par de toda a situação bem como da precária situação financeira.
Não tínhamos nada.  As despesas básicas há muito que deixaram de ser pagas.  Àgua ainda há, porque Benta fez uma vaquinha para quem pudesse ajudar.

Essa noite depois de muito conversar eu tive dificuldade em adormecer.

Preciso de um trabalho urgente.  Agora sou formada, mas quem dá emprego a uma ex presidiária.  Isso era um ponto negativo no meu currículo.

Ainda tenho umas contas a ajustar.  Primeiro com o advogado que defendeu o meu caso.  Ainda vou provar o suborno que ele recebeu da parte da família Guerra para que a tentativa de ataque sexual fosse ignorada na argumentação.   Eu fui encontrada com a faca na mão e isso foi suficiente para ser condenada.

Levantei-me depois de uma noite sem dormir,  cuidei de minha mãe e foi dizer a dona Berta que ia tentar falar com o médico no hospital.

Verifiquei alguns anúncios de emprego e a resposta era sempre a mesma:
De momento já não necessitamos.  Deixe o seu contacto.

Entrei numa firma de advogados e entreguei o meu CV.  Eu não tenho por hábito mentir, então tudo estava escrito ali.  Quem me quisesse contratar deveria saber do meu passado.

Depois de conversar com o médico assistente de minha mãe fui informada da quantia necessária para o seu internamento e tratamento.  Era um valor astronómico e ainda sem garantia de sucesso.

Voltei bem desanimada para casa, mas não demonstrei em frente à minha mãe.
Mesmo na hipótese de hipotecar a casa, o valor não chegava, e ainda precisava de um emprego.

O ódio que eu sentia da família Guerra por vezes não me deixava raciocinar.  Comecei a pesquisar como eles viviam actualmente e quem chefiada a empresa.

Na altura que eu trabalhava lá eu só
conhecia o Eduardo, meu patrão e a esposa Mariana de vista.  Falavam que tinham um casal de filhos, mas nunca os vi.

Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora