Cap. XI

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Terminei a limpeza da sala e quando ia sair dou de caras com o estrupício do advogado que me defendeu.

- Olha, olha!  Quem diria que acabavas a trabalhar na empresa do homem que assassinaste?  Estás bonita.   A prisão fez-te bem.

- Cuide-se para não ir lá parar também.

- Ah, Juliette.   Olha para ti e olha para mim.

- Juliette não.   Para si doutora Juliette.

- Doutora de vassoura na mão?

- De vassoura com muita honra.  Pelo menos trabalho honestamente, não é como uns que são subornados para não fazerem o trabalho que lhes compete.

- Estás a insinuar o quê?  Que eu me deixo subornar?

- A insinuar não.  A afirmar e cuide para que eu não arranje provas porque da próxima vez que estivermos em tribunal, estaremos sentados em lugares opostos.

- Ah, ah!  Deixa-me rir.  É sério essa história de advogada?

- Vai pqp.  Não vou desperdiçar o meu tempo com gente escrota.

Juliette saiu deixando Filipe sem reacção.

Rodolffo assistiu àquele embate sem abrir a boca.  Queria ver até onde os dois iriam.

- É sério que tens gente desta a trabalhar aqui?  Ela assassinou o teu pai, Rodolffo!

- E onde entras tu na história?

- Fui nomeado defensor dela.

- E porque é que ela te acusa de suborno?

- Não faço a mínima ideia.  Talvez porque ela foi condenada e acusa-me de não ter feito o meu trabalho bem.
Mas, ainda não me disseste porque ela está aqui a trabalhar.

- Ela é minha esposa.

- O quê?  Estás doido?

- Pensei que a minha irmã já tinha contado.

- Nós não andamos bem.  Não temos falado.  Era por isso que eu vinha falar contigo.  Fala com a tua irmã.

- Ela não está cá.   Foi de viagem com a minha mãe,  mas eu não me quero meter no vosso relacionamento.
Quanto à Juliette,  ela trabalha aqui e pronto.  Não quero discutir esse assunto.

Juliette saiu dali e foi chamada para levar café ao gabinete do doutor Mário.

- Bom dia doutor.

- Bom dia doutora.  Como está hoje.

- Bem.  Aqui tem o seu café.  Sem açúcar como eu já sei que gosta.

- Desculpe, doutora.  Eu fico sempre constrangido com esta situação.

- Não fique.  Qualquer trabalho é digno.  Eu faço com alegria apesar das circunstâncias.

- Eu vejo que sim, mas não entendo.

- E quer entender?

- Quero.

- Doutor Mário.  O senhor é o único que demonstra alguma consideração por mim e eu preciso da sua ajuda.

- Diga.  Eu ajudo no que puder.

- Aqui não.   Podemos encontrar-nos no Domingo?  É o único dia em que posso sair de casa sem horas de voltar.

- Vive prisioneira?

- Não exactamente.  Onde acha melhor o encontro?

- Pode ser em minha casa.  Moro eu e meu companheiro.  Aliás, venha almoçar connosco e depois conversamos.

- Obrigada.  Depois sexta dá-me a sua morada.  Mantenha isto em segredo por favor.  Não que eu deva justificar as minhas saídas, mas não quero falatório.

- Esteja descansada.  Falamos depois, e obrigada pelo café.

Juliette saiu dali satisfeita.   Era mais um passo dado.

Ao final da tarde, todo o mundo saindo, Juliette iniciava a limpeza dos gabinetes.
Ao passar pelo de Rodolffo ouviu vozes e ficou a ouvir através da porta.

- Já disse que não quero sair, dizia ele.

- Mas é só um copo, ou prefere jantar lá em casa?

- Nem uma coisa nem outra.  Eu sou casado.

- E daí?  A faxineira com certeza não o satisfaz.  Por isso colocou ela neste trabalho.

- Não fales do que não sabes.  Podes sair que já todos foram embora e eu não quero que interpretem outras coisas.

Juliette afastou-se da porta em direcção à saída a tempo de se cruzar e ver a cara daquela que tentava seduzir Rodolffo.

Ao passar por ela olhou-a com desdém, mas como Juliette estava de vassoura na mão e já todos sabiam do seu feitio, resolveu seguir caminho e não dizer nada.

Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora