Terminei a limpeza da sala e quando ia sair dou de caras com o estrupício do advogado que me defendeu.
- Olha, olha! Quem diria que acabavas a trabalhar na empresa do homem que assassinaste? Estás bonita. A prisão fez-te bem.
- Cuide-se para não ir lá parar também.
- Ah, Juliette. Olha para ti e olha para mim.
- Juliette não. Para si doutora Juliette.
- Doutora de vassoura na mão?
- De vassoura com muita honra. Pelo menos trabalho honestamente, não é como uns que são subornados para não fazerem o trabalho que lhes compete.
- Estás a insinuar o quê? Que eu me deixo subornar?
- A insinuar não. A afirmar e cuide para que eu não arranje provas porque da próxima vez que estivermos em tribunal, estaremos sentados em lugares opostos.
- Ah, ah! Deixa-me rir. É sério essa história de advogada?
- Vai pqp. Não vou desperdiçar o meu tempo com gente escrota.
Juliette saiu deixando Filipe sem reacção.
Rodolffo assistiu àquele embate sem abrir a boca. Queria ver até onde os dois iriam.
- É sério que tens gente desta a trabalhar aqui? Ela assassinou o teu pai, Rodolffo!
- E onde entras tu na história?
- Fui nomeado defensor dela.
- E porque é que ela te acusa de suborno?
- Não faço a mínima ideia. Talvez porque ela foi condenada e acusa-me de não ter feito o meu trabalho bem.
Mas, ainda não me disseste porque ela está aqui a trabalhar.- Ela é minha esposa.
- O quê? Estás doido?
- Pensei que a minha irmã já tinha contado.
- Nós não andamos bem. Não temos falado. Era por isso que eu vinha falar contigo. Fala com a tua irmã.
- Ela não está cá. Foi de viagem com a minha mãe, mas eu não me quero meter no vosso relacionamento.
Quanto à Juliette, ela trabalha aqui e pronto. Não quero discutir esse assunto.Juliette saiu dali e foi chamada para levar café ao gabinete do doutor Mário.
- Bom dia doutor.
- Bom dia doutora. Como está hoje.
- Bem. Aqui tem o seu café. Sem açúcar como eu já sei que gosta.
- Desculpe, doutora. Eu fico sempre constrangido com esta situação.
- Não fique. Qualquer trabalho é digno. Eu faço com alegria apesar das circunstâncias.
- Eu vejo que sim, mas não entendo.
- E quer entender?
- Quero.
- Doutor Mário. O senhor é o único que demonstra alguma consideração por mim e eu preciso da sua ajuda.
- Diga. Eu ajudo no que puder.
- Aqui não. Podemos encontrar-nos no Domingo? É o único dia em que posso sair de casa sem horas de voltar.
- Vive prisioneira?
- Não exactamente. Onde acha melhor o encontro?
- Pode ser em minha casa. Moro eu e meu companheiro. Aliás, venha almoçar connosco e depois conversamos.
- Obrigada. Depois sexta dá-me a sua morada. Mantenha isto em segredo por favor. Não que eu deva justificar as minhas saídas, mas não quero falatório.
- Esteja descansada. Falamos depois, e obrigada pelo café.
Juliette saiu dali satisfeita. Era mais um passo dado.
Ao final da tarde, todo o mundo saindo, Juliette iniciava a limpeza dos gabinetes.
Ao passar pelo de Rodolffo ouviu vozes e ficou a ouvir através da porta.- Já disse que não quero sair, dizia ele.
- Mas é só um copo, ou prefere jantar lá em casa?
- Nem uma coisa nem outra. Eu sou casado.
- E daí? A faxineira com certeza não o satisfaz. Por isso colocou ela neste trabalho.
- Não fales do que não sabes. Podes sair que já todos foram embora e eu não quero que interpretem outras coisas.
Juliette afastou-se da porta em direcção à saída a tempo de se cruzar e ver a cara daquela que tentava seduzir Rodolffo.
Ao passar por ela olhou-a com desdém, mas como Juliette estava de vassoura na mão e já todos sabiam do seu feitio, resolveu seguir caminho e não dizer nada.